Análise

ANÁLISE: O que a telemetria diz sobre a vantagem da Red Bull no começo da F1 2023?

A principal dúvida que corre pelo paddock da F1 é: onde está o ponto fraco do RB19?

Max Verstappen, Red Bull Racing RB19

Foto de: Zak Mauger / Motorsport Images

Não há dúvidas de que a Red Bull tem o carro mais rápido da Fórmula 1 no momento. E uma olhada mais a fundo nos dados revela exatamente onde que o RB19 tem sido tão forte e, talvez mais problemático para seus rivais, onde que os demais carros estão devendo.

Vamos para os instantes antes que Kevin Magnussen enfie o carro no muro na volta 54 de 58 do GP da Austrália de 2023. A borracha que ficou pela pista causa uma segunda bandeira vermelha, criando caos. De qualquer jeito, neste momento, Max Verstappen lidera com quase 8s5 para Lewis Hamilton. Essa vantagem coloca a Red Bull bem à frente de qualquer rival na temporada até aqui.

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Bicampeão reinante, Verstappen venceu o GP do Bahrein à frente de Sergio Pérez, enquanto Fernando Alonso foi o melhor colocado entre pilotos não-Red Bull. Ele cruzou a linha de chegada 38s637 atrás do holandês. Já Pérez inverteu a situação na Arábia Saudita, triunfando enquanto Alonso novamente foi o melhor do resto, ficando a 20s728.

Acrescente essas duas vantagens ao domínio apresentado por Verstappen em Melbourne e a Red Bull possui uma vantagem cumulativa de 01min07s718 neste começo de campeonato com 100% de aproveitamento. Essa soma é quase 3s maior que a pole de Verstappen no GP da Áustria de 2022, 01min04s984.

Claro, o GP em Melbourne acabou bem diferente, com o safety car, dando a Verstappen apenas 0s179 para Hamilton. Mesmo assim, o começo voador feito pela Red Bull ficou claro para todos. E se não tivéssemos as bandeiras vermelhas na Austrália, ou se Pérez não tivesse errado na largada em Jeddah, essa diferença teria sido muito maior. 

O CEO da F1, Stefano Domenicali, vem insistindo que os novos fãs não se irritam por esse tipo de domínio, e que outras equipes vão alcançar a Red Bull. Isso parece quase que inevitável, mas o time austríaco pode até bater a marca da McLaren de 1988, que venceu 15 dos 16 GPs daquele ano. Mas um olhar mais próximo na origem do poder do RB19 mostra que a derrota pode estar, na verdade, meio longe. 

A Aston Martin é o pacote surpresa de 2023, subindo de sétimo para segundo no Mundial de Construtores. Mas Alonso afirma que ainda é preciso uma ajuda da Red Bull para que o time de Silverstone vença, seja uma punição, erro de pitstop ou problemas de confiabilidade. Apenas em mérito, a performance do AMR23 não é suficiente.

Max Verstappen, Red Bull Racing RB19, Carlos Sainz, Ferrari SF-23, Fernando Alonso, Aston Martin AMR23

Max Verstappen, Red Bull Racing RB19, Carlos Sainz, Ferrari SF-23, Fernando Alonso, Aston Martin AMR23

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

Toto Wolff, chefe da Mercedes, já prometeu uma mudança no conceito do W14 apesar do bom rendimento de George Russell e Hamilton na Austrália. Mesmo assim, a Mercedes já havia notado, antes mesmo do início do campeonato, que precisava mudar o direcionamento do carro para voltar a lutar por vitórias. As peças já estão sendo testadas para fazerem sua estreia em Ímola. Mas não esperem uma volta por cima "miraculosa".

E tem a Ferrari, a principal rival da Red Bull no ano passado. No começo, o novo chefe, Frédéric Vasseur, tinha um discurso diferente dos pilotos, falando que os ajustes ao carro seriam mais importantes que as atualizações para serem competitivos. Mas a situação mudou. Enquanto o carro B foi descartado, Vasseur vem falando sobre uma série de atualizações que virão no Azerbaijão e em Ímola e Barcelona.

