Hamilton cita Senna como inspiração nas pistas e no combate ao racismo: "Quero ver que venci, mas que fui parte da mudança"
Hexacampeão deu longa entrevista ao canal oficial da F1, falando sobre os diferentes impactos que quer deixar na categoria
A cada corrida que passa, Lewis Hamilton vai escrevendo seu nome na história da Fórmula 1, seja pelos recordes batidos ao longo dos últimos anos ou pela discussão que o piloto introduziu no paddock sobre a necessidade de um esporte mais diverso e inclusivo. E Hamilton citou seu ídolo maior, Ayrton Senna, como uma trajetória que o inspirou a ser quem é hoje.
Em uma longa entrevista ao canal oficial da F1, o hexacampeão comentou sobre Senna, e como as atitudes do brasileiro, além da idade o tornaram mais consciente sobre o seu redor, levando o piloto a ter a voz ativa que tem hoje.
Segundo Hamilton, no início ele não previa que teria esse tipo de impacto no esporte, já que seu objetivo era apenas correr.
"Eu queria correr com carros", disse Hamilton. "Queria fazer o que o Ayrton fez. Eu cheguei aqui, consegui ultrapassá-lo. E, para mim, ele teria conseguido muito mais se estivesse vivo. Mesmo assim, superá-lo foi algo acima do que eu jamais poderia ter sonhado. Eu não imaginava que eu estaria nessa situação".
"Estar em um momento em que nossas vozes tem um impacto tão grande, há partes boas e ruins. Tento entender porque passamos por isso e o que vou fazer sobre isso. Vou deixar passar ou vou tentar entender, me educar e ser melhor, ajudando as pessoas e tendo um impacto positivo sobre a vida delas?".
Hamilton atribui essa consciência com a idade e o momento que o mundo passa, onde as pessoas veem que é preciso fazer mais.
"Acho que vem com a idade. É uma questão de viver com consciência. Não ser egoísta. Eu penso em como que eu vou impactar a vida dos meus sobrinhos, como que isso vai ajudar as pessoas que me seguem, como que eu vou fazer com que elas tenham um futuro melhor".
Hamilton ainda respondeu aos críticos que falam que um piloto deveria focar apenas no esporte, sem trazer outras questões ao mundo da F1.
"Eu não escuto eles. Me dizer para parar de fazer algo não vai mudar nada em mim, porque ninguém pode te dizer o que fazer. Eu respeito a opinião deles. Eu vivo neste mundo, e não falo só o mundo da F1, e as opiniões de todos importam".
"O que eu digo, espalha rapidamente. E isso é um poder inacreditável que temos hoje, de lutar por mudanças. Eu acordo e penso: ‘eu venci esses campeonatos, mas o que isso significa?’".
"Quando você se aposenta e tem um ou dos campeonatos mundiais, o que isso significa? Não significa muito na verdade. O que importa é o que você faz com isso. É o impacto que você pode ter que significa algo de verdade. Eu sinto que, se não fizer isso, estarei cometendo um desserviço com as pessoas, com a minha família, meus seguidores".
Lewis Hamilton, Mercedes-AMG Petronas F1
Photo by: Charles Coates / Motorsport Images
Quando perguntado se isso cria uma antítese do que se espera de um piloto de corrida, que é visto como uma pessoa que pensa mais em si próprio, Hamilton defendeu que isso na verdade melhorou sua pilotagem.
"Eu sempre achei estranho que as pessoas preferem ser algo muito fechado. Um campeão tem que ser assim, fazer isso. Mas eu faço diferente. Todos deveriam fazer isso porque somos diferentes"
"Sinto que estou evoluindo, me tornando um outro tipo de piloto. Estou sempre aprendendo sobre o carro e o meu relacionamento com Bono [seu engenheiro], como que a comunicação pode ser melhor, como pilotar melhor".
"Sigo sendo aquele piloto que sempre corre atrás do melhor, isso é minha essência. Mas eu também me tornei consciente, e acho que isso tem feito minha pilotagem um pouco melhor. Acho que adicionou uma nova dimensão às minhas características".
O hexacampeão volta a falar de Ayrton e como o brasileiro movia toda uma nação e pessoas ao redor do mundo e como que isso impactou Hamilton posteriormente.
"Acho que quanto mais velho, você cria uma empatia maior e entende as pessoas. Eu vi Ayrton quando criança e, naquela época, não entendia e não apreciava aquilo porque ainda não tinha passado por essa situação".
"Mas ele teve um impacto tão grande, movia toda uma nação. E não apenas um país, como pessoas ao redor do mundo todo. Ele me tocou profundamente e me levou a fazer aquilo que ele fazia".
"Agora, tenho uma idade próxima a dele e estou mais ciente do que acontece ao meu redor, no mundo. Não sabemos quantos dias ainda temos pela frente. Não vou simplesmente achar que viverei até os 90 anos. Quero garantir que estou tirando o máximo de proveito de todos os dias que tenho pela frente".
Perguntado sobre o que valia mais, os recordes ou escrever um novo futuro na F1, Hamilton falou que quer olhar para trás e ver que venceu em mais de uma frente.
"Eu sou o único piloto negro aqui, por algum motivo. As coisas foram acontecendo e estou nessa posição hoje. Mas chegou um momento que eu percebi que não bastava apenas eu estar aqui".
"Eu precisava fazer mais. Eu posso fazer mais. O que eu amo ver agora é que há a consciência. Aos poucos, as pessoas estão percebendo. Espero que possamos ver mudanças em um curto período de tempo".
"Já vejo pessoas correndo atrás. Precisamos nos manter em cima. E vejo isso como parte do meu trabalho. Porque quero poder olhar para trás e falar que eu venci campeonatos, mas também que eu consegui ser parte da mudança do esporte, tornando mais acessível para as pessoas".
No final, perguntado se trocaria o hepta pela mudanças, Hamilton foi sucinto: "Trocaria".
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