Pilotos: Prefeito prometeu transparência sobre Interlagos
Luciano Burti e Felipe Giaffone saem otimistas após diálogo na prefeitura, mas apontam que concessão seja “melhor caminho” para autódromo
Alvo de incerteza desde a promessa de venda feita pelo ex-prefeito, o tucano João Doria, em 2016, o futuro do autódromo de Interlagos foi debatido na última terça-feira na prefeitura de São Paulo.
Estiveram presentes na reunião, além do atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas, e seus secretários, Waldner Bernardo (presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo), Rubens Barrichello, Felipe Giaffone (presidente da Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo), Luciano Burti e Sérgio Berti e Orlando Sgarbi (comissão Interlagos Hoje).
Falando ao Motorsport.com, Giaffone e Burti revelaram otimismo após o primeiro encontro com os representantes do poder executivo paulistano.
“Não era o nosso intuito sair de lá com tudo decidido”, disse Giaffone.
“Até porque o prefeito não tem esse poder. (O projeto) precisa ir para Câmara e tudo mais, e isso não é rápido. O que anima mais a gente é de ter tido uma conversa aberta e direta. Com o Doria se estava tentando essa conversa há tempos e nunca se conseguia. Mas o prefeito agora se mostrou super profissional e direto ao ponto, o que é bem legal.”
Burti entende que o prefeito foi bastante transparente no diálogo. “O Bruno Covas foi correto conosco e disse que não poderia mudar nada ali naquele momento”, contou o comentarista de Fórmula 1 da TV Globo.
“Não é uma questão simples, tem um cunho político. E também tem a questão do PIU Jurubatuba – isso que vai determinar o que será de Interlagos - se lá vai ser utilizado para zona residencial ou empresarial e o que isso vai requerer. Isso é muito mais importante de se decidir antes de tocarmos na questão do autódromo. Então, ele deixou a gente explicar, anotou todos os nossos pontos, mas deixou muito claro que o PIU Jurubatuba vai determinar os próximos passos de Interlagos.”
O que é o PIU do Arco Jurubatuba?
A votação na Câmara Municipal do Projeto de Intervenção Urbana do Arco Jurubatuba é o que irá definir o destino do autódromo de Interlagos. Segundo o site da prefeitura, os chamados PIUs “têm por objetivo promover o ordenamento e a reestruturação urbana em áreas subutilizadas e com potencial de transformação, sobretudo localizadas na Macroárea de Estruturação Metropolitana”.
Ainda em seu site, a prefeitura diz que "o Arco Jurubatuba abriga um contingente de 150.000 mil habitantes (1,25% da população paulistana) em uma área bruta de 2.158 hectares (1,41% do município), dos quais 1.400 são área de lote, isto é, destinados a edificação".
Durante o encontro com os representantes do automobilismo, o prefeito recomendou que todos acompanhem a tramitação do projeto para estarem cientes do que é conversado pelos vereadores sobre a região de Interlagos. O projeto precisa ser aprovado em duas de três votações.
Concessão x privatização
O medo dos pilotos sobre o fim de Interlagos foi originado de uma preocupação quanto à manutenção do traçado atual. No início do projeto, chegou-se a debater uma possível mudança no layout pista, o que segundo Giaffone seria danoso ao futuro autódromo.
“Existia uma lei que dizia que se o autódromo fosse vendido o novo proprietário poderia fazer o que quisesse. E, obviamente, o autódromo iria por água abaixo, como foi no Rio de Janeiro”, disse.
“Então, resumindo, o medo do Sergio Berti e do Orlando Sgarbi – da associação de Interlagos, que estão acompanhando isso há mais tempo – é que eles acabam aprovando algumas leis da noite para o dia sem ninguém saber, e acabam autorizando essa venda com alguma mudança de lei e com o cara que comprou podendo fazer o que quiser.”
“A concessão seria o melhor caminho. É lógico, no meu ponto de vista Interlagos é mal utilizado hoje. Todo o investimento que foi feito até hoje em Interlagos foi para a Fórmula 1. Então, que seja uma privatização ou uma concessão, a pista tem que ser mantida. Aí que se explore a área lá dentro que não está sendo utilizada como parque, escolas, mecânica e etc. Tem muita coisa para fazer. Se investirem, aquilo pode virar algo interessante para a população.”
