Como se tornar um Diretor de Comunicação na F1 - Qualificações, habilidades e mais
Motorsport.com conversou com Stuart Morrison, da Haas, para descobrir funções do trabalho, como se tornar um e o que você precisa ter
Ser o Diretor de Comunicação de uma equipe de Fórmula 1 é algo central para seu sucesso, coordenando todas as operações de mídia, de entrevistas com pilotos e chefes de equipe a organizar aparições na imprensa e lançamento de releases.
Stuart Morrison trabalha com a Haas desde o início da equipe, em 2015, mas começou sua carreira no esporte a motor em 1998, trabalhando com Jonathan Palmer.
Mas o que é necessário para se tornar diretor de comunicação? Falamos com ele para descobrir quais são as qualificações necessárias, quais habilidades você deve ter e tudo mais que for necessário.
O que é um diretor de comunicação?
A função tem responsabilidade sobre todo tipo de comunicação. É multifacetado de certo modo mas, na base, é fazer parte de imprensa para a equipe. Na pista, você coordena todas as atividades de mídia, o que vem via F1, organização, faz suas próprias sessões.
Eu monto a programação para um fim de semana de corrida do ponto de vista de relações públicas, e trabalho junto do departamento de marketing. Então você é um cara que lida com muitas coisas. Mas, em linhas gerais, você monta a estratégia de comunicação para a equipe e a executa.
O que um diretor de comunicação faz?
Abaixo de mim, eu tenho um gerente de comunicação e um coordenador de mídias sociais. Equipes diferentes tem seus lados específicos dentro da equipe de relações públicas. Sendo uma das menores equipes do grid, nosso lado é igualmente pequeno.
Nós organizamos toda a parte de imprensa para os pilotos, para Gunther, ajudamos a facilitar pedidos de parceiros, montamos a programação do GP. Casamos isso com a programação da equipe, dos engenheiros, apresentamos aos pilotos, para sabermos exatamente onde eles estão a todo momento. E obviamente lidamos com parceiros, de transmissão. Montamos as entrevistas na quinta, que é nosso dia mais cheio, onde temos que fazer de tudo. Levamos os pilotos às coletivas da FIA, organizamos entrevistas solos, também fazemos algumas coisas online.
Antigamente, pré-Covid, faríamos algo para a imprensa in loco, do lado de fora dos boxes, e também levaríamos os pilotos a eventos dos patrocinadores. Nas sextas, sábados e domingos, ficamos a mercê da programação de pista, marcando as outras coisas ao redor disso. Novamente, temos entrevistas pós TL2, no sábado e no domingo levamos os pilotos aocercadinho e montamos todo o material de imprensa. Supervisionamos a parte de mídias da equipe, site, vídeos, trabalhamos com os fotógrafos parceiros. Garantimos que todo o conteúdo esteja pronto.
Como alguém se torna diretor de comunicação? Qual é o plano de carreira? O que você precisa estudar?
Diria que, tradicionalmente, tudo começa na universidade. As pessoas fazem jornalismo, jornalismo esportivo, ou relações públicas. Eu me formei em Cinema e Estudos de Mídia e, naquele momento, não sabia o que queria fazer. Foi apenas no último ano de faculdade que passei a me interessar pelo esporte a motor e vi que seria algo legal de fazer. Então diria que começa na universidade, mas não diria que é um diploma que te treina para estre trabalho.
Boa parte das pessoas que estudam RP e querem seguir esse caminho, podem ir para uma agência e adquirem essa experiência, depois podem ir bater na porta de organizações esportivas. Já outras vêm para a F1 direto após a faculdade, e podem conseguir uma vaga como assessor de imprensa júnior.
Para chegar até diretor de comunicação, você passa algum tempo como assessor de imprensa na F1, passa para gerente de comunicação, gerente sênior e depois diretor. Esse é o caminho mais tradicional dentro das equipes.
Mas eu me formei quando Jonathan Palmer estava formando o campeonato Fórmula Palmer Audi, que estreou em 1998. Eu fiquei sabendo pela Autosport. Então descobri seu endereço e escrevi uma carta: "Olha, eu achei de me formar, adoro esporte a motor, tem alguma chance?".
Ele nem tinha começado a buscar um assessor naquele momento, mas me respondeu que sim e me chamou para falar com ele na Inglaterra. Conversamos e no dia seguinte ele me contratou. Três semanas depois, coloquei minhas coisas no carro e me mudei da Escócia para o sul da Inglaterra.
Dali, fui montando conexões e passando de emprego para emprego. Fui de lá para a F3000 por um ano. Depois trabalhei para uma agência que trabalhava com Dario Franchitti, Allan McNish e Dan Wheldon. Trabalhei em várias contas, mas mais focado nos pilotos. Me mandaram para os Estados Unidos, acompanhar Dario e Dan na Indy. E aí fui para o Canadá, onde fiquei por 12 anos, trabalhando por conta, fazendo diversas coisas.