Mas ele também afirma que as três primeiras corridas do ano, e Baku, não seriam pistas favoráveis ao SF-23. O asfalto do Bahrein é abrasivo demais, Jeddah tem muita velocidade de reta e a Austrália não é uma corrida tão fluida.

"Precisamos entender que essas três pistas não representam a totalidade do campeonato", disse. O problema com essa desculpa, válida para todos os rivais da Red Bull, é que o RB19 não foi afetado por nada disso.

A vantagem de 0s3 que Verstappen teve sobre Charles Leclerc para fazer a pole do GP do Bahrein foi definida pela rápida aceleração sob baixa velocidade do RB19, junto de um ritmo superior nas curvas de média. Tamanha era vantagem, que não fez diferença o fato de Verstappen ficar cerca de 4 km/h abaixo da Ferrari nas retas. Isso sugere uma ênfase no downforce.

Na primeira instância, isso marca uma importante ruptura em relação ao que a Red Bull fez no ano passado, quando o motor Honda não conseguiu superar imediatamente o chassi pesado, frequentemente derrotado na aceleração para o leve carro da Ferrari, tendo a vantagem na velocidade máxima.

Sergio Perez, Red Bull Racing RB19

Sergio Perez, Red Bull Racing RB19

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

A segunda questão a ser notada é o quão diferente foi a performance do RB19 em Jeddah. Lá, com a exploração potente do DRS pela Red Bull, Pérez se colocando nas cabeças do speed trap. Com Verstappen fora da briga pela sua falha na caixa de câmbio no Q2, o mexicano fez a pole superando Leclerc em 0s155, antes do monegasco ter a punição aplicada.

Mas Pérez fez sua pole ficando atrás da Ferrari nas mudanças de direção sob alta velocidade, garantindo o tempo graças a uma velocidade máxima quase 8 km/h maior.

Seguindo para a Austrália com o embate entre Verstappen e Russell no Q3, o holandês fez a pole com 0s236 de vantagem. Essa margem foi construída em cima da melhor performance de reta, mantendo velocidades maiores na sequência de curvas mais abertas, perdendo para a Mercedes nas mais lentas.

Na corrida, assim que a falha no motor eliminou Russell, deixando Hamilton como o único rival, Verstappen teve uma vantagem de 0s162 por volta para o heptacampeão ao longo de um stint de 34 voltas, entre os giros 20 e 53. Isso não considera Verstappen tirando o pé para conservar os pneus e pensando na confiabilidade.

Os dados do GPS mostram a força do RB19, mas, principalmente, sua natureza intercambiável. O carro responde à mudanças no ajuste para ser rápido nas curvas em uma pista antes de ser mudado para dominar nas retas. O RB19 parece ter uma janela de operação enorme, bem diferente do W13 da Mercedes no ano passado.

Também bem diferente do ano passado, quando a Ferrari sofria sair das curvas mais rapidamente, ainda não sabemos de uma fraqueza óbvia da Red Bull. Alonso está guiando o grid, com pontos de frenagem super tardios e aceleração precoce, o que pode lhe ser muito útil em Mônaco. Mas a telemetria mostra que, mesmo ficando atrás, o RB19 não está tão longe nos mesmos setores. Na verdade, provou ser capaz de casar com todos os tipos de pista.

Max Verstappen, Red Bull Racing RB19

Max Verstappen, Red Bull Racing RB19

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

Enquanto Vasseur reconhece que ainda não vimos um circuito que casa bem com o SF-23, parece que ainda não há também um que faça a Red Bull sofrer. É por isso que a métrica que foca nas voltas mais rápidas de cada equipe ao longo de um fim de semana mostra um déficit de 0.401% da Ferrari em relação à rival.

Em uma volta de 90s de duração, isso daria à Red Bull uma vantagem de 0s360 para a segunda melhor. Coloque isso em uma corrida de 55 voltas (sem considerar safety cars, bandeiras amarelas e vermelhas...) e Verstappen e Pérez terminam com uma vantagem de mais de 20s. Voltando à somatória do começo da análise, isso colocaria o total da Red Bull na casa de 01min27s, próximo de uma volta total em Jeddah.

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