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ESPECIAL: Entenda o contexto do domínio inicial da Toyota na Stock Car

Após marca estreante vencer todas as quatro provas do campeonato até agora, resultados são avaliados como surpreendentes, mas ainda carecem de maior análise

Carros da Toyota em Goiânia

O ano de 2020 tem se mostrado muito diferente do que de costume na Stock Car. A maior categoria do automobilismo brasileiro está bastante movimentada em seu 41º ano de vida, com a volta da competição multimarcas após a chegada da Toyota, com o modelo Corolla.

A marca tem hoje oito carros no grid: dois na equipe RCM, com Ricardo Zonta e Bruno Baptista; dois na Ipiranga Racing, com Thiago Camilo e Cesar Ramos; além dos quatro representantes da Full Time, com Rubens Barrichello, Nelsinho Piquet, Rafael Suzuki e o argentino Matías Rossi.

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Duas etapas, quatro corridas e três treinos classificatórios depois, Zonta é o líder, com 82 pontos, seguido por Ramos, com 78, e Rubens Barrichello, com 71. O primeiro representante do Chevrolet Cruze é Ricardo Maurício, com 64, à frente de outro Toyota, de Piquet, com 50.

Por isso, o Motorsport.com procurou os principais nomes envolvidos na disputa entre marcas, que vem agitando o campeonato para entender o atual patamar que a competição está, com mais seis finais de semana e nove corridas pela frente.

A disputa “irreal”

Ricardo Maurício em Interlagos

Ricardo Maurício em Interlagos

Photo by: Duda Bairros

A Stock prevê em regulamento a possibilidade de atualizações dos pacotes de ambas as marcas caso a pontuação se mostre mais voltada para uma delas. Já em Interlagos, após a terceira corrida, a Chevrolet pôde se utilizar do chamado “Pac 1”, já que sua concorrente abriu 30 pontos de vantagem em um ranking no qual pontuam somente os dois melhores carros de cada montadora por corrida.

Além disso, os cinco primeiros colocados do campeonato sempre vão para a etapa seguinte com o chamado lastro de sucesso. O líder é obrigado a ter 30 quilos a mais no carro, o segundo colocado 'carrega' 25kg e assim sucessivamente.

Melhor representante da Chevrolet na tabela, Ricardo Maurício se mostrou preocupado com o domínio inicial da Toyota, além de ressaltar o fato de que os ‘gatilhos’ previstos em regulamento podem tornar a comparação irreal.

“O domínio da Toyota preocupa”, disse o bicampeão com exclusividade ao Motorsport.com. “Nós vemos que eles estão com um pouco mais de facilidade para andar na frente. Ainda é um pouco difícil de saber ao certo qual é essa diferença."

"Nenhum desses carros foi testado em túnel de vento, mas a gente tem uma diferença de carroceria e de motor. As duas montadoras estão na [nossa] equipe, então agora é a hora de a gente correr atrás. O 'Meinha' (Rosinei Campos, dono dos times Eurofarma e RCM) já está levantando todos os dados com os engenheiros para tentar achar a melhor solução. A próxima etapa é em Londrina e talvez a GM se aproxime ou até iguale a Toyota.”

“Nos treinos com o carro do Zonta em Curitiba, o Toyota tinha um pouco mais de velocidade de reta. Isso já foi detectado desde o início e ele tinha uma traseira mais solta, era um carro mais difícil de guiar", seguiu Maurício.

"A furação da asa traseira não é só angular, ela vai para frente e para trás, você pode mexer com essa asa, e eles a colocaram mais atrás. Com isso, a velocidade de reta do Toyota continuou muito boa, estabilizou-se a traseira e isso sanou o problema deles. E, depois disso, não tivemos mais treinos por causa da pandemia, já fomos direto para a primeira etapa em Goiânia.”

