Opinion

ANÁLISE: Regulamento de 2027 mudará MotoGP para o bem ou para o mal?

Após meses de discussão sobre o regulamento de 2027, a versão final foi apresentada nesta semana. Com mudanças radicais na mesa, várias questões surgem sobre o futuro da categoria

Pedro Acosta, Red Bull GASGAS Tech3 leads start

Foto de: Gold and Goose / Motorsport Images

Quando a temporada 2027 da MotoGP chegar, terão se passado 10 anos desde a última grande mudança no regulamento, em 2016. Neste ano, vimos a culminação do plano de mestre da Dorna Sports para aumentar o grid e a competitividade de uma categoria afetada pelas consequências da crise econômica de 2008.

O que começou com a introdução radical de um conjunto de regras baseado na produção com a classe CRT (Claiming Rules Team) em 2012 para funcionar ao lado dos protótipos atuais, terminou com a finalização do regulamento para a adoção da eletrônica na MotoGP.

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Provar às dominantes marcas japoneses dominantes que havia mais valor num campeonato que estava bem em abandonar o seu espírito de “verdadeiros protótipos” para impulsionar o espectáculo na pista continua a ser, sem dúvida, a maior conquista do CEO da Dorna, Carmelo Ezpeleta.

Antevendo esse novo regulamento, Suzuki e Aprilia retornaram à MotoGP em 2015. Em 2016, a Suzuki já era novamente uma vencedora. E a Ducati também encerrou uma seca nesta fase, vencendo pela primeira vez desde 2010. Em 2017, a KTM se uniu à festa. E na terceira etapa de 2022, todas as seis montadoras já eram vencedoras.

Para ajudar, o auxílio financeiro para as equipes satélites, unido a uma escolha maior da força do maquinário fez com que equipes não-oficiais tornassem ameaças reais. Desde 2020, um piloto de satélite terminou no top 3 do campeonato em três dos últimos quatro anos (Franco Morbidelli em 2020, Enea Bastianini em 2022 e Jorge Martín em 2023). Equipes satélites são uma opção tão viável agora que Marc Márquez julgou ser melhor andar com uma Ducati de 2023 na Gresini do que na Honda de 2024.

O que começou em 2016 levou ao domínio das europeias, com Honda e Yamaha sofrendo para se encontrar enquanto a Suzuki deixou a categoria no fim de 2022. O regulamento das concessões foi reintroduzido para ajudá-las, mas o reinício marcado pelas regras de 2027 - capitaneado pelos motores de 850cc em relação aos atuais de 1000cc - marca a melhor oportunidade de retorno à frente.

Porém, se esse é o plano de Honda e Yamaha, este pode ser uma total loucura.

Honda nailed it with the 2002 regulation changes

Honda nailed it with the 2002 regulation changes

Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images

A Honda acertou em cheio a primeira grande mudança da era MotoGP em 2002, com a introdução dos motores 990cc quatro tempos no lugar dos 500cc dois tempos graças à RC211V. Candidata à melhor moto da história, a Honda dominou em 2002 e 2003, com mais um título em 2006.

Porém, a mudança para motores 800cc em 2007 pegou a Honda de surpresa. Seu motor não era potente o suficiente, enquanto seus pilotos sofreram com a dianteira da moto. Demorou até julho daquele ano para a marca vencer uma corrida. A Yamaha foi um pouco melhor, mas não teve como superar a dupla Casey Stoner / Ducati. As coisas melhoraram levemente para a Honda em 2008 e 2009, mas não foi suficiente, enquanto uma lesão de Dani Pedrosa em 2010 atrapalhou seus planos. A Honda foi a campeã em 2011, mas Stoner fez a maior diferença.

Com a mudança para as motos 1000cc em 2012, a Honda sofreu muito com a mudança no peso mínimo e o pneu dianteiro da Bridgestone, que causou problemas de vibração. Stoner e Pedrosa eram fortes na moto, mas sem comparação à consistência de Jorge Lorenzo com a Yamaha.

A Honda abraçou Marc Márquez para 2013 e ele, assim como Stoner, puderam superar muitos dos problemas da RC213V, com a moto tornando-se ainda mais desafiadora com a mudança no regulamento de 2016. E, em 2024, a marca está no fundo do poço.

Mudanças na cultura da Yamaha devem beneficiar mais a Yamaha com as regras de 2027, mas ainda é preciso fazer mais, o que foi prometido para convencer Fabio Quartararo a renovar até o fim de 2026. Já a Honda não está andando em 2024, e nada nos bastidores sugere que irá mudar a mentalidade que a colocou neste buraco em primeiro lugar.

