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Opinião: O dia mais triste da história do motociclismo

Motorsport.com analisa incidente entre Rossi e Marquez no GP da Malásia que pode ter definido o campeonato mundial de 2015

Marc Marquez, Repsol Honda Team e Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Jorge Lorenzo, Yamaha Factory Racing e Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Marc Marquez, Repsol Honda Team e Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Jorge Lorenzo, Yamaha Factory Racing, Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing e Marc Marquez, Repsol Honda Team
Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Jorge Lorenzo, Yamaha Factory Racing
Largada da prova em Sepang
Jorge Lorenzo, Yamaha Factory Racing
Marc Marquez, Repsol Honda Team e Jorge Lorenzo, Yamaha Factory Racing
Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Marc Marquez, Repsol Honda Team e Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Marc Marquez, Repsol Honda Team
Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Valentino Rossi, Yamaha Factory Racing
Maxi Biaggi lidera
Pódio: vencedor Valentino Rossi com Max Biaggi e Troy Bayliss
Max Biaggi
Acidente de Sete Gibernau
Acidente de Sete Gibernau
Casey Stoner
Casey Stoner
Marc Marquez, Repsol Honda Team
Marc Marquez, Repsol Honda Team
Dani Pedrosa, Repsol Honda Team, Marc Marquez, Repsol Honda Team e Valentino Rossi, Movistar Yamaha MotoGP
Marc Marquez, Repsol Honda Team
Marc Marquez, Repsol Honda Team
Marc Marquez, Repsol Honda Team
Marc Marquez, Repsol Honda Team

Todo fã de qualquer esporte aprende desde cedo a admirar seus competidores. Por quê? O motivo é simples. Torcidas à parte, qualquer atleta que chegue a um alto nível dentro de sua modalidade dedicou muito tempo em sua preparação física, psicológica e técnica para aquilo. Todos direcionam suas vidas desde muito cedo a dar seu melhor para tentar ser o melhor.

É por isso que corridas são fascinantes. O homem faz o possível para domar a máquina e fazer com que ela seja a extensão perfeita de seu corpo. No caso do motociclismo isso é mais admirável ainda, já que os pilotos duelam por vezes no corpo a corpo com seus rivais. E tudo isso rigorosamente sentados em cima de motores com potência de 260 cv, que levam veículos indomáveis para uma pessoa comum facilmente a mais de 320 km/h. Esses superdotados ainda raspam seus cotovelos e joelhos no chão, inclinando suas motos em mais de 60 graus em 18 finais de semana ao redor do mundo durante os 365 dias do ano.

O que se espera quando se liga a TV para se ver uma corrida é que todos deem o melhor de si por si e, no fim, pelo espetáculo.

Não foi o que aconteceu em Sepang neste domingo. Influenciado ou não pelas declarações de Valentino Rossi na coletiva de imprensa na quinta-feira (chegaremos lá), Marc Marquez não largou com o intuito de ganhar a prova. Basta entender um pouco de motociclismo para ter entendido seu jogo. Assim que Lorenzo o passou na terceira volta (por erro de sua parte ou não, você decide), o espanhol de 22 anos passou a dedicar sua atuação no GP da Malásia a exclusivamente atrapalhar Valentino Rossi.

Travava Rossi nas freadas, atravessava a moto na frente do italiano nas entradas das curvas e nas retas mostrava sempre mais ação. Era Rossi passar que Marc dava o troco sem fazer esforço. Valentino percebeu e reclamou. Marquez continuou com sua estratégia suja e levou o heptacampeão da MotoGP a cometer seu pior erro em 20 temporadas no mundial. Intencionalmente ele usou o pé para travar o freio dianteiro da RC213V de Marquez, o fazendo o cair após forçá-lo para fora do traçado. As duas grandes olhadas que deu em Marc antes da queda não deixam dúvida. Sabia o que estava fazendo.

É importante dizer que o que Valentino fez é indefensável, embora muitos fãs do italiano não consigam ver a gravidade real da atitude. Fazer um piloto cair propositalmente em um esporte tão perigoso está além do irresponsável. Nada justifica. No entanto, Marquez teve a opção de fazer sua corrida e escolheu largar para interferir na decisão do título mundial de 2015.

Rossi recebeu três pontos de penalidade da direção de prova. Estes três juntamente a um que já tinha o farão largar de último na decisão do mundial em Valência em duas semanas.

O argumento de Rossi é plausível?

Na quinta-feira, Rossi soltou a bomba na coletiva de imprensa. Acreditava que havia sido atrapalhado por Marquez na Austrália e foi enfrentar os jornalistas munido da análise dos tempos da corrida volta a volta. Parecia irreal que alguém pudesse ter pensado em algo de índole tão duvidosa em uma corrida movimentada como a que tivemos em Phillip Island como o 46 sugeria. Mas, analisando os tempos (e o GP da Malásia, agora), é plausível dizer que Marquez tenha perdido rendimento no meio da prova de propósito para atrasar Rossi. Confira:

A tensão crescia a cada segundo do final de semana. No sábado, após a classificação, outra provocação de Rossi: “espero que todos pensem apenas em suas corridas amanhã”, disse quando questionado se deveria fazer as pazes com Marc.

