F1 - Ferrari ainda está na jornada para voltar à luta por títulos, diz Binotto em entrevista exclusiva

Chefe da equipe italiana diz que caminho foi iniciado em 2017 e segue até o momento atual, afirmando que todos os dias são difíceis, mas que time segue unido

Mattia Binotto, Team Principal, Ferrari

Foto de: Ferrari

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É justo dizer que a temporada 2022 da Fórmula 1 até aqui entregou os melhores e piores momentos para o chefe da Ferrari, Mattia Binotto.

Ele teve os altos de vitórias brilhantes e até mesmo uma dobradinha no Bahrein, além da agonia em ver outros sucessos escapando de suas mãos através de estouros de motores, erros de pilotos ou problemas de estratégia.

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Para alguns, a montanha russa de emoções seria demais para aguentar. Mas para Binotto, que coordena o plano de recuperação da Ferrari desde que assumiu o posto em 2019, o que o mantém é a convicção de que, em Maranello, toda a equipe corre atrás do mesmo.

Sim, houveram desafios e coisas que poderiam ter sido melhores em 2022, mas Binotto segue confiante de que seu plano de longo prazo para dar à Ferrari a base para lutar frequentemente por títulos segue como esperado.

Ele deixa claro um ponto: que a vida como chefe de equipe da Ferrari nos baixos de 2020 e 2021 e nas variações deste ano é um trabalho para poucos. Questionado pelo Motorsport.com em uma entrevista exclusiva se ele teve momentos difíceis no cargo ao longo dos últimos 18 meses, disse com um sorriso no rosto: "Todos os dias! Certamente não tem sido uma jornada fácil desde 2019, quando cheguei ao cargo, até agora".

"Tivemos um 2020 muito difícil, e aí 2021. Mas mesmo 2022, lutando para sermos os melhores, em alguns momentos há corridas em que não obtemos o potencial do carro. Então não é fácil. Mas o que posso dizer é que estou feliz nesse papel. Estou feliz porque tenho uma grande equipe, que está unida".

Drama no pit wall

Charles Leclerc, Ferrari F1-75, pitstop

Charles Leclerc, Ferrari F1-75, pitstop

Photo by: Ferrari

Enquanto Binotto fala regularmente sobre a forte equipe ao seu redor, houve momentos em que ele sentiu todo o peso do mundo sob seus ombros. E nenhum deles é mais verdade que quando as câmeras de TV focam nele no pit wall da Ferrari em situações como as falhas no motor de Charles Leclerc na Espanha e no Azerbaijão.

Binotto confessa que momentos como esse são emocionalmente difíceis, mas igualmente sente a obrigação de manter a calma. Questionado sobre o que passa pela sua cabeça e quão difíceis são esses momentos em que algo vai errado, ele diz: "É muito difícil por dois motivos".

"O primeiro, se estamos falando de problemas no motor, é que eu mesmo gerenciei esse departamento no passado. E ver fumaça nunca é algo bom. Então é mais uma sensação de depressão. Não há dúvidas de que quando se está liderando uma prova, como Charles em Baku ou mesmo Carlos na Áustria, há problemas que você nunca quer ver".

"Estou mantendo a calma, mas acredite, estou deprimido. É difícil e você tira alguns momentos, tentando reagir, pensar nos próximos passos. Então o que é necessário e o que é exigido? E não apenas em termos técnicos, mas falando da equipe. Como eu posso ajudar? O que posso fazer para manter a calma e o foco de todos, protegendo-os de ataques externos e comentários?".

Binotto não é uma pessoa que culpa outros pelos erros, ou mesmo alguém que comanda a equipe com punho de ferro a ponto de deixar todos assustados. Ele tem a mentalidade de que o pessoal precisa ter a autoridade para tomar decisões que são do melhor interesse da equipe, o que o força a confiar neles.

"Acho que estou empoderando as pessoas ao meu redor. Não sou brutal, mas sou rígido. E as pessoas ao meu redor sabem como que eu sou. Mas acho que sou mais que isso. Estou sempre tentando empoderá-los, dar a eles o que é necessário para fazerem seus trabalhos. E eu confio nas pessoas ao meu redor".

