Carro do futuro e novas montadoras: Domenicali analisa próximos passos da F1

FIA estuda mudanças que serão implementadas na categoria em 2026

Valtteri Bottas, Kick Sauber C44

Se houve uma lição importante que foi aprendida durante a temporada de 2024 da Fórmula 1 foi que a categoria é imprevisível. Isso foi algo notado pelo CEO Stefano Domenicali.

Em março, Max Verstappen chegava como o favorito para vencer quase todas as etapas da atual temporada. Isso porque o piloto se mostrou dominante em Bahrain, mas não foi bem isso que aconteceu nas corridas seguintes.

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Atualmente, a temporada já conta com sete vencedores diferentes e ainda caminha para o início da segunda etapa, que acontece após a pausa de agosto. Isso não acontecia desde 2012, quando o cenário era muito parecido. Agora, as equipes tem a chance de, pelo menos, batalhar pelo campeonato de construtores.

Domenicali, por sua vez, nunca acreditou que a dominância da Red Bull se manteria por muito tempo. Isso porque sempre esteve convencido de que o teto de gastos e restrições de testes aerodinâmicos acabaria com a liderança taurina.

O CEO sempre esteve ciente que nada está definido na categoria, apesar das indicações iniciais, desta forma, ele também sabe que o prazo da F1 é algo que está em constante evolução.

Em entrevista exclusiva o Motorsport.com, Domenicali discutiu a atual situação da F1 e explicou qual sua opinião para as oportunidades agora que a categoria foi comprada pela Liberty Media.

"Estou muito satisfeito em dizer que o que eu disse no começo do ano é exatamente o que está acontecendo, quando todos acreditavam que eu estava dizendo isso por razões políticas", o CEO se referia sobre sua fala de que 2024 não seria um 'fracasso total' com o domínio de um único piloto.

"Isso, com certeza, continuará até o fim de 2025. Esse elemento de ação esportiva e drama estará definitivamente até lá".

A referência a 2025 é intrigante, isso porque, apesar da empolgação sobre o atual momento, não há certeza sobre o que poderá acontecer em 2026, quando o regulamento da F1 sofrerá mudanças e podem trazer desvantagens para algumas equipes.

F1 2026 FIA car renders

F1 2026 FIA car renders

Photo by: FIA

No paddock, muitas pessoas apontam que a mudança de regras colocaria um ponto final nas batalhas que aconteceram em pista recentemente e, dessa maneira, defendem que a FIA, Federação Internacional de Automobilismo, não deve mexer no regulamento.

"Assim como tudo está começando a convergir, e os fãs estão começando a conseguir o que querem, temos uma mudança ainda maior - porque é a primeira vez que me lembro de termos uma nova unidade de potência e chassi acontecendo ao mesmo tempo. Então, as chances de isso [a mudança] destruir o grid devem ser bem significativas", disse Adrian Newey no início de 2024.

Domenicali não escondeu suas preocupações de que 2026 poderá diminuir a grandeza da F1. Porém, o CEO acha importante reconhecer o que motivou a FIA a tomar a decisão de rever as regras da categoria.

"Sempre há razões pelas quais estamos mudando. Primeiramente, porque precisamos estar à frente do que estamos fazendo. E essa regulamentação técnica [2026] estava, naquele momento específico em que a decisão foi tomada, relacionada a uma necessidade de os fabricantes se envolverem na F1, com um tipo diferente de tecnologia que precisaria ser usada. Eu acredito que isso é realmente fundamental e crucial".

"Além disso, o fato de que agora temos combustível sustentável no centro deste projeto técnico acelerará o processo de garantir que esta nova tecnologia estará disponível para o mundo da mobilidade mais rapidamente. Ela desenvolverá uma queda no combustível com um preço mais baixo que será benéfico para o mercado ao redor do mundo. Disso estou bem convencido".

Stefano Domenicali

Stefano Domenicali

Photo by: Erik Junius

Uma fabricante entra, outra sai

Recentemente, houve sugestões de que, apesar de todos os motivos positivos por trás das novas regras, os ganhos podem não ter valido a pena os enormes custos com os quais todos os envolvidos tiveram que se comprometer.

Considerando os bilhões de dólares que são destinados a criação de motores totalmente novos e os carros comprometidos que resultaram na divisão planejada de 50/50 entre motores de combustão internada e motores elétricos, a F1, muito provavelmente, terminará a temporada com um ganho líquido zerado para as fabricantes. Isso deve acontecer porque a Renault está se encaminhando para deixar de ser fornecedora de motores.

Apesar disso, Domenicali não concorda com o ponto de vista que os regulamentos fizeram a F1 avançar e depois recuar.

"Eu acho que a decisão real [da Renault] estava relacionada a outra condição, para ser bem aberto e bem honesto com vocês. Não está relacionada ao regulamento errado. Está relacionada a uma situação diferente, que eles têm que entregar um resultado em um prazo diferente".

"Acredito que, no momento em que o regulamento foi definido, havia a necessidade de garantir que os fabricantes estivessem realmente interessados ​​em fazer parte do campeonato. Eles são um elemento vital dessa equação, porque sem motor não podemos correr - portanto, havia a necessidade de ouvir".

