Conheça Bruna Tomaselli, a brasileira conseguiu vaga na W Series
Ao Motorsport.com, catarinense falou sobre preconceitos, desafios, ídolos, sonhos e preparação para se tornar profissional
A representante brasileira começou a carreira da mesma forma que muitos jovens, no kart. Com o passar dos anos, o hobby foi se tornando mais sério, até que ela percebeu que seu sonho era um dia chegar à Fórmula 1.
“Quando eu tinha sete anos, minha família me levou para assistir uma corrida de kart em São Miguel do Oeste, cidade perto de onde eu moro, e alguns dias depois meu pai me deu um kart de presente", contou a catarinense. "No começo era mais uma brincadeira. Eu ia treinar aos fins de semana e a família toda ia junto. Comecei a disputar corridas na região, depois comecei a treinar mais, competi nos estaduais, nacional e foi assim que comecei minha carreira”.
Depois do kart, ela passou pela Fórmula Júnior, pela Fórmula 4 e atualmente compete na USF 2000, categoria de base disputada nos Estados Unidos que serve como parte do caminho que leva jovens talentos à IndyCar.
“Eu percebi que não era mais só uma brincadeira aos 13 anos, quando me mudei para Florianópolis para ficar perto da equipe com que disputava campeonatos júnior de kart, e para poder treinar o quanto eu quisesse”.
Sonhos e objetivos
Em mais de 14 anos competindo nas pistas do Brasil e do mundo, Tomaselli conta que nunca pensou em desistir. “Não me vejo fazendo outra coisa”, cravou a jovem, sem hesitar.
No entanto, ela busca manter os pés no chão e tem um 'plano B' para o caso de não conseguir seguir profissionalmente no automobilismo. Bruna estuda jornalismo, mas garante que os estudos não interferem na meta principal e que não hesitaria em deixar a faculdade de lado para seguir competindo se fosse preciso.
“A vida de piloto não é 100% certa, então resolvi fazer faculdade para ter um plano B. Escolhi o jornalismo por poder continuar trabalhando com o esporte. Mas o automobilismo é meu objetivo principal e não vou deixar de correr para fazer faculdade".
Dificuldades no esporte
Perguntada se já foi vítima de preconceitos por ser mulher, Bruna garante que não passou por nada do tipo. “Fora do carro, nunca senti nenhum tipo de preconceito por ser mulher". Sobre assédio, ela disse: "Sei que abusos acontecem em outros esportes, mas no automobilismo é diferente, pelo menos eu nunca me senti intimidada ou algo assim”.
“O que acontecia comigo quando corria de kart é que dava para perceber que os meninos dificultavam mais a ultrapassagem e tentavam me tirar da pista porque era uma menina passando. Quando eram outros meninos a atitude era outra”.
Para a brasileira, a maior dificuldade para correr profissionalmente é outra: a falta de patrocínio. “Acho que a maior dificuldade que tenho e que a maioria dos pilotos encontra é a falta de patrocinadores, que são importantes para continuar subindo de categoria e continuar sendo competitiva”.
Bruna Tomaselli, Pabst Racing, USF 2000
Photo by: Divulgacao
Entretanto, Bruna faz questão de destacar que existem obstáculos que ajudam no crescimento. “O maior desafio é a adaptação. Corri de kart e fui subindo. Passei por três ou quatro fórmulas diferentes. Estar sempre em adaptação para estar sempre brigando na frente é desafiador, mas positivo".
Questionada sobre seus planos, Tomaselli explicou: "O objetivo é entrar na W Series e brigar pelo título, pois sei que tenho capacidade. Se não der certo, vou buscar um patrocínio para ir para a Indy Pro, seguindo o caminho em que estou hoje. Uma possibilidade é voltar para o Brasil e buscar uma vaga na Stock Light. Mas penso que o caminho ideal seria passar pela W Series e depois pela Fórmula 3, para estar 150% preparada, depois ir para a F2 e, se chegar lá um dia, a F1".
Rotina de treinos
Bruna detalhou como é sua preparação para competir em alto nível. Seus treinos envolvem uma alimentação com atenção especial ao consumo de proteínas e exercícios físicos de resistência, focados no pescoço e no antebraço. Além de práticas com kart e simuladores.
"Eu tenho acompanhamento com um personal trainer para me deixar preparada", afirmou Tomaselli. "Faço academia praticamente todos os dias da semana e tenho acompanhamento de nutricionista, para me deixar sempre 100% para quando for competir".
"Além disso, eu também treino de kart duas ou três vezes por semana, com o carro de seis marchas, que é o que mais se aproxima do que eu estou competindo agora. E também tenho um simulador em casa, com que treino pelo menos uma hora por dia".