A história já provou que a Honda sofre em grandes mudanças no regulamento. E considerando o cenário competitivo atual, uma mudança repentina é improvável. Mesmo o processo de nivelar o grid de 2026 foi mais gradual, permitindo que a Ducati entrasse na briga.

E isso leva à segunda questão de 2027: estaria ameaçado o domínio da Ducati?

Could Ducati be dethroned from the top of the MotoGP table?

Could Ducati be dethroned from the top of the MotoGP table?

Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images

Com um ano recorde de vitórias e pódios em 2023, o domínio segue em 2024. Até aqui, são três vitórias em quatro GPs para a Ducati. Aprilia e KTM são fortes, mas inconsistentes, enquanto Yamaha e Honda estão em sua batalha privada para não ficarem em último.

Esforços fora feitos para frear a Ducati com o sistema de concessões mas, até agora, elas tiveram pouco efeito. O regulamento de 2027, que bane dispositivos de ajuste de altura e que restringem desenvolvimentos aerodinâmicos sem dúvida irritará a Ducati, mesmo que tenha ajudado a moldar as novas regras junto com as outras montadoras. Mas a Ducati provou ser mais inteligente que as demais no departamento aerodinâmico. Por isso, fica difícil de conceber uma perda de vantagem.

A mudança para os motores 850cc devem, em teoria, tornar a categoria mais relevante em relação às motos de rua, algo que deixará as montadoras europeias particularmente felizes. Com a MotoGP tendo apenas cinco marcas após a saída da Suzuki, há vagas guardadas para uma sexta montadora.

Com isso, as atenções estão voltadas para a BMW. A montadora alemã se beneficia muito através de sua parceria com a MotoGP para o fornecimento de carros e mais, então gastar dinheiro de fato com um programa seria um salto gigantesco.

Nos últimos meses, a BMW não descarta a ideia de entrar na MotoGP, mesmo sem ter tido um papel no novo regulamento. A proibição dos dispositivos de ajuste de altura e as restrições aerodinâmicas 'enforcam' uma área de desenvolvimento que a BMW - e qualquer outra montadora em potencial - poderiam se beneficiar, deixando-as atrás das marcas já existentes.

Mas, agora, ela está curtindo o sucesso no Mundial de Superbike com Toprak Razgatlioglu, gastando muito menos nesse projeto. Por isso, apenas o regulamento de 2027 não é suficiente - mesmo com uma relevância maior para as motos de rua.

The announced changes will not be enough to tempt BMW into MotoGP

The announced changes will not be enough to tempt BMW into MotoGP

Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images

Enquanto a entrada de uma nova montadora melhoraria o perfil do campeonato, o elemento-chave do regulamento de 2027 é que a já boa corrida se mantém intacta. A manobra para proibir os dispositivos de altura e o limite aerodinâmico foi colocado para obter esse resultado. Nos últimos anos, vários pilotos vêm falado sobre como eles têm perdido importância em cima da moto por causa destes.

Isso, junto com o fato de que a aerodinâmica em excesso dificulta as ultrapassagens, vem atingindo o espetáculo. Enquanto as corridas ainda são boas, na verdade elas podem ser ainda melhor. Então reduzindo a aerodinâmica e proibindo os dispositivos, a MotoGP realmente ajudará neste sentido, sem mencionar que tornará a categoria mais segura. Esse é um fator-chave por trás dos motores 850cc.

Agora, excedendo facilmente velocidades de 350km/h, a MotoGP cresceu para além de vários circuitos por onde passa. No ano passado, por vários motivos, nenhuma corrida contou com todo o grid titular de 2023. Reduzir a velocidade das motos não terá nenhum impacto notável na natureza visceral da MotoGP, menor do que seria estragar pistas clássicas para acomodar as motos.

No incrível GP da Espanha do último fim de semana, foi provado que pistas assim devem seguir no calendário.

A preocupação com a fórmula das 850cc é que podemos ver o retorno dos problemas que vimos na era das 800cc. Esses motores tinham menos torque que os de 990 e aceleravam muito mais. Então, a configuração de saída de curva tinha que ser feita com muita velocidade no meio da curva. Isso tornou as ultrapassagens muito mais difíceis, enquanto os 800cc levaram a algumas quedas violentas. Porém, mudanças nas caixas de câmbio e outras alterações nos motores devem evitar isso.

Enquanto muitos criticarão o fato da MotoGP estar colocando ainda mais restrições em seu maquinário, fica claro que, enquanto as corridas ainda não boas, as motos atuais precisam mudar pelo bem do campeonato.

Change is coming and, hopefully, for the better

Change is coming and, hopefully, for the better

Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images

TIRO NO PÉ? MotoGP mexe em motor, aerodinâmica e mais para 2027: FAUSTO analisa | Prévia de Le Mans

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