"Não vou entrar em detalhes sobre cada elemento. Eu foco mais em mim mesmo, garantindo que eles tenham tudo que seja necessário para seus trabalhos. Sei o quão importante é o clima interno, sei como é a abordagem mental e a cultura. Estamos trabalhando muito internamente, tentando mudar nossa cultura em termos de atitudes e comportamentos corretos".

"Posso ver que a equipe segue muito unida e acho que podemos atingir isso com a transparência. Mesmo eu penso que é preciso ser esperto, transparente e genuíno".

A longa jornada para a recuperação 

O carro de Carlos Sainz após seu abandono na Áustria

O carro de Carlos Sainz após seu abandono na Áustria

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

Do lado de fora, baseado nos resultados da Ferrari nas temporadas recentes, a volta por cima em 2022 após um 2020 esquecível é algo incrível, enquanto alguns afirmam que foi apenas um golpe de sorte no início de uma nova era.

Mas Binotto acha que as aparências enganam, e que as campanhas recentes da Ferrari não mostram o progresso real da equipe. Ele diz que os erros cometidos com o carro de 2020 e o motor foram ampliados pelo congelamento imposto pela pandemia, forçando-os a pagar um preço maior pelo tombo.

"Não há milagres na F1. Não levou apenas um ou dois anos [de recuperação]. Foi mais do que isso. Acho que hoje começou lá atrás, talvez até em 2016/2017. Foi uma construção contínua".

"Foi sobre organização, habilidades, experiência, metodologia e ferramentas. É sobre ativos, e quando digo isso, me refiro a simulador, melhora do túnel de vento, tudo que você tem".

Refletindo sobre o problemático 2020, disse: "Foi mais que um passo atrás. Foram três. Por que? Acho que em 2020 simplesmente erramos no projeto. E tudo estava congelado naquele ano. É como se fosse com a Mercedes neste ano: o que teria sido deles?".

"Não acho que é uma equipe sem capacidade de desenvolvimento. Todas são capazes de fazer bons carros, lutar pelo melhor, mas se o projeto está congelado de cara e você cometeu erros, como a Mercedes fez neste ano, você acaba pagando o ano todo".

"Mas 2020 foi o produto do que tentamos fazer em 2019, quando mudamos completamente a organização. Em 2020 e 2021 tivemos oportunidades limitadas de desenvolvimento do carro, que era difícil. Então esses anos não refletem nossa capacidade total".

A perspectiva de longo prazo é o que faz Binotto pensar que a Ferrari está a caminho de voltar à frente do grid, sem pensar em uma janela específica de tempo.

"Como equipe, desde 2017, estamos tentando progredir ano a ano. Hoje acho que temos um feedback melhor de nossa capacidade. Mas sem dúvidas melhoramos, a cada temporada, e mesmo 2020 foi útil para nós, nos colocando a necessidade de evoluir ainda mais, analisando todas as fraquezas do momento, o projeto da organização, tentando bolar algo melhor para o futuro".

"E a partir de 2020 certamente fizemos mudanças à organização com funções mais claras, responsabilidades mais claras. Temos um novo simulador".

Sem mudanças na abordagem agora

Charles Leclerc e Mattia Binotto no parque fechado

Charles Leclerc e Mattia Binotto no parque fechado

Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

Apesar da Ferrari ter começado 2022 à frente, suas performances antes da pausa de verão permitiram que a Red Bull abrisse uma boa vantagem. Mas apesar dos problemas de confiabilidade e oportunidades perdidas com erros de estratégias, Binotto vê o resto da temporada como parte da jornada iniciada em 2017.

É por isso que ele não vê a necessidade de mudanças radicais antes do GP da Bélgica.

"Não acho que precisamos fazer algo de diferente. Acho que simplesmente temos que seguir em nossa jornada de melhora contínua passo a passo, focada no corrida a corrida. Acho que temos potencial para vencer corridas no momento. É apenas uma questão de garantir que chegaremos na bandeira quadriculada em primeiro. Mas para isso não precisamos mudar a abordagem".

"Como dissemos, não há milagres, então não acho que precisamos mudar. Provamos que conseguimos fazer um bom trabalho. É apenas uma questão de chegar lá no passo a passo, nos acostumarmos e, independente do resultado de 2022, nos preparamos para 2023".

PODCAST: O que primeira parte da temporada da F1 em 2022 trouxe de bom e ruim?

 

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