Análise: O que os chefes da F1 aprenderam em Londres?
Evento organizado pela categoria nas ruas londrinas na semana passada foi praticamente unanimidade entre fãs e especialistas, mas qual o impacto dentro dos planos do Liberty Media? Confira a análise de Adam Cooper
O que tornou o evento da Fórmula 1 em Londres especial foi, entre outros detalhes, o modo como a organização do esporte trabalhou com a total colaboração das equipes e fora do ambiente de um final de semana de corrida, com todas as restrições amplamente conhecidas.
Há uma sensação de otimismo, a impressão de que todos fizeram parte de algo novo e especial, além de a competição feroz ter sido deixada de lado por um instante.
Temos visto algumas mudanças nos finais de semana em 2017, como maior liberdade nas redes sociais, entrevistas pós-classificação ainda na pista e pequenos ajustes na programação do final de semana. O evento londrino, entretanto, foi o primeiro grande sinal de que o Liberty Media quer fazer coisas realmente diferentes.
Posto isto, a apresentação nas ruas de Londres foi tudo que os novos donos da F1 esperavam e tudo correu como planejado?
"Creio que minhas expectativas foram alcançadas", disse o diretor de marketing da F1, Sean Bratches - um dos principais idealizadores do evento - ao Motorsport.com. "Este tipo de evento é complicado de se fazer. Eu fiz uma lista de elementos nos quais podemos melhorar no futuro, o que faremos."
"Não tivemos problemas e sinto que os fãs foram embora satisfeitos com a F1, nossa marca, e com o que podemos entregar em termos de entretenimento. Foi um esforço em conjunto, passamos bastante tempo com a prefeitura e todos os que participaram deram contribuições válidas", afirmou.
A questão óbvia é quais os itens do "podemos melhorar", mas Bratches não quis abrir o jogo: "vou guardar isso comigo, pois quero surpreender vocês quando divulgar. Mas tudo correu como o planejado (em Londres)."
Se algo ficou claro dada a dimensão do evento é que muito dinheiro foi investido. Bratches insiste que a categoria sabia do quanto precisaria gastar desde o início, mas deixou no ar que na próxima a F1 buscará parcerias para ajudar a custear uma nova edição.
"Não tivemos grandes surpresas em termos materiais. Tudo ficou dentro de nosso orçamento, sabíamos o que estávamos fazendo. Existem oportunidades, para as quais estamos olhando, de criar algo com patrocinadores ou por outros caminhos em novas edições. Veremos mais eventos como este, Londres foi uma excelente representação do que os fãs podem esperar da F1", acrescentou.
Planos para o futuro
O que pode vir pela frente para esse projeto em particular. Basicamente, existem duas opções.
Uma delas é organizar eventos similares em outras cidades ou países que recebem corridas atualmente. Isso se encaixa na ambição de Chase Carey, CEO da categoria, de transformar as corridas em eventos longos, nos moldes do Superbowl.
A outra é levar tais eventos para novos mercados, lugares que não recebem a categoria no momento mas que podem receber no futuro - como Nova York. Bratches sugere que a primeira opção é o caminho, deixando a entender que o que se viu em Londres acontecerá novamente em outros locais.
"Espero que em algum momento levemos isso para Nova York, quando tivermos uma corrida em Nova York! Sou otimista, mas realista. Minha visão para isso é seguir tendo estes eventos em Londres e depois em outros GPs e nos centros das cidades, podendo atrair fãs, os assíduos e casuais, por caminhos novos e empolgantes."
"Expor nossa marca e a essência de nosso esporte para eles. Temos trabalhado em muitos planos para colocar isso em prática", contou.
Em Londres, realizar o evento foi mais fácil, já que muitos times têm sedes na Grã-Bretanha. O desafio para tornar eventos como este comuns em outros locais será convencer as equipes a levar carros e pessoal, além de obter dos pilotos e chefes de equipe mais tempo disponível.
Bratches reconhece que limites existem, mas acredita que os pilotos vão se convencer de que, ao olhar para o todo, eles serão beneficiados.
"Faremos nossas tentativas. Seremos respeitosos com os pilotos, com as equipes. Quando cheguei a Silverstone e andei pelo paddock, alguns pilotos me chamaram de lado e me perguntaram quando repetiríamos o evento. Eles se divertiram e creio que perceberam naquele ambiente o quanto são queridos pelos fãs", ressaltou.
"Como disse antes, temos três marcas na F1 - a própria categoria, os times e os pilotos. E os pilotos são os que, creio eu, têm o maior impacto no esporte para que ele siga em frente. Estamos tentando levar as marcas e as personalidades deles ao mundo", comentou Bratches.
Questão 'GP de Londres'
O evento em Londres foi concebido como uma forma de promover o GP da Grã-Bretanha, em Silverstone. Quase que simultaneamente, o BRDC, dono do circuito, anunciou que estava deixando o acordo para sediar a prova de 2020 em diante.
A exibição, então, acabou servindo de laboratório para o que pode ser feito quando o acordo atual com Silverstone se encerra. Um GP em Londres é uma ideia muito mais realista agora do que em 2004, ano da última apresentação da F1 na cidade.
A lei local foi modificada e agora é possível realizar corridas nas ruas londrinas - a Fórmula E esteve no Battersea Park recentemente, por exemplo - e o atual prefeito da cidade, Sadiq Khan, mostra-se aberto a sugestões. Cinco anos após os Jogos Olímpicos em Londres, não é nenhuma surpresa que ele deseje ver mais eventos de grande porte na cidade.
Bratches imantém as portas abertas para Silverstone, mas reconhece que tudo é possível. "A decisão de Silverstone por encerrar o acordo abriu muitas portas para a F1, o que certamente também inclui Silverstone", disse.
"Estamos olhando para o cenário e tomaremos uma decisão baseada em alguns fatores do interesse dos fãs. Seguimos analisando todas as opções e estamos lisonjeados pelo interesse em nossa marca e nosso esporte. No fim, os fãs sairão ganhando, qualquer que seja a decisão para 2020 e além. Temos muitas corridas em Silverstone enquanto isso", completou.
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