Entenda como uma carta dos pilotos ajudou a mudar a F1, levando à criação do novo regulamento

Alex Wurz, presidente da GPDA, revelou como que um pedido dos pilotos foi o pontapé inicial da nova era que a categoria entra em 2022

Lance Stroll, Aston Martin AMR22

Quando os carros de 2022 da Fórmula 1 entrarem na pista de Barcelona nesta quarta (23), marcará o início oficial de uma nova era, que todos esperam ser emocionantes. Um dos principais motivadores por trás dos novos modelos, com o retorno do efeito solo, é melhorar as corridas, com um dos chefes da categoria esperando que batalhas emocionantes se convertam em audiências maiores.

Mas no centro de todas estas mudanças está algo ainda mais importante: produzir um esporte que seja emocionante para os próprios pilotos. Porque eles, junto dos fãs, nunca gostaram de andar em carros que são tão difíceis de ultrapassar.

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Na verdade, ao olhar para as origens de como os chefes da F1 elegeram adotar uma mudança completa do regulamento, é possível destacar que um dos catalisadores por trás de tudo isso está um pedido feito pelos próprios pilotos.

Foi a Associação de Pilotos de Grandes Prêmios (GPDA, em inglês), sob a presidência do ex-F1 Alex Wurz, que se uniu e redigiu uma carta aos diretores da Liberty Media pouco após assumirem o comando da F1, em 2017.

Na carta, como Wurz explica, foi enfatizado o fato de que a velha filosofia de aerodinâmica da F1 era a inimiga da pilotagem próxima, algo que precisava ser resolvido para melhorar e crescer o esporte.

"Nós (a GPDA) trabalhamos em um documento a ser apresentado aos novos donos e coincide perfeitamente com a chegada de Ross [Brawn] e Pat [Symonds]", explicou Wurz nesta semana, refletindo sobre as origens da busca pelo novo regulamento.

"Sabíamos que haveria uma chance de iniciar e apoiar mudanças, então mandamos nossa carta à Liberty, equipes e FIA, pedindo um estudo para mudar as regras de aerodinâmica. Pedimos a eles para estudarem o abandono do principal conceito de sensibilidade no fluxo da asa dianteira, movendo para uma plataforma aerodinâmica mais robusta, o que ajudaria os pilotos a seguirem uns aos outros com maior proximidade".

Wurz, que é muito conhecido por suas qualidades técnicas e visões analíticas do esporte, sabia que uma abordagem científica era necessária para ajudar a F1 a escolher o caminho certo para corridas melhores.

Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1 and Alex Wurz

Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1 and Alex Wurz

Photo by: Simon Galloway / Motorsport Images

"O ar atrás de um carro de corrida é turbulento", disse. "Isso resulta no carro atrás simplesmente perdendo aderência e a capacidade de pilotar rápido quando está próximo do competidor da frente. É por isso que a aerodinâmica vem sendo um inimigo de ultrapassagens e disputas na pista há décadas".

"Ao longo dos anos, o esporte tentou criar soluções. Mas essas acabaram sendo apenas tapa-buracos, e não conceitos sistematicamente desenvolvidos. A carta dos pilotos não foi um trabalho científico, mas sim um pedido claro e forte à F1 para ser confiante em sua própria busca para ajudar o esporte".

"Portanto, eu acredito que o novo regulamento é um grande exemplo das quatro principais forças do esporte [F1, FIA, equipes e GPDA] se aliando e trabalhando juntos em objetivos de médio e longo prazos, que são diferentes das próprias agendas de cada equipe".

"Porém, enquanto tenho certeza de que o novo regulamento é uma direção muito boa, também precisamos ser realistas sobre o que podemos esperar ou não agora".

Esse comentário final é importante, porque Wurz entende que é irrealista esperar que o regulamento de 2022 entregue todos os resultados esperados já na primeira corrida. Ele acredita que é preciso ter um período de calma, onde o grid possa se compactar após o que deve ser um início bem díspare.

Além disso, com ele bem ciente da qualidade dos pilotos, ele acredita que ultrapassar nunca será algo super fácil.

"Com os melhores pilotos competindo entre si e cometendo poucos erros, além da performance dos carros ser mais igual ultrapassar será obviamente difícil. Espero que ninguém espere ver centenas de manobras a cada corrida. Mas, a longo prazo, veremos um grid mais compacto e corridas naturalmente melhores".

"Uma ultrapassagem sempre será um ato de bravura e habilidades, e é por isso que amamos uma ultrapassagem natural e boa mais do que dez ou mais com a ajuda do DRS...".

Lando Norris, McLaren MCL36

Lando Norris, McLaren MCL36

Photo by: McLaren

"Porém, acho que inicialmente o grid estará mais espaçado nos tempos de volta, um efeito comum de novos regulamentos. Uma equipe inevitavelmente encontrará o melhor caminho nas regras mais rápido do que os outros. Mas mesmo que tenhamos um grid assim em 2022, estou certo de que o novo regulamento é chave para um futuro melhor para a F1".

"Assim que todas as equipes entendam o regulamento, teremos um grid mais compacto e corridas mais próximas. Por isso que a perspectiva das novas regras é muito emocionante, se mantivermos o realismo e a paciência".

Mas além de uma era mais emocionante para os pilotos se o grid for mais compacto e as corridas melhores, Wurz pensa que haverá outros benefícios não-intencionais em outras áreas que podem transformar a natureza das corridas de F1.

"Se todo o grid estiver mais próximo, aí as estratégias no geral serão mais difíceis de prever. Anteriormente, as equipes da ponta sabiam que teriam uma janela segura para parar após 15 ou 20 voltas devido à suas performances superiores".

"Agora, se essa janela nunca abrir, planejar a estratégia passará a ser mais complexa e imprevisível. E isso é um bom efeito colateral. E tudo isso casa com o ponto-chave que os pilotos sempre pediram: garantir que a F1 seja um esporte e não um show manipulado".

"Quanto mais próximo o grid estiver, mais sucesso a F1 terá. É algo que vimos com o incrível crescimento de popularidade já visto graças a outros fatores, como a inclusão no mundo das mídias sociais, produtos midiáticos alternativos e deixar os pilotos serem estrelas".

Agora, todos os olhos estão voltados para o que será visto na pista em 2022.

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Jonathan Noble
Fórmula 1
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