MotoGP: Crise escancarada? Márquez se reúne com nº2 da Honda na Itália para falar de insatisfação
Hexacampeão sofreu mais uma queda neste fim de semana, e já questiona publicamente o trabalho feito pela montadora para resolver crise com RC213V
A situação da Honda na MotoGP parece ir de mal a pior. E em meio a uma crise na equipe, escancarada pela falta do rendimento esperado da moto e as diversas quedas dos pilotos ao buscar o limite da performance, Marc Márquez teve uma reunião em Mugello com Shinjii Aoyama, o número 2 da marca japonesa, para falar de sua frustração.
O encontro aconteceu no motorhome da equipe no paddock do GP da Itália, tendo durado 25 minutos. Além dos dois, esteve presente também Koji Watanabe, presidente da Honda Racing Corporation (HRC), a divisão desportiva da marca que, desde o ano passado, aglutina as operações em campeonatos de carros e motos.
Márquez teve ainda a companhia de seu empresário, Jimmy Martinez. Já Tetsuhiro Kuwata, diretor da HRC, esteve presente, mas somente nos cinco primeiros minutos. E o que chamou a atenção é o fato de Alberto Puig, chefe da equipe Honda, e Shinishi Kokubu, diretor técnico, não estiveram presentes.
Após o fim da reunião com Aoyama, Márquez foi até os boxes para se preparar para a corrida, da qual completou apenas seis voltas antes de ir novamente ao chão, enquanto brigava com Luca Marini por uma posição de pódio.
O desastre para a Honda em Mugello foi ainda maior. Ainda no início do fim de semana, Joan Mir caiu mais uma vez e terminando uma fratura na mão, que o impede de disputar o GP da Alemanha. Outra baixa da marca japonesa para o Sachsenring é Álex Rins, que foi ao chão no sábado, fraturando a perna. O espanhol já passou por uma cirurgia, mas ainda precisará de outra.
Shiniji Aoyama, segundo da direita para a esquerda
Photo by: Phillip Abbott / Motorsport Images
O espanhol sempre foi conhecido por ter uma habilidade de levantar uma parede capaz de camuflar seu estado especialmente quando não vive um bom momento. Mas, em Mugello, após a queda, decidiu se fechar no motorhome da HRC antes de voltar.
"Às vezes é preciso respirar para se acalmar, antes de voltar aos boxes e conversar com vocês", disse o espanhol a jornalistas. Desta vez, parecia impossível esconder sua frustração pela falta de reação daquela que, em teoria, seria a montadora mais potente do campeonato.
Em Le Mans, Márquez pediu à Honda uma série de melhoras que não vieram para Mugello, apesar da distância de quase um mês entre as provas. E, em sua largada na sprint, o protótipo do espanhol teve um problema que os técnicos não souberam resolver para o dia seguinte, levando-o a perder posições no domingo antes mesmo da primeira curva.
"Está claro que não trazem peças novas porque não dá para testar na pista. É difícil de saber o que está acontecendo no Japão, mas desde o início do ano, só recebemos um chassi novo, nada demais", disse Márquez quando questionado pelo Motorsport.com se a Honda estaria se esforçando para melhorar.
Mas o nível de descontentamento de Márquez é muito maior do que podemos intuir olhando de fora. O calvário de mais de dois anos após a fratura do braço em Jerez, em julho de 2020, ficou para trás.
E, com ele, também esse sentimento de dívida que tinha com a Honda por respeitar suas decisões e tempos, deixando-o gerenciar sua lesão com calma. Após a quarta operação, feita há quase um ano, e o processo de recuperação, Márquez não tem mais limitações físicas.
Isso fica claro quando vemos ele em cima da moto: Portugal - pole e pódio na sprint - e Le Mans - P2 no grid e P5 na sprint - e em Mugello, voltando a figurar na primeira fila do grid.
"Ele está pronto para vencer novamente, e vemos isso toda vez que ele vai à pista. Já a moto não", dizem fontes anônimas ligadas ao espanhol. A preocupação do círculo íntimo de Márquez gira em torno de uma possibilidade real que aterroriza a todos: uma nova lesão. A combinação da RC213V atual e a forma de competir de Márquez preocupa, incluindo o hexacampeão.
"O preocupante é que todos os pilotos da Honda estão caindo, e é isso que temos que mudar para o futuro. Quanto mais você vai, mais chances tem de se lesionar", disse. "Veremos o que se passa".
O ambiente na Honda é tão carregado que, mesmo a ida ao Sachsenring, onde Márquez é indiscutivelmente o rei, é visto mais como um fardo do que uma oportunidade.
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