Mas tudo começou com aquela oportunidade de Jonathan. Acho que o esporte a motor é uma área em que, quando você entra e prova seu valor, pode seguir em frente, porque depende muito de conexões e relacionamentos. Acho que eu nunca me candidatei para nenhum dos trabalhos que tive, sempre foram oportunidades.
Por exemplo, quando li que montariam a Haas, eu conhecia alguém na GoDaddy, que patrocinava James Hinchcliffe na Andretti, eu assessorava ele. Essa pessoa me colocou em contato com alguém da Stewart-Haas, que me passou para Gunther. Então fui montando meu caminho, mandei minhas credenciais e encaminhei a vaga pouco depois.
O que digo para as pessoas que me perguntam sobre onde começar é que você precisa criar oportunidades, seja com uma equipe local, perguntando se precisam de ajuda com mídias sociais ou algo assim. Sempre haverão equipes precisando de alguém para isso. Se você não tem experiência, você dá um jeito de se colocar frente às pessoas certas e mostre o que você pode fazer. Se você é bom em criar conteúdo, mostre isso, seja como voluntário, estágio ou algo assim.
Mas, possivelmente, o modo mais rápido de construir um portfólio é experiência nas agências, porque você trabalha com várias contas e, depois de dois, três anos, você encontra algo que é mais a sua cara, e segue esse caminho.
Jessica, minha gerente de comunicação, conseguiu uma vaga na Fórmula E assim que saiu da faculdade e ficou nessa vaga lá por cinco anos. Mark, meu coordenador de mídias sociais, cursou jornalismo e dali foi trabalhar para a liga de rugby. Então ele tinha uma experiência no esporte, o que me atraiu.
Quais outras habilidades você acha que são úteis?
Obviamente, iniciativa, baseado nas minhas próprias experiências, minha iniciativa é o que me permitiu chegar onde estou, porque não espero para que as oportunidades apareçam. É a habilidade de usar suas conexões. Conheço RPs que não se sentem bem perto de outras pessoas, mas ajuda se você é adaptável, se consegue formar relacionamentos. Nesta era, ter ciência de coisas como mídias sociais e como elas funcionam, simplesmente porque você precisa.
Sou um pouco mais old school, eu lido mais com imprensa e tenho um coordenador de mídias sociais, mas você precisa entender de tudo.
O esporte a motor não é um trabalho das oito às dezoito, não conheço ninguém por aqui que trabalhe assim, então se você procura algo do tipo, esqueça, não vai acontecer.
O lado de mídia do esporte é um mercado brutal. Você precisa ter paixão e deixar que ela te guide. Se você quer apenas ver corridas, ok, mas muitos jornalistas que conheço no paddock, freelancers que tiram do bolso para estar aqui, isso acaba se tornando um estilo de vida para todos. E se você é apaixonado por algo e fica feliz em ter esse estilo de vida, dá para montar uma carreira.
Stuart Morrison, Head Of Communications, Haas F1 Team and Guenther Steiner, Team Principal, Haas F1
Photo by: Sam Bloxham / Motorsport Images
Como que alguém que tenta entrar nessa área pode começar a buscar experiência?
Acho que você precisa seguir as equipes online. E quando digo equipes, falo do WRC, BTCC, qualquer coisa. Se você realmente quer começar, tem que conhecer todas as equipes e precisa acompanha-las nas redes sociais. Geralmente eles publicam se há uma vaga, estágio.
Na Haas, não tivemos ainda estagiários na sede da Inglaterra, porque não temos ainda a capacidade de recebê-los, porque viajamos muito, estou pouco por lá. E se alguém fica apenas preso no escritório, pode ser chato, porque todos querem ir onde a ação está. E por sermos pequenos, não temos como receber estagiários na pista. Mas sei de equipes que trabalham assim.
Então você precisa ver onde estão as oportunidades, seguir páginas como o Motorsport Jobs e ver o que há por lá. E se você ver empresas que estão contratando bastante, é porque os negócios vão bem, e não há problemas se você for chamado para fazer coisas internas. Obviamente, há lugares como o LinkedIn também. Eu mesmo recebo algumas abordagens que são bem presunçosas. Então pense em como fazer isso.
Ler conteúdos como o Motorsport.com, ver o que está acontecendo. Quando há uma categoria nova sendo criada, ou uma nova equipe, se você estiver antenado, perceberá as oportunidades surgindo, porque sempre há algo acontecendo no esporte.