"Mas eu diria que a FIA tentou fazer o melhor para garantir que pudéssemos ter algo que fosse bom para todos. Isso é verdade".

Esteban Ocon, Alpine A524

Esteban Ocon, Alpine A524

Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

Retardando a mudança

Muito tem sido questionado sobre a obrigatoriedade da regulamentação ser modificada a cada cinco anos. Domenicali concorda com a incerteza e também acredita que isso deveria ser discutido.

"Este é um ponto de: é realmente agora o momento de fazer em 2030 outra mudança de passo? Não estamos em posição de responder hoje, porque precisamos esperar e ver como essa nova tecnologia chegará e como será desenvolvida".

"Portanto, chegará um ponto em que precisaremos discutir sobre isso, e precisamos entender se a necessidade dos fabricantes, a necessidade das equipes e a necessidade da engenharia estão definitivamente lá como estavam quando houve a necessidade de mudar o regulamento".

O CEO da F1 explicou que a categoria tinha necessidade de passar por mudanças por dois motivos e, desta maneira, foi decidido que a janela de cinco anos seria a escolha certa.

"Um [dos motivos] é porque somos o auge do automobilismo e estamos endossando o mais alto nível de tecnologia. O segundo, no passado, foi porque era bem claro: o objetivo era parar um período de dominância dos carros. Me lembro de quando estávamos vestidos com cores diferentes [Domenicali é um ex-diretor de equipe da Ferrari], então isso faz parte do jogo".

Apesar de entender quais eram as motivações para as mudanças serem feitas em um curto espaço de tempo, o chefão da categoria entende que os novos elementos permitem que as regras sejam revistas com um maior intervalo.

"Mas, agora com os novos elementos de regulamentação, teto orçamentário e restrição aerodinâmica, acho que esse ponto não está mais na mesa de discussão. Então, agora, o foco é o desafio tecnológico no futuro. É relevante que a mudança seja em um ciclo de tempo tão curto de cinco anos? Esse será o ponto de discussão para o futuro".

Sergio Perez, Red Bull Racing RB20, Oscar Piastri, McLaren MCL38, George Russell, Mercedes F1 W15

Sergio Perez, Red Bull Racing RB20, Oscar Piastri, McLaren MCL38, George Russell, Mercedes F1 W15

Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

Mudando a configuração dos carros

Mesmo que não seja a favor das regras em um curto período, Domenicali acredita que ainda existe algo que precisa ser revisto: o peso dos carros.

"Acredito que o que sempre estará em pauta no futuro será o peso e a dimensão dos carros, porque não podemos esquecer onde a abordagem dos carros de fórmula começou".

"Estamos agora em uma situação em que os carros são grandes, os carros são pesados ​​e talvez no futuro, com esse novo desenvolvimento, possamos realmente decidir voltar a ser mais leves".

Apesar de enxergar a necessidade de mudanças, Domenicali acredita que essa discussão pode esperar mais algum tempo e a FIA deve focar na tarefe atual, que é terminar o regulamento de 2026.

"Mas eu diria que é um pouco prematuro discutir sobre isso. Vamos ver, primeiro de tudo, como podemos nos preparar para estar realmente prontos para o regulamento técnico correto, também regulamentos esportivos, para 2026 e então discutiremos adequadamente no momento certo".

A busca por carros mais leves estava presente para 2026, mas os esforços não foram o suficiente para chegar ao objetivo inicial. Isso aconteceu porque as questões de segurança - como o Halo - adicionam mais peso ao carro, além das unidades de potência, que são grandes responsáveis por deixar o monoposto mais pesado.

Caso a F1 busque diminuir o peso, existem duas saídas a serem analisadas ao abandonar os híbridos pesados: mudar para o hidrogênio ou voltar para o V8s da velha guarda. 

"Não acredito que o hidrogênio em si será uma solução de médio prazo para a F1, por muitas, muitas razões – incluindo tecnologia, custo e segurança. Mas acredito que a maneira certa de desenvolver isso [redução de peso] seria continuar com esse tipo de conceito, com medidas para reduzir o peso, ou – se o combustível sustentável estiver fazendo o trabalho certo para ser de emissão zero e estivermos encarando o ponto de sustentabilidade da maneira certa – talvez não precisemos mais ser tão complicados ou tão caros em termos de desenvolvimento de motores".

"Acho que esse ponto de discussão será com certeza nos três anos após a introdução. Então, no meio da nova jornada, precisamos pensar e ver onde estamos e o que acreditamos que a situação está evoluindo".

F1 2026 FIA car renders

F1 2026 FIA car renders

Photo by: FIA

"Mas uma coisa que é muito importante: olhe para trás e veja como as coisas estão mudando tão rapidamente. Lembro-me de que todos, alguns anos atrás, diziam: 'Ah, carros elétricos para todos, para sempre'. Agora, o freio de mão é maior do que seguir em frente; então, precisamos ser prudentes".

Domenicali ainda disse que o alto escalão da F1 precisa ter certeza sobre as decisões que estão sendo tomadas, para poder garantir o sucesso do esporte.

"Precisamos ter certeza de que estamos tomando a abordagem certa. Estamos em um negócio esportivo e, portanto, acho que precisamos tomar a decisão certa para nossas necessidades e para nosso esporte".

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