Equipes fazem jogo duro para receber Andretti na F1; entenda imbróglio

Mesmo com pagamento de taxa de US$ 200 milhões, times estão reticentes à empreitada de Michael Andretti por questões comerciais. Premiação seria dividida entre 11 e não 10 equipes, como é feito atualmente

Michael Andretti, Andretti Autosport

Foto de: Alexander Trienitz

Recordes de audiência, ingressos esgotados e uma infinidade de celebridades renomadas ajudaram a fazer do GP de Miami um dos maiores eventos de Fórmula 1 até aqui, sendo base para a expansão da categoria nos Estados Unidos, que terá três corridas em 2023, com a chegada de Las Vegas ao calendário.

Para Michael Andretti, ainda precisa ser feito mais para continuar o crescente interesse norte-americano: ter uma equipe e piloto do país no grid. Desde que seu pai, Mario Andretti – campeão da F1 em 1978 –, revelou em fevereiro os planos, a Andretti tem trabalhado para ingressar na categoria em 2024 e estabelecer uma nova operação para ser a 11ª equipe, após a negociação com a Sauber ter falhado no último ano.

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Andretti esteve em Miami para uma série de reuniões, visando discutir seus planos com chefes de equipes, dirigentes da Fórmula 1 e o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem. Porém, na melhor das hipóteses, as respostas têm sido mornas: “São milhões de pessoas abraçando a ideia”, declarou Andretti. “Mas não as pessoas certas no momento”, completou.

Nenhum dos players da Fórmula 1 negaria ter uma segunda equipe norte-americana – após a Haas, que raramente se apoiou em sua identidade nacional – seria uma grande jogada para o grid, particularmente pela reputação e projeção existente na operação da Andretti. A família está envolvida na Indy, Indy Lights, Fórmula E, Extreme E e Supercars, com conhecido sucesso e com base sustentável.

“O nome Andretti tem uma grande história na Fórmula 1 e em todo o automobilismo, então acho que seria uma adição valiosa”, disse o chefe da McLaren, Zak Brown, sócio da Andretti na Walkinshaw Andretti United no Supercars. “Uma marca e equipe com muito crédito, com os recursos certos. Penso que é ganho para o esporte”, prosseguiu.”

Colton Herta, Andretti Autosport w/ Curb-Agajanian Honda

Colton Herta, Andretti Autosport w/ Curb-Agajanian Honda

Photo by: Gavin Baker / Motorsport Images

A entrada da Andretti não repetiria Caterham, HRT ou Marussia no início dos anos 2010, no qual, todas elas saíram poucos anos depois. Porém, por mais que o interesse da Andretti possa juntar forças para a Fórmula 1 atual, por essa mesma razão as equipes atuais não se sentem à vontade para que um novo time possa entrar nessa ‘loja fechada’.

“Temos 10 equipes hoje e dividimos a premiação entre essas 10”, apontou Toto Wolff, chefe da Mercedes. “Investimos valores consideráveis nos últimos 10 anos. Cada organização aqui, provavelmente, colocou mais de um bilhão dentro de seus projetos na Fórmula 1 nas temporadas passadas”, completou.

“Isso precisaria ser um acréscimo. Se uma equipe entra, como você vai demonstrar que está trazendo mais dinheiro do que realmente está custando? Um 11º time ocasiona a redução de 10% para todos os outros”, seguiu Wolff.

O medo de diluir as receitas para as equipes foi um ponto na última negociação do Pacto de Concórdia, assinado em 2020. Reconhecendo que um novo time representaria em um pedaço menor do bolo, uma taxa de US$ 200 milhões foi estabelecida para qualquer nova entrada, que seria dividida entre as atuais 10 equipes, além de que este valor protegeria a categoria de aventureiros.

Andretti garante que tem esses US$ 200 milhões para cumprir com os requisitos, mas como os negócios continuam crescendo na F1, o receio é que essa taxa não compense a diluição. “O valor da Fórmula 1 é limitado a poucas franquias e não queremos diluir esse valor apenas adicionando equipes”, apontou Wolff.

Chefe da Red Bull, Christian Horner disse que o dinheiro sempre será um “fator significante” nas conversas e que a Fórmula 1, como detentora dos direitos comerciais, precisa decidir o caminho que vai seguir. “Se eles querem mais equipes, obviamente, vão precisar diminuir suas partes no fundo, pois seria injusto esperar que as outras equipes paguem de maneira indireta pelos novos entrantes”, afirmou.

Mattia Binotto, Ferrari Team Principal, Mario Andretti

Mattia Binotto, Ferrari Team Principal, Mario Andretti

Photo by: Ferrari

Horner disse que US$ 200 milhões é um valor mínimo para a entrada, mas que se deve olhar em longo prazo: “Pelo que eu me lembre, estamos vivendo pela primeira vez na história um momento em que as 10 equipes estão saudáveis financeiramente. US$ 200 milhões significa muito dinheiro, mas, quando você divide entre todos os participantes, o que sobra não te leva a nenhum lugar. E isso será apenas uma única vez, não são US$ 200 milhões todo ano. No final das contas, uma conversa dessas sempre vai parar no lado econômico”, disse.

“É verdade que hoje todos os times estão financeiramente saudáveis, que vão muito bem, mas pode não ser assim nos próximos cinco ou dez anos”, falou Frederic Vasseur. “Temos de tomar cuidado para não voltarmos a ter aquela situação antes ou durante a Covid, que estar no terço final do grid era lutar pela sobrevivência”, continuou o dirigente da Alfa Romeo.

O desafio para a Andretti não será demonstrar de onde vem os recursos para ser um time fiável e competitivo, mas provar que o impacto de sua chegada vai compensar ter mais um para dividir o bolo. Ser uma equipe norte-americana e planejar ter Colton Herta no grid vai ajudar na argumentação. Com o ‘boom’ em Miami e o aceno de Las Vegas, os céticos poderão dizer que esses GPs podem ser mais benéficos do que qualquer equipe americana pode gerar.

Será um longo processo para a Andretti se realmente quiser trabalhar para fazer o sonho da F1 se tornar realidade. A FIA ainda não pediu formalmente qualquer interesse em montar uma nova equipe, por mais que a Andretti tenha dito que Ben Sulayem estaria “apoiando no processo”. Já estão em andamento os planos para montar em Indianápolis uma instalação pensando em Fórmula 1 neste verão norte-americano (inverno no hemisfério Sul), que teria também uma base na Europa. Um risco na visão do próprio Andretti, mas que deve ser feito. “Temos de dar o pontapé inicial”, declarou.

O que a Fórmula 1 deve considerar é o valor agregado que uma nova equipe daria, além de ter a segurança extra de ter outro participante caso alguma das equipes atuais desista e como essa chegada pode afetar os pagamentos da premiação em dinheiro no futuro. Atualmente, a estrutura da categoria funciona bem para quem já está sentado à mesa, o que significa que serão necessários mais do que US$ 200 milhões para convencê-lo a mudar isso.

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