Referências
A catarinense também revelou quem são seus ídolos: Ayrton Senna e a pioneira brasileira nas categorias de ponta, Bia Figueiredo. “Infelizmente não pude ver o Senna correndo, mas assisti tudo que tem sobre ele. Ele me inspira não só como piloto, mas como pessoa fora das pistas, pela determinação e tudo mais”, disse a jovem brasileira.
“E também a Bia Figueiredo, por ser mulher e brasileira, além de ter chegado a uma categoria de nível mundial, a Indy”. Entre os pilotos da Fórmula 1 atual, ela revela seu favorito: “Torço bastante pelo Max Verstappen na F1, por ele ser novo e ter entrado já sendo competitivo desde a primeira temporada”.
Entenda o que é a W Series
A W Series foi criada no fim de 2018 e tem como objetivo oferecer um espaço de desenvolvimento e competição para pilotos mulheres de todo o mundo. Sua temporada inaugural foi disputada neste ano, tendo a britânica Jamie Chadwick como grande campeã. Os carros possuem as mesmas características daqueles usados na F3 Europeia, com chassis Tatuus F3 T-318 e motores turbocharger de 270 cavalos e quatro cilindros.
O grande trunfo da categoria é que as competidoras não precisam pagar nem buscar patrocinadores. Todas as despesas são mantidas pela própria W Series. Além disso, os carros, que são idênticos, são sorteados em cada fim de semana de corrida, bem como as equipes de engenheiros e mecânicos. Ou seja, as habilidades das pilotos são o grande diferencial.
Foi por triunfar neste ambiente puramente competitivo que Chadwick assinou um contrato para ser piloto de testes da Williams. Outras pilotos que se destacaram na primeira temporada foram Beitske Visser, Alice Powell, Marta Garcia e Emma Kimilainen.
Testes em Almeria
Para a temporada 2020, permanecerão apenas as 12 melhores deste ano. As oito vagas remanescentes serão disputadas entre 14 novas competidoras, que participam nesta semana da etapa de seleção no circuito de Almeria, na Espanha, e as demais da temporada 2019. Estas últimas não participarão dos testes, pois os organizadores entendem que já conhecem seu potencial. Por isso, não há um número exato de quantas novatas serão escolhidas.
Tomaselli está no grupo das 14 mulheres que estão sendo colocadas à prova no circuito espanhol. A catarinense disse que a W Series representa uma oportunidade única para seu futuro. “Minha carreira está em jogo. É a chance da minha vida. Se eu entrar vou poder brigar pela ponta”, disse. “Além de não precisar pagar para correr, eles premiam todas as pilotos, da primeira à última, então é uma grande oportunidade de ganhar um bom valor para depois poder subir de categoria”.
Controvérsias
Quando foi anunciada a criação de um campeonato exclusivo para mulheres, o mundo do automobilismo se dividiu entre aqueles que enxergaram na W Series uma promotora de oportunidades e aqueles que viram a competição como uma forma explícita de segregação.
A britânica Pippa Mann, que compete desde 2011 em algumas etapas da IndyCar, é uma das principais vozes contrárias à W Series, por entender que o valor investido para criar uma competição exclusiva para mulheres seria mais bem investido se usado para patrociná-las em campeonatos tradicionais.
“Que dia triste para o esporte a motor”, disse Mann em seu Twitter no dia em que a criação da W Series foi anunciada. “Aqueles com recursos para ajudar pilotos mulheres estão escolhendo segregá-las, o que é o oposto de apoiá-las. Estou profundamente desapontada em ser testemunha deste retrocesso histórico”
Tomaselli discorda desta visão. Para ela, a W Series serve como um degrau, e não como um fim, ajudando a dar suporte e visibilidade para as mulheres no automobilismo. “Acho que a W Series está dando uma oportunidade para as mulheres. Além de que a visibilidade e o prêmio são muito importantes”, disse a catarinense.
“Tenho certeza que muitas pilotos que competiram neste ano não teriam condições de pagar um campeonato deste nível, correndo na Europa, se não tivessem patrocínio. Além disso, a W Series não tem o objetivo de segurar ninguém para sempre, está preparando as pilotos agora para dar a oportunidade de subir de categoria depois”.
Já a veterana Bia Figueiredo tem uma visão mais pragmática. Para ela, a existência de uma categoria à parte é desnecessária, mas o importante é que a W Series seja capaz de dar oportunidades reais para as pilotos.
“Para mim não há necessidade de uma categoria à parte, mas acho que qualquer iniciativa para ajudar mulheres a se prepararem é válida” disse ao Motorsport.com. “Então não sou contra a W Series. Ainda não sei o que vai acontecer com a campeã, se ela realmente vai ter uma chance. Acho que isso é o mais importante, que a categoria ajude uma mulher a chegar na F1”.
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