Mas por que Marquez faria algo assim? A relação dos dois, que era parecida com a de dois irmãos com considerável diferença de idade, começou a desandar desde o GP da Argentina (3ª etapa deste ano), quando se tocaram a duas voltas do fim. Como resultado do contato Marquez caiu e abandonou a prova, deixando a vitória para Rossi. O outro incidente foi na Holanda (8ª corrida), quando Rossi ganhou a prova cortando a última chicane após uma tentativa de ultrapassagem de Marquez. A partir daí a relação dos dois ficou violentamente estremecida nos bastidores, embora não se visse pela TV.

Na última quinta-feira, Rossi tentou colocar pressão em Marquez. No entanto, ao contrário de antigos rivais, como Biaggi e GIbernau, a ‘pilha’ só deixou Marc mais bravo, sem abalo psicológico. Tiveram dois incidentes nos treinos, nos quais Marquez tentou seguir Rossi para tirar o italiano do sério. Com dois pilotos de tanta personalidade, o final (?) da história não poderia ser diferente.

Por que Marquez fez o que fez?

Marc Marquez foi atacado fortemente por Rossi na quinta-feira. Valentino falou à mídia italiana: "Ele prefere que Lorenzo vença. Ele está com raiva de mim por uma questão pessoal. Embora ele nunca tenha dito isso, ele acha que na Argentina eu o fiz cair. Ele ainda pensa na última chicane de Assen. Em sua cabeça, ele sente que deveria ter vencido a corrida. Desde então, ele tem estado com raiva e pensa como uma criança: ‘se eu não ganhar, você não vai ganhar também’. Neste ponto, o mal menor para ele é Lorenzo ganhar."

Rossi acrescentou: "Se eu ganhar outro título, Marquez sabe que terá que ganhar mais um para me ultrapassar. Se Jorge ganha, ficam mais ou menos no mesmo."

O italiano continuou criticando: "Em Laguna Seca em 2013 ele queria fazer comigo o que tinha feito com Stoner cinco anos antes. Ele poderia facilmente ter me passado três curvas mais tarde. Foi o primeiro sinal. Não queria acreditar."

Não satisfeito em só criticar, Rossi partiu para o lado pessoal, duvidando que o espanhol de 22 anos tenha crescido o tendo como ídolo. "Ele realmente me idolatrou? Será que ele realmente tinha um pôster meu em casa? Não tenho tanta certeza. Gostaria de voltar no tempo e ver. Preferia mais o comportamento de Max Biaggi. Não nos gostávamos, mas isso pelo menos era claro e honesto."

Antigos rivais de Valentino

Biaggi havia sido até este final de semana o único capaz de tirar a compostura de Rossi. A briga dos dois iniciou bem antes de correrem juntos, ainda no fim dos anos 90. Max se sentia ameaçado pelo surgimento de Rossi, uma estrela italiana em ascensão e despojada de qualquer tipo de – falando português claro – malismo. Max jamais aceitou o fato de ser superado por Valentino, o que os levou a uma situação perigosa na pista (Japão 2001, quando Max jogou Rossi na grama propositalmente com o cotovelo) e uma briga fora dela (Catalunha 2001). Porém, pela superioridade técnica de Rossi, o duelo não durou muito.

Com Gibernau foi diferente, mais parecido com Marquez. Rossi e Sete eram grande amigos até o GP do Catar de 2004. Foi quando o espanhol dedurou Valentino e sua equipe por terem emborrachado o grid com uma scooter na noite antes da prova. A pista de Losail, no meio do deserto, era nova e por isso estava bem suja. Rossi foi jogado para a última fila pela direção de prova e caiu durante o GP. Na prova seguinte (Malásia, por incrível que pareça), Rossi usou a coletiva de imprensa para colocar pressão em Sete. Disse que ele nunca mais venceria uma prova. A ‘pilha’ incomodou Gibernau, que – coincidência ou não – jamais venceu de novo apesar de ter liderado o maior número de voltas da temporada seguinte.

Com Stoner e Lorenzo o negócio foi menos intenso, apesar de o australiano guardar grande rancor do italiano após o GP dos EUA de 2008, que acabou fazendo com que o piloto perdesse o título daquele ano caindo nas duas corridas seguintes por conta da pressão psicológica já conhecida de Rossi.

Valentino jamais foi bonzinho.

Dia mais triste da história da MotoGP

Se há uma semana vibrávamos com uma corrida na qual os quatro primeiros se passaram nada menos que 52 vezes, hoje lamentamos uma mancha na carreira e dois grandes campeões. Não há nada nas regras que impeça Marquez de ter feito o que fez, mas a falta de respeito que mostrou por Valentino, por seus fãs, patrocinadores e equipe é condenável.

Ao mesmo tempo, Rossi se negou a ver Marquez estragando sua corrida e resolveu mostrar ao mundo sua desaprovação com uma atitude questionável no dia que se tornou o piloto mais experiente da história do motociclismo, com 329 largadas.

Fosse outro piloto a fazer o que Rossi fez, uma desclassificação era mais do que provável. A punição imposta pela FIM acabou sendo a mais branda. Ele ainda chegará em Valência sete pontos na frente no mundial com os pontos do terceiro lugar conquistado na Malásia.

Por ora o fato é um só: 25 de outubro de 2015 ficará para sempre marcado na história como o dia da maior derrota da história do motociclismo. Todos perderam. Rossi, Marquez, MotoGP e os fãs, que fazem o esporte ser o que é. É uma pena.

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