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Galvão Bueno lembra do amigo: “O Ayrton é o Ayrton Senna do Brasil”

Ao TotalRace, locutor da Globo lembra experiência de narrar morte do amigo: “Na melhor das hipóteses era muitíssimo grave

No dia em que se lembra dos 20 anos da morte do tricampeão mundial Ayrton Senna, Galvão Bueno diz que não fará nenhuma referência especial ao amigo e diz que nunca fez em todos esses anos. Para ele, Senna deve ser lembrado pelo que foi na pista e como pessoa, que ainda povoa a memória de todo o mundo.

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O TotalRace falou com o narrador que trouxe ao Brasil grande parte das vitória do brasileiro em manhãs, tardes e madrugadas no Brasil. Confira:

Teremos uma série de eventos e homenagens agora por conta dos vinte anos da morte do Ayrton, assim como aconteceu em outras efemérides dele, como os 50 anos de idade que ele teria completado em 2010, etc. Ainda te impressiona o quanto a presença dele ainda é forte?

Me impressiona muito. E acho que ela vai permanecer sempre. Primeiro pelo que ele foi como piloto, o campioníssimo que foi. Na minha modesta opinião, o melhor que eu vi correr de Fórmula 1 - e me sinto bem acompanhado de alguns especialistas. Em segundo lugar, pela pessoa que ele era. Na transmissão do GP do Bahrein, no grid, Ron Dennis disse que não havia como não lembrar do Ayrton pelo que ele foi como piloto, o campeão que foi nos três carros da McLaren, pelo homem que ele era, pela forma como trabalhava 24 horas por dia e pela forma como trabalhava para as pessoas mais necessitadas do Brasil, pelo brasileiro que ele era. Acho que existe um conjunto da obra. Nesse mesmo GP, o Esporte Espetacular iniciou uma série de quatro programas especiais com roteiro e direção do Ernesto Rodrigues e me pediram para fazer a apresentação lá do circuito do Sakhir. E eu comecei dizendo exatamente isso: a impressão que me dá às vezes é que ele bateu o carro, ou quebrou o carro, e foi embora do circuito irritado e não disse adeus, não se despediu de ninguém. E que ele vai voltar na próxima semana, vai pegar o carro, fazer a pole e fazer o país inteiro, dezenas de milhões de pessoas vibrarem. Essa presença dele está marcada de maneira tão forte que, vinte anos depois, é como se ainda estivesse aqui, como se eu fosse vê-lo. Então, eu tenho de agradecer a Deus por ter tido a honra de ser a voz que levou a emoção das vitórias dele para o povo brasileiro; e por tantos e tantos anos poder chamá-lo de amigo. A sensação que eu tenho é que virando a esquina de um box eu vou encontrá-lo. Ele está aqui, desse mundo da Fórmula 1, ele não sai.

Uma coisa que impressiona, lembrando do dia do acidente e sabendo dessa proximidade de vocês dois, é como você conduziu a transmissão até o final, mesmo tendo a clareza do gravidade do acidente em meio a um final de semana que já estava muito carregado. Foi fácil, foi difícil, foi no piloto automático?

[publicidade]Foi absolutamente difícil. Existe um lado profissional, um lado do “show tem que continuar”. Já que eles decidiram que a corrida tinha de recomeçar, eu precisava fazer a transmissão. Saí da cabine pelo menos três vezes durante a prova. Eu pedi para Reginaldo segurar e fui respirar fundo. A gente sabia que, na melhor das hipóteses, era muitíssimo grave. Por todo o procedimento fora dos padrões normais. Não era aquela coisa de levar para o centro do médico do circuito ou levá-lo até o helicóptero para depois ir embora ao hospital regional. Ao invés disso, o helicóptero foi para a beira da pista, a forma como não deixavam ninguém ver nada, aquele sangue no chão que depois saberíamos que era por conta de uma traqueostomia... tudo levava a crer que o pior tinha acontecido. Quando o helicóptero decolou, minhas palavras foram “vai com Deus, meu amigo, seja forte, lute pela vida, lute por você”. E foi muito difícil. Uma pessoa muito importante foi o Alan Vigné, que era nosso coordenador de transmissão e ficava no meu ouvido dizendo, “vai, não pára”. E o Reginaldo também segurou a onda nas três vezes que eu sai da cabine para respirar um pouco. Mas era obrigação, tinha de continuar e, quinze dias depois, estávamos lá em Mônaco, aquela posição da pole position vazia... O Ayrton é o Ayrton Senna do Brasil. Ele me disse uma vez: “você mudou meu nome, de Ayrton Senna da Silva, para Ayrton Senna do Brasil”. Eu respondi que era uma honra, que eu não poderia querer coisa mais importante na minha vida.

No dia primeiro de maio você fará alguma homenagem? Costuma fazer?

Não. Eu tento me lembrar dele sempre pelo lado positivo. Pelos momentos ótimos que passamos, pelas grandes vitórias, pelas grandes conquistas, pelos momentos duros, difíceis, pelo mau humor que ele tinha quando perdia uma corrida - eu dizia que ele colocava uma tromba e só tirava dois dias depois. Então eu prefiro lembrar dele assim. Nada de especial por ser primeiro de maio. Ele morreu, então devemos deixá-lo morrer. Mas ele insiste em estar aqui...
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