“Então, temos que colher dados agora para as próximas etapas e agora o problema é o lastro. Os Toyotas estarão bem mais pesados, eu também estarei, mas começa a ficar irreal a comparação. Temos que resolver o mais rápido possível, tentar equalizar, porque vamos chegar ao final do ano, em Interlagos, onde os Toyotas dominaram, e teremos pontuação dobrada.“

Equipes em “70, 80%”

Cesar Ramos

Cesar Ramos

Photo by: Duda Bairros

Ramos, destaque do fim de semana do Milhão em São Paulo após duas poles na pista de alta de Interlagos, também se mostrou surpreso com o que a marca japonesa já oferece aos seus pilotos. Porém, ainda vê um caminho longo pela frente no desenvolvimento das máquinas.

“Estou um pouco surpreso com esse domínio, mas acredito que esteja muito ligado com as equipes que a Toyota trabalha junto”, disse. “Mattheis, Full Time, Meinha, são todas equipes que sempre tiveram um certo domínio, mesmo na era da Chevrolet. Mesmo assim, eu vejo a performance muito parecida, acaba sendo uma coincidência que a Toyota tenha ganhado todas as corridas até agora.”

“Tenho certeza de que a Chevrolet está muito perto, eles 'viram' tempos parecidos, mas as circunstâncias acabaram levando a Toyota a ter uma superioridade e fatalmente vai ter briga no final do campeonato.”

“Os times têm muito a evoluir. As equipes vão trabalhar muito nos carros, tenho certeza que os carros estão ali nos 70 ou 80%. Quando tudo estiver acertado, aí sim vai dar para ter essa noção.”

Comentários cedo demais

Ricardo Zonta em Interlagos

Ricardo Zonta em Interlagos

Photo by: Duda Bairros

Líder do campeonato, Zonta é o que mais se identifica com a marca japonesa, pela qual correu na Fórmula 1 e no Campeonato de Marcas e Pilotos. Em entrevista exclusiva ao canal do Motorsport.com no YouTube, o piloto Shell admitiu que a ‘rádio paddock’ já fala do assunto.

“Na nossa equipe, temos dois Toyotas e dois Chevrolets, então a gente consegue saber onde estão as deficiências e os pontos fortes de cada carro”, ponderou. “Deu para perceber que o Toyota é muito bom de reta, a aerodinâmica ajuda ele na reta. Mas, na parte de baixa, a outra marca é mais eficiente. Tivemos duas pistas, Goiânia e Interlagos, que têm retas longas e curvas de média. Em Londrina, me parece que a outra marca tenha vantagem.”

“Já estão tendo comentários e dúvidas. Acredito que eles precisam esperar por Londrina para qualquer conclusão. Como disse, o calendário tem pistas bem travadas, com retas bem curtas. Nesse momento, é muito cedo para se ter qualquer conclusão, ainda mais agora com descartes (os três piores resultados de cada piloto), lastro de sucesso, isso acaba prejudicando muita gente que carrega esse peso. Deve acontecer muita coisa ainda nesse campeonato.”

A diferença dentro das equipes

Cacá Bueno em Interlagos

Cacá Bueno em Interlagos

Photo by: Duda Bairros

Pentacampeão da Stock Car, tendo sido vencedor de temporadas por três marcas diferentes (Mitsubishi, Peugeot e Chevrolet, embora na 'era tubular'), Cacá Bueno admite preocupação, mas avalia com normalidade o fato de um dos carros sair na frente do campeonato.

“Não surpreende, mas preocupa. Uma pequena diferença para um lado ou para o outro, com a entrada de uma montadora, era óbvio que poderia acontecer. Essa sempre foi uma questão em campeonatos multimarcas, ainda mais em um ano no qual não se testou muito.”

“A diferença é até bem pequena, comparado ao que poderia realmente acontecer. A categoria está de parabéns, mas é lógico que quem está de Chevrolet fica um pouco preocupado. Mas também é lógico que há uma chance de recuperação e estamos trabalhando muito para isso.”

Piloto da Crown Racing, única equipe com quatro Chevrolets no grid da Stock, Cacá falou sobre as diferenças mais gritantes entre as marcas: “O que mais me chamou a atenção foram as duas equipes que possuem as duas marcas. Ali, para mim, é um demonstrativo claro de que a Toyota está com vantagem e os Chevrolets terão que trabalhar para equalizar. A categoria já havia previsto e existem gatilhos, que foram acionados. Vamos ver se isso será o suficiente.”

