Razia: "Sou um piloto versátil"
Com exclusividade, Luiz Razia falou de sua nova experiência, a de competir num dos maiores ralis do mundo, além de comentar passagens marcantes de sua carreira bastante diversificada
Luiz Razia, 26, já esteve na porta de entrada da Fórmula 1, foi vice-campeão da GP2, competiu pela Indy Lights, Campeonato Brasileiro de Marcas e uma série de outras competições. Recentemente teve uma nova experiência, num dos maiores ralis do mundo, o dos Sertões, que terminou neste fim de semana. Ao lado de Luiz Eckel, o baiano terminou na quinta posição da classe SPD e em 16° na geral dos carros. Em entrevista exclusiva, Razia contou detalhes sobre todas as mudanças de sua "versátil" carreira, incluindo a mais recente, sobre o que o fez sair da F1 e a experiência com Jules Bianchi. Confira:
Motorsport (MS): Como foi a experiência de iniciar no rali, logo num dos maiores do mundo?
Luiz Razia (LR): O Rally dos Sertões foi uma experiência incrível. Era algo que sempre tive curiosidade, até porque quando era moleque, eu corrida na terra e agora voltei, só que num 4X4 e com um navegador ao lado passando todas as informações. Além de passar por riachos, pedras, vários tipos de piso que várias fazendas têm e vários tipos de estrada que o país possui. Foi muito legal, adorei e além de tudo o resultado foi legal. Acho que tudo somou para ser uma experiência positiva.
MS: Aconteceu algo inusitado, curioso ou engraçado?
LR: Não tive, mas o mais interessante para mim foi ter um navegador ao meu lado. Na pista você está acostumado a andar e já sabe o caminho do circuito, mas ali eu era controlado pelo meu navegador, que fez um trabalho fantástico. Essa era a parte mais engraçada, porque eu queria acelerar, ficava com raiva e ele me dizia pra ficar calmo, ir numa boa, que tinha que terminar, acelerar aqui, tirar o pé ali. Para mim, agora, eu vejo que foi muito engraçado.
MS: O trabalho dele difere muito de um chefe de equipe no rádio durante uma prova em pista?
LR: É totalmente diferente. A gente não falava muito com o chefe de equipe, foram poucas vezes. Ficávamos todos conectados no rádio e eu falava com o navegador o tempo inteiro. Falávamos com outros pilotos também que pediam passagem, com direção de prova e com uma série de pessoas também.
MS: Fisicamente, como você terminou esse rali?
LR: O maior esforço é mental. A pesar de chacoalhar bastante e você guiar por várias horas, a direção é hidráulica e dentro do carro é relativamente confortável. Não é como um carro de fórmula, como na GP2, por exemplo, que exigia muito esforço nos braços. No rali, a força lateral quase não existe e o volante é elétrico, então quanto ao esforço físico, não tive problemas.
MS: Você é um piloto que já fez um pouco de tudo. Ainda há alguma preferência, um sonho ou alguma categoria que gostaria de se fixar?
LR: Olha, eu digo que sou bem versátil. Toda competição que participei, eu fui para o pódio. Independentemente de onde eu fui, eu fiz bem feito. No Brasileiro de Marcas, fui o segundo num fim de semana, agora no rali eu fui o quinto na nossa categoria, na Stock Car que fizemos no início do ano, ficamos em nono, etc. Todas as competições que participei nesse ano fui bem, o que é muito bom porque foram vários tipos de carro e conseguiu uma boa performance em todas as corridas que fiz. Eu gostaria muito de representar uma marca, como estou fazendo com a Suzuki. É óbvio que ela não faz nenhum tipo de fórmula ou turismo, o que foge um pouco daquilo que eu fazia. Mas representar a marca num rali, principalmente no Rally dos Sertões, foi muito legal. Hoje esse é o meu objetivo, representar uma marca, desenvolver um carro, trabalhar para a melhoria dos automóveis.
MS: A sua ida ao Rally dos Sertões veio de encontro a uma solicitação da Suzuki?
LR: Eu já venho trabalhando na Suzuki, desenvolvo os carros e eles me colocaram para correr no Rally dos Sertões até porque eu sou um piloto da fábrica. Nessa experiência conseguimos ver algumas partes como suspensão e freios, que utilizamos no rali. Então esse não deixou de ser um trabalho de fábrica. Como trabalho com eles durante o ano, esse foi mais um trabalho que fiz dentro da marca.
MS: Agora saindo do mundo dos ralis e indo para um assunto mais triste, você chegou a conhecer bem Jules Bianchi?
LR: Sim, ele competiu comigo na GP2, fomos juntos para pódios. Conversávamos muito também na época que ele era piloto reserva da Ferrari. Ele testou na Force India, assim como eu. Ele era super gente boa, um dos poucos franceses legais (risos).
MS: Você via potencial nele, como a maioria das pessoas falam hoje?
LR: Ele acelerava muito. Inclusive quando ele me substituiu na Marussia, quando eu já não tinha mais chances por causa do patrocinador, eu desejei a ele toda a sorte, porque ele era um dos pilotos que eu via que merecia uma chance. Ele não chegou a ganhar um campeonato de GP2, mas sempre demonstrou ser um piloto muito competente e profissional.
MS: Como foi o episódio em que você foi um piloto de Fórmula 1 por poucos dias e acabou não permanecendo na categoria por causa do patrocínio?
LR: Foi difícil. Tínhamos dois investidores. Um deles é o atual investidor do Marcus Ericsson, só que ele prefere não aparecer. É um cara que coloca dinheiro, mas não coloca a marca no carro. E esses dois investidores se comprometeram a fazer o campeonato da F1 comigo. Eles chegaram a fazer os primeiros pagamentos e aí eu fui anunciado pela equipe, depois eles deram para trás. Acredito que como eles mexiam com investimentos do mercado americano, que estava em crise, no final eles acabaram desistindo. Daí, não restou outro jeito para mim, a não ser ir embora.
MS: Quais serão os próximos passos?
LR: Tudo ainda está incerto, mas adianto que não estou arriscando a fazer nada que eu tenha que procurar patrocínio. Cansei dessa ladainha. Hoje em dia, trabalho somente para quem quer que eu seja um profissional, receber daquilo que eu faço e não quero mudar muito essa minha atitude. Tenho feito várias outras coisas na Suzuki e está muito legal até agora.
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