ANÁLISE: Série sobre Ecclestone mostra história da F1 e ganha fãs com imagens raras, mas comete pecados

Série documental em oito partes está disponível no Star+

Bernie Ecclestone é, sem dúvidas, um dos nomes mais importantes da história da Fórmula 1. Ao longo de quase seis décadas, o britânico deixou sua marca na categoria, ajudando a alça-la ao patamar que possui hoje, em meio a diversas polêmicas que mancharam (ou não) seu nome.

Devido a episódios recentes, como o apoio público a Vladmir Putin no início da invasão à Ucrânia e a guerra declaratória com Lewis Hamilton sobre o movimento Black Lives Matter, a Fórmula 1 tratou de desvincular sua imagem de Ecclestone, mas não há como negar que, se o esporte chegou ao nível global que tem hoje, muito se deve a ele.

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Em meio a essas polêmicas, Ecclestone é um dos nomes mais interessantes do grid da F1. E o britânico teve a chance de contar sua história (que muitas vezes se confunde com a história da própria F1) no documentário “Lucky!”, do diretor Manish Pandey (de Heroes, do Motorsport Network, e Senna).

Bernie Ecclestone, F1 Supremo

Bernie Ecclestone, F1 Supremo

Photo by: Sutton Images

Ao longo de oito episódios, com duração aproximada de 50 minutos cada, Bernie reconta a história da F1 de seu ponto de vista, indo desde os primórdios do campeonato, em 1950, o início de seu envolvimento com o esporte, poucos anos depois, até sua saída do posto de comandante da principal categoria do automobilismo mundial, no final de 2016.

O ex-chefão da F1 entra em detalhes em episódios que marcaram a história do esporte, como a Guerra FISA-FOCA nos anos 1980 (que volta ao imaginário dos fãs neste começo de 2023 com a possibilidade de uma nova guerra entre FIA e F1), a morte de Ayrton Senna e a venda para a Liberty Media, seu relacionamento com nomes-chave como Enzo Ferrari, Niki Lauda, Nelson Piquet e mais, além de alguns fatos de sua vida fora do esporte.

O maior ponto de destaque da produção é o belo uso das imagens de acervo por Pandey. O diretor teve acesso a um material rico, com parte deles desconhecido do público, como cenas coloridas e remasterizadas do GP da Europa de 1950, a primeira corrida da história da F1 e outros grandes momentos da história do esporte.

Certamente, do ponto de vista visual, “Lucky!” é um prato cheio para qualquer fã de automobilismo.

Carlos Pace, Brabham, Frank Williams, Williams Team Owner and Bernie Ecclestone, Brabham Team Owner

Carlos Pace, Brabham, Frank Williams, Williams Team Owner and Bernie Ecclestone, Brabham Team Owner

Photo by: David Phipps

E esse não é o único ponto positivo. Tendo acesso ilimitado a uma pessoa que viveu a F1 intensamente ao longo dos anos, Bernie ajuda o espectador a entender a evolução dos carros da categoria, indo desde os “pulos do gato” de Colin Chapman com a Lotus, a introdução do efeito solo, a suspensão ativa da Williams e muito mais.

Como já mencionei no início da análise, se a F1 chegou ao patamar global que possui hoje, o esporte deve isso a Ecclestone que, especialmente nos anos 1970 e 1980, foi um visionário. E dois episódios em particular, o quinto e o sexto, são ótimos para entendermos como funcionava a mente de Bernie, onde ele enxergava oportunidades em locais ignorados pelos outros, como os acordos de patrocínio e os direitos televisivos. São as duas melhores partes do documentário.

E em meio a tudo isso, o documentário tenta ainda humanizar um pouco a imagem de Bernie, com o ex-chefão da F1 contando histórias como quando sugeriu a Piquet deixar a Brabham para correr em uma equipe melhor, ou quando tentou ajudar Frank Williams após o acidente que o deixou tetraplégico ou até mesmo quando ‘intercedeu’ por Lewis Hamilton na Mercedes, afirmando que pagaria a diferença do contrato para que a equipe o contratasse para 2013.

Mas nem tudo são rosas em “Lucky!”, e o documentário acaba cometendo alguns pecados que comprometem algo que poderia ter sido ainda melhor. O maior deles é a opção de Pandey de contar todos os fatos cronologicamente, até demais.

Max Mosley, Bernie Ecclestone

Max Mosley, Bernie Ecclestone

Photo by: Motorsport Images

Muitas vezes, uma história maior, como a crise de Jean-Marie Ballestre à frente da FIA e o apoio de Bernie à Max Mosley na eleição de 1991, acaba sendo interrompida por algo menor, menos importante, como o acordo da Williams para utilizar motores Renault a partir de 1989, ou a incessante troca de donos da F1 no final dos anos 1990 / começo dos anos 2000, intercalada por cenas esparsas que representavam o domínio de Michael Schumacher com a Ferrari. Isso atrapalha o espectador ao desviar sua atenção do tópico principal.

Por décadas, a história de Ecclestone se confunde com a da F1 mas, em certos momentos, sente-se a falta de outras vozes. Pandey optou por construir o documentário apenas em torno de Bernie, com o britânico sendo o único entrevistado, e em certos casos, a história ganharia uma riqueza maior de detalhes se contasse com outras fontes.

E por falar em riqueza de detalhes, uma coisa que pode decepcionar muitos espectadores é o fato do documentário não trazer tantas coisas inéditas quanto se poderia pensar. Em alguns casos há informações novas, como a troca de donos da F1 e o escândalo da orgia nazista de Max Mosley mas, em grande parte do documentário, temos apenas Bernie falando coisas que um fã mais longevo do esporte já conheceria.

Mas, se você é alguém que está chegando agora ao mundo da F1, ou que nunca esteve muito por dentro da história da categoria, pode ir com tudo, porque certamente será um importante aprendizado, para entender como que o esporte chegou onde está.

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