Entrevista

Pego no antidoping na Stock em 2015, Rafa Matos é absolvido

Ao Motorsport.com, advogado diz que piloto usava medicamento contra câncer que tinha substância derivada da maconha; absolvição será divulgada na próxima semana

Rafa Matos

O final da temporada de 2015 da Stock Car foi ofuscado por escândalos de doping fora da pista. Na mesma etapa (Curitiba, em outubro) dois pilotos foram pegos com substâncias consideradas proibidas: Lucas Foresti (inclusive vencedor da corrida 1 daquela rodada dupla) e Rafa Matos.

Lucas foi pego com uma substância anabolizante, enquanto que Matos teve constatado em seu teste uma substância derivada da maconha.

Marcelo Aiquel comandou as defesas dos dois casos nos tribunais. O advogado gaúcho foi o responsável pela absolvição de ambos - Lucas Foresti ainda durante o período pré-temporada, e Rafa Matos, que terá seu veredito divulgado na próxima semana.

“Foi uma vitória. Nossa estratégia deu certo”, falou Aiquel ao Motorsport.com.

“O Rafa havia sido pego no exame antidoping com uma substância em tese proibida que ele usava para fazer um tratamento terapêutico.”

Segundo Aiquel, Matos tem um câncer, o que fez com que tivesse um remédio com a substância proibida receitado por um médico dos EUA. O uso da substância é permitido no país, mas não era no Brasil. Por oferecer um risco à mobilidade do ombro, Matos teria desistido de fazer uma operação para corrigir o problema.

“Ele (Matos) começou a sentir dores no ombro e descobriu que tinha este tumor na articulação”, relatou.

“O Rafa tem um problema de câncer, é um problema ósseo muito sério de ombro que ele não pode operar. Ele teve isso nos últimos anos. Se ele fizer essa cirurgia, perde a mobilidade, ou seja, deixa de correr – o que ele não quer.”

“Como ele mora nos EUA, começou um tratamento alternativo com THC – vulgarmente conhecido como maconha. Só que para isso ser considerado como entorpecente, temos de ter duas substâncias no exame feito. Só aparece uma delas neste caso. É como fumar um cigarro de maconha apagado.”

“Nos EUA, ele tinha inclusive autorização para usar isso. Essa autorização ainda não era válida no Brasil na época.”

“Lá ele consegue fazer este tratamento alternativo que ajuda neste sentido. Ele tem menos dor e consegue se movimentar melhor. Isso não era permitido aqui, agora é. Tudo isso aconteceu neste tempo, entre a punição e o julgamento. Ele sabia que este remédio tinha esta substância, ele tinha uma autorização nos EUA. Em tese deveria valer no Brasil, mas a Anvisa na época proibia, agora não mais.”

Aliado à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o advogado defendeu no tribunal que Matos não fez nada de errado.

“Com o andamento do processo, a modernização também chegou aqui e a Anvisa passou a apoiar este tipo de tratamento, o que nos deu todo o embasamento para pedir a revisão da primeira pena que ele teve.”

Passado na Stock Car

Marcelo Aiquel já atuou em diversos casos de doping na categoria. Ele esteve também ao lado de pilotos como Alceu Feldmann e Adalberto Jardim.

“Fui contratado dele (Rafa Matos) junto de um advogado de Belo Horizonte, o Dr. Thomas Paiva. Nós temos uma tradição de trabalhar com doping. Atuamos em outros casos, como o do Lucas Foresti – que também tivemos sucesso – e o do Alceu Feldmann (2012).”

“O exame antidoping é muito rigoroso, e não ‘olha para o lado’. É matemático: 2+2 são 4. Às vezes alguém é pego no antidoping sem ter culpa nenhuma. Tivemos por exemplo um caso do Adalberto Jardim que foi uma substância que nós descobrimos depois que o único medicamento que usava ela no mundo era uma pomada dermatológica, que ele passava no cachorro dele que tinha feito uma cirurgia.”

“A pomada ajudava a cicatrizar. Isso entrou no organismo dele pela pele. Ele foi denunciado e nós conseguimos a absolvição dele.”

Aiquel defende uma flexibilização do regulamento antidoping. “Como a regra é muito dura, mesmo aparecendo só uma das substâncias a confederação tem de punir.”

“Tem aí o que eu considero um exagero da lei, que é a suspensão preventiva. Para qualquer atleta que for pego, você primeiro suspende e depois vê se ele tem razão. Ninguém devolve isso. O Rafa Matos e o Lucas Foresti perderam a última etapa da Stock Car em São Paulo sem que houvesse uma recompensa depois, mesmo que nós tenhamos ganho os dois processos.”

“Quem é o patrocinador que vai querer apoiar um piloto pego no doping? Nenhum. Depois que o cara é absolvido, não tem o que fazer.”

“Brigamos para que a lei antidoping seja revista no automobilismo. Não pode ser como é para o atletismo, que qualquer coisa é considerada doping.”

“Maconha é uma coisa diferente inclusive. Quem fuma sabe, ela te dá uma letargia, o que para o automobilismo é ruim. É um processo demorado, mas que estamos brigando para tentar mudar.”

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Gabriel Lima
Stock Car
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