Como a Audi foi derrotada pela Porsche em Le Mans
No mês passado, a Audi foi superada nas 24 Horas de Le Mans pela primeira vez em seis anos. Sam Smith, do Motorsport.com, falou com exclusividade com Leena Gade, engenheira-chefe do carro de Lotterer, Fässler e Treluyér
Uma combinação de fatores contribuiu para minar as chances da Audi de conquistar a sexta vitória consecutiva nas 24 Horas de Le Mans no mês passado. Essa é a opinião de Leena Gade, engenheira-chefe do #7, pilotado por André Lotterer, Marcel Fässler e Benoit Treluyér, que inicialmente parecia ser o adversário principal do Porsche #19, que venceu a prova.
Falando com exclusividade para o Motorsport.com, Gade – que comandou as vitórias de 2011, 2012 e 2014, todas com o trio que lidera o campeonato deste ano – revelou os desafios enfrentados pela Audi desde as primeiras horas da 83ª edição das 24 Horas de Le Mans, prova na qual ela sabia que somente com uma estratégia perfeita e nenhum problema de confiabilidade seria possível chegar ao triunfo.
Temperaturas elevadas
As temperaturas acima do usual em Le Mans neste ano favoreceram a Porsche e permitiram que a equipe de Stuttgart conquistasse uma vantagem significativa sobre a Audi durante a madrugada, estabelecendo ali a base da vitória.
O time de Ingolstadt, como todas as equipes de fábrica, recebe as informações sobre as condições da pista e previsão do tempo da Michelin, antes da prova. Estes dados são então analisados pela esquadra, com o objetivo de escolher os compostos de pneus apropriados para a corrida.
Variações de temperatura são comumente levadas em consideração em Le Mans, mas a corrida deste ano teve mais calor do que inicialmente previsto, o que acabou influenciando negativamente no desempenho dos pneus e sistemas de recuperação de energia.
"Quando anoiteceu, estava mais quente do que nos anos anteriores – e do que tínhamos previsto. A temperatura nunca esteve abaixo de 17 ou 18 graus", disse Gade.
"Isso acabou nos pegando de surpresa, pois esperávamos que estivesse mais frio. Temos um composto diferente de pneus para temperaturas mais baixas, mas simplesmente não esfriou o suficiente para que nós pudéssemos utilizá-lo. Estava claro que tínhamos que continuar utilizando o composto com o qual iniciamos a corrida."
A Audi foi mais lenta do que os carros da Porsche quando o sol se pôs e, embora eles pudessem ser capazes de manter os mesmos pneus por quatro stints, não era possível acompanhar o ritmo dos Porsches, especialmente do #19, pilotado por Nico Hülkenberg, Nick Tandy e Earl Bamber.
"O ideal para nós teria sido manter os pneus por cinco stints, mas nem sempre tivemos essa opção. Era uma questão de comparar a degradação da borracha no último (quinto) stint com o tempo gasto na troca por compostos novos."
As temperaturas mais elevadas do que o previsto também podem ter influenciado em situações ainda não diagnosticadas que podem ter afetado a potência dos protótipos de Ingolstadt. Ficou claro que todos os carros da fabricante perderam ritmo durante a madrugada, especialmente no setor dois do circuito francês – que conta com a reta Mulsanne, na qual potência é fundamental.
"Analisamos dados de performance desde o final da corrida e essa questão ainda não foi respondida", disse a engenheira durante a entrevista (realizada em 25 de junho).
"Ainda precisamos entender como fomos afetados, pois os carros da Porsche não perderam tanto rendimento quanto a gente. Todos ficaram mais lentos à noite, mas nossa queda foi mais acentuada. Há alguns motivos para isso, a questão da temperatura é apenas um deles. Temos alguma noção de onde se encontram os demais motivos, mas precisamos olhar os dados novamente para termos certeza.”
Estratégia de combustível da Porsche surpreende
A estratégia inicial da Porsche de fazer 13 voltas com um tanque de combustível surpreendeu a Audi, que acreditava que os rivais fariam 14 giros no circuito de La Sarthe para então efetuar o reabastecimento.
A equipe de Stuttgart optou por reabastecer a cada 13 voltas para andar com menos peso e também para ganhar tempo nos pitstops.
"Para nós, a única opção era fazer 13 voltas, pois foi assim que nos enquadramos no regulamento", disse Gade. "Nós não tínhamos como parar em 12, a menos que estivéssemos com uma vantagem enorme. Naquele momento, ficamos surpresos com o fato de eles não terem reabastecido a cada 14 voltas, mas agora fica claro porque eles optaram por essa estratégia."
O período decisivo da prova foi entre às 23 e às 5h, quando a Porsche tomou a iniciativa e logo se viu que o ritmo deles nos stints era superior ao dos R18 e-tron Quattro.
"Ficou evidente durante a noite, ao olhar para os tempos de volta dos carros da Porsche, que eles não estavam tão distantes do que fizeram durante o dia, enquanto nós éramos significativamente mais lentos", contou Gade.
"Não sabemos ao certo o porquê, pode ter relação com a temperatura ou com a aderência, identificamos alguns indícios, mas nada definitivo. Também verificamos diferenças (de desempenho) entre nossos três carros."
Para o Motorsport.com, fica claro que a Audi tem um relatório preliminar sobre o desempenho em Le Mans, obtido através dos sensores de dados, imagens de TV e feedback dos pilotos. Um relatório completo está em progresso na sede da fabricante, na Alemanha.
Problema na cobertura do motor
O #7 enfrentou contratempos logo nas primeiras horas de prova, com um furo de pneu sofrido por Lotterer e, pouco depois, um drive-through com Marcel Fässler, gerado por desrespeito a uma zona lenta. Treluyér teve uma pequena saída de pista logo após os esses e antes da Tertre Rouge, o que embora não tenha gerado perda de tempo significativa, pode ser incluído na lista de incidentes.
Como sempre, no entanto, a Audi ainda estava na disputa quando amanheceu. Mas as chances de desafiar os rivais caíram por terra pouco depois das 7h. O #7 perdeu parte da cobertura do motor na saída das curvas e teve que ir aos boxes para fazer o reparo.
"Ainda estamos investigando isso", confirmou Gade. "Não foi simplesmente a perda da tampa, tivemos outros problemas por isso, o que nos manteve parados por sete minutos.”
"No fim das contas, um problema como este tira você da disputa - exceto no ano passado, quando todos tiveram problemas. Quando o líder não enfrenta nenhum tipo de problema, não há como superá-lo."
Todos acreditavam, até na própria Porsche, que os carros de Stuttgart enfrentariam pelo menos um problema mecânico que os faria perder muito tempo, o que acabou não acontecendo.
Isso, combinado com o ritmo implacável do #19 durante a madrugada, garantiu à Porsche o retorno ao topo do pódio em Le Mans o que não acontecia desde 1998.
Na Audi, as reuniões vão continuar. O objetivo é identificar a origem dos problemas e encontrar soluções que os coloquem nas melhores condições possíveis para cruzar a linha de chegada em primeiro lugar na prova do próximo ano e conquistar 14º triunfo da equipe de Ingolstadt em La Sarthe.
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