Burti diz que ainda há como mudar a primeira proposta do PIU enviado à Câmara.
“Por mais que isso tenha sido prometido pelo próprio Doria durante a campanha - e pelo fato de que ele foi eleito, o que é sinal de que o povo também acolheu Interlagos ser privatizado - não significa que isso não possa mudar.”
“Não digo mudar no sentido de vetar, ou quebrar a promessa feita. Eu digo mudar no sentido de quando isso for para a Câmara, que algumas coisas possam ser alteradas frente ao que estava no projeto inicial.”
“A conversa foi boa no sentido que nós – pilotos e CBA – expusemos os motivos que acreditamos que Interlagos não deve ser privatizado. De que neste caso a questão da concessão seria mais viável, porque você mantém ele como público mas com uma gestão privada.”
Kartódromo é área “delicada”
Por estar em uma área plana e distante de onde passa a pista, o kartódromo corre mais risco de acabar, segundo diz Felipe Giaffone. Para ele, o local que revelou pilotos como Ayrton Senna, Rubens Barrichello e Felipe Massa, e até hoje é local de desenvolvimento de jovens talentos na metrópole, está mais suscetível a alterações.
“O kartódromo é uma área um pouco mais delicada”, definiu.
“É a única área em que se poderia construir. Óbvio que tem um lado emocional muito grande, onde temos a formação dos pilotos... até acho que como última tacada daria para tentar mudar ele de lugar, jogar ele para dentro da pista, ou fazer uma pista com o mesmo layout da atual em outro canto.”
“Isso se a gente não tiver escapatória, claro, porque aquela é a única área nobre, vamos dizer assim, do autódromo. O resto é mais complicado, eles vão ter um pouco de dificuldade por conta de leis ambientais.”
Burti crê que o problema para a construção de outro empreendimento no local do kartódromo seja o próprio autódromo e suas atividades.
“Esta foi é uma questão que tocaram lá, mas cai em um problema. Entra na questão de segurança e de viabilidade. Ok, você faz prédios ali. Agora, quem vai querer morar do lado de um autódromo? Tem toda uma questão de lógica.”
“Quem vai investir em um empreendimento com um autódromo do lado? Eu não gostaria e não vejo ninguém querendo. Quando você pensa na prática, não é tão simples assim. E isso precisa ser considerado.”
O PIU Arco Jurubatuba (Projeto de Lei 204/2018), que define o futuro de Interlagos, foi enviado à Câmara Municipal de São Paulo há cerca de um mês e é considerado um dos projetos prioritários para tramitação.
União do automobilismo
Para Felipe GIaffone, o ponto bom do debate na prefeitura foi a união entre pilotos e dirigentes pelo futuro do automobilismo nacional – algo pouco comum nos últimos tempos.
“Infelizmente os pilotos nunca são muito ligados à política”, admitiu.
“O que é legal foi que foi a primeira vez que vi a associação de Interlagos, junto com uma CBA aberta e junto com uma associação de pilotos com o mesmo ideal. Porque antes disso você só tinha interesses políticos, ou só a CBA com os interesses dela. Então, eu acho que isso agora foi bom para mostrar que estamos unidos.”
Já Burti crê que esta união tenha chegado tarde demais.
“Acho isso positivo sem dúvidas, mas, por outro lado, é uma certa falha”, indicou o ex-F1.
“Já tivemos outros momentos que precisávamos desta união, brigando por outros autódromos – na questão da segurança, pedir melhorias – e isso nunca aconteceu. Sempre foi difícil de unir pilotos e equipes e a CBA. Infelizmente, esta união só está ocorrendo porque temos um problema: a perda de Interlagos.”
“Acho que antes disso já deveria ter havido uma união. Mas, pelo menos isso está acontecendo agora. A CBA, desde que teve a mudança na presidência (de Cleiton Pinteiro para Waldner Bernardo), está mais aberta. O Felipe Giaffone, que lidera a associação de pilotos, tem feito um bom trabalho tentando unir os pilotos junto à CBA inclusive. Então isso é bom.”
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