E os pilares tradicionais das equipes e Fórmula 1, você precisa ficar de olho nos sites e nas vagas disponibilizadas, tentando descobrir quais são as peças-chave. Não custa nada escrever um e-mail para alguém. Porque, se surgir algo, talvez aquela pessoa vai lembrar de você. Talvez não tenha nada disponível naquele momento, mas você vai mantendo contato. É o que consigo lembrar agora. Se é isso mesmo que você quer, dará um jeito disso acontecer.
Como é um dia normal no trabalho para você?
Na preparação para o fim de semana, faço muito do meu trabalho em montar programações de entrevistas que já foram acordadas. Há sempre aqueles pedidos de última hora. Então tento garantir que o material para a corrida esteja pronto. Falo com a FIA para ver se Gunther fará alguma coletiva, vejo onde os pilotos serão necessários para avisar à imprensa quando que eles estarão disponíveis, vejo o que os patrocinadores precisam e se há alguma demanda para Gunther ou os pilotos.
Também já fico de olho nas corridas seguintes, garantindo que teremos tudo no jeito. Na verdade, olho sempre para as quatro semanas seguintes, porque sempre tem mais de uma corrida, teste da Pirelli, então monto toda a programação. Mantenho na cabeça quais mudanças são necessárias. E também fico de olho em gravações com os patrocinadores.
Quando não estou na pista executando coisas, estou nas minhas programações, porque você precisa ser organizado. Estou sempre olhando para o que pode acontecer. É isso que faço quando não estou na pista. É preparação para o trabalho. Quando chego na pista, na quinta, meu fim de semana deve estar bem programado, exceto um pedido aqui ou ali de uma TV.
Você organiza também algumas coisas divertidas. Há alguns anos, arranjei para que os pilotos andassem de NASCAR no Circuito das Américas, por causa da Stewart-Haas. E eles nunca tinham tido uma chance dessas antes. Eu simplesmente falei para Gunther um dia, porque não levamos um carro da NASCAR para lá e os pilotos poderem andar durante o GP dos Estados Unidos. Então Kevin e Romain chegaram na quinta de manhã e deram voltas por uma hora com Tony Stewart de instrutor, e foi muito legal. Vocês viram apenas isso, e não as semanas e meses de planejamento necessários para isso.
Nada acontece facilmente, mas é o que gosto, ter a habilidade de criar algo, o que pode ser bem difícil na F1, principalmente com a programação, sendo tão pesada como é. Mas quando você consegue, dando a oportunidade dos pilotos fazerem algo diferente, é ótimo, porque eles adoram. E nós ficamos com muitos conteúdos bons, trabalhando bem com a F1, com os parceiros para gerar mais exposição. Os fins de semana de corrida são bem básicos, mas acabam dando uma sensação de dever cumprido.
Mas há o outro lado, como Bahrein [2020] quando Romain teve o acidente, e isso é algo que você não se preparada, e aí vem toda a pressão da imprensa, a demanda de acesso a pessoas como Gunther e Romain. A batida foi no domingo e na segunda nós anunciamos Pietro como seu substituto, mas ainda estávamos divulgando boletins médicos de Romain do hospital. E havíamos programado para anunciar nossos pilotos para 2021 naquela semana. Aí anunciamos Nikita na terça e Mick na quarta.
Sem dúvidas, foi minha semana mais insana. Mas você precisa se manter organizado. As horas são longas, você resolve as coisas com Gunther e pessoas chave. E no final você fica com aquela sensação de que sobreviveu. Então, enquanto parte do fim de semana pode ser rotineiro, quando algo assim acontece, tudo vai pelos ares e você entra em modo de gerenciamento de crise. As pessoas acham que tudo aqui é nível glamour de Mônaco mas, no geral, estávamos em uma situação de vida ou morte.
Romain Grosjean, Haas F1, Kevin Magnussen, Haas F1 and Stuart Morrison, Head Of Communications, Haas F1 Team
Photo by: Charles Coates / Motorsport Images
O que mais as pessoas precisam saber sobre o diretor de comunicação?
Isso pode parecer legal, mas há muito trabalho nos bastidores que as pessoas não veem. Mas é bem recompensador. Quando você fica no grid em Mônaco ou algo do tipo e olha ao redor, fica pensando que isso é legal. Não vamos para festas, não temos esse modo de vida extravagante, mas quando você olha ao redor percebe que está fazendo algo especial. É um privilégio estar aqui, e há milhares de pessoas que adorariam estar fazendo isso.
Todos somos substituíveis. Não acho que estou fazendo nada tão especial. Outro poderia estar fazendo isso, mas agora sou eu. Há apenas 10 diretores de comunicação nas equipes da F1, então é legal pensar nisso. E tenho sorte de que as pessoas de comunicação da F1 são pessoas legais, que entendem o que fazemos.
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