O mérito é dos times

Os novos Corolla e Cruze da Stock Car 2020

Os novos Corolla e Cruze da Stock Car 2020

Photo by: Duda Bairros

Antes da etapa de Goiânia, que abriu oficialmente a temporada em julho, Vitor Genz era o piloto que mais havia testado os novos carros da categoria, tanto os Corollas, quanto os novos Cruzes.

Para o piloto gaúcho, a surpresa está em ver os carros da marca japonesa tendo uma vantagem, já que, antes de as novas máquinas chegarem às equipes, o cenário parecia ser diferente.

“Me surpreende esse início dos Toyotas”, disse Genz. “Eu não esperava. Até porque, quando fizemos os testes durante a pré-temporada, os Chevrolets se mostraram um pouco mais rápidos. Não de velocidade de reta, mas talvez em umas entradas de curva. Mas era uma diferença muito pequena. Eu imaginava que os Cruzes iriam se sobressair, com o trabalho das equipes, mas isso não se mostrou tão verdade.”

“Essa parte da equalização fez muito mais parte do trabalho da categoria e eu gostei bastante do empenho deles. Havia algumas coisas que eles nem passavam para mim, para que eu não fosse influenciado por alguma mudança que estava sendo realizada.”

Ele também confirmou a diferença entre os carros: “Os Toyotas tinham um ou dois quilômetros por hora a mais de reta. Com mudanças no regulamento, liberando coisas para os Chevrolet, tudo vai ficar bem equilibrado e o pessoal da categoria está fazendo um trabalho muito bom.”

Filosofia de fábrica

O programa Toyota Gazoo Racing, solidificado em outras categorias pelo mundo, principalmente na Argentina, chegou ao Brasil em 2020 como parte de uma estratégia da marca também para o mercado automotivo brasileiro.

Segundo Vladimir Centurião, diretor comercial da Toyota, o que está sendo implementado nas equipes faz parte da filosofia da montadora, além da procura pelos profissionais experientes e renomados, resultando no sucesso inicial na maior categoria do automobilismo brasileiro.

“Sem falsa modéstia, eu não diria que é uma surpresa. Temos muitos pilotos bons e essa foi uma das estratégias, pegar experientes, como Barrichello, Zonta, que já passou pela Toyota, então já tem uma história conosco, e as equipes são muito boas e experientes também.”

“Não diria que foi surpresa, mas temos cautela. Nós nos perguntamos no quê podemos melhorar e a Toyota, como empresa, é uma eterna insatisfeita. Não é diferente na Stock. Isso tudo é meio maluco, a nossa perseguição ao primeiro lugar. Sempre buscamos o melhor.”

Mesmo assim, o executivo prevê um equilíbrio no campeonato: “A recuperação da Chevrolet será algo até natural, ninguém entra em uma competição para ser o segundo colocado, e isso será saudável, porque eles melhoram o padrão deles e nos estimula a melhorar o nosso.”

O desafio durante a pandemia

Carlos Col e Amadeu Rodrigues

Carlos Col e Amadeu Rodrigues

Photo by: Divulgacao

Se realizar uma 'revolução' na Stock já tinha grandes desafios, a pandemia piorou o cenário da categoria, que teve que lidar com obstáculos inesperados, principalmente na entrega de um calendário para pilotos, equipes e patrocinadores. Além de lidar com diferenças das marcas.

Para o CEO da Stock Car, Carlos Col, o fato de finalmente poder colocar o campeonato em andamento já é algo para se celebrar: “Diante do cenário, considero que começar o campeonato e ter programada a realização das 12 etapas já constitui uma vitória.”

“Olhando a questão de a Stock Car ter voltado a ser multimarcas, sempre soubemos que seria um grande desafio conseguir uma boa equalização, principalmente com o histórico de equilíbrio e competitividade que a categoria tem", seguiu.

"Fizemos os testes com os novos carros dentro do que a pandemia nos permitiu. Os resultados foram animadores e apontaram para um equilíbrio, mas sabíamos que somente teríamos certeza quando os carros estivessem na competição para valer”, completou o dirigente.

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