10 anos: relembre GP em que apenas 6 carros largaram
Marcando negativamente a F1, o polêmico GP dos EUA de 2005 completa dez anos nesta sexta-feira.
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Há exatos dez anos a Fórmula 1 preenchia uma de suas páginas mais curiosas e - por que não dizer - lamentáveis de sua história. O GP dos EUA de 2005 é um marco na categoria pelo boicote de sete das dez equipes participantes. A culpa foi dos pneus Michelin, que fizeram os 14 pilotos que corriam com a fabricante francesa irem aos pits no final da volta de apresentação, já que a fábrica não garantia a segurança dos compostos durante as 73 voltas programadas para o GP.
CONFIRA A GALERIA DE FOTOS DO GP DOS EUA DE 2005 AQUI
O primeiro susto
Durante o segundo treino livre de sexta-feira, o alemão Ralf Schumacher bateu seu Toyota na curva 13 do circuito de Indianápolis. Aparentemente, seu pneu traseiro esquerdo havia sofrido uma falha. Em decorrência do acidente, o alemão foi vetado para a prova. Curiosamente, o piloto havia sofrido um acidente no mesmo ponto um ano antes também por uma falha similar no pneu. Em 2004, o episódio lhe rendeu duas pequenas fraturas na coluna e o tirou de seis corridas.
O brasileiro Ricardo Zonta foi seu substituto. Na mesma sessão, o piloto – com o terceiro carro da Toyota - acabou sofrendo com o mesmo problema no pneu, mas na curva cinco. Zonta apenas rodou e parou na grama.
Preocupada com as falhas e não entendendo por que seus pneus não eram seguros o bastante para correr em Indy, a Michelin mandou que fossem trazidos de avião os compostos que haviam sido utilizados no GP da Espanha daquele ano, que poderiam oferecer uma melhor resistência.
10 voltas
Mesmo utilizando o composto que poderia ser mais resistente, a Michelin confirmou no sábado que não recomendaria aos times dar mais de dez voltas com mesmos pneus. O diretor de provas da F1, Charlie Whiting, disse que caberia a cada equipe saber a que velocidade seus pilotos poderiam passar pela curva 13. Ele também negou que uma chicane pudesse ser construída para diminuir a velocidade dos carros. Whiting disse que, caso isso ocorresse, a corrida não seria chancelada pela FIA – a transformando em uma prova fora do campeonato, não valendo pontos.
Ainda assim, prevendo a má aceitação dos fãs, os times planejavam a construção da chicane na curva do oval, passando por cima da FIA. No entanto, a Ferrari, nadando contra a maré das outras equipes, resolveu vetar a construção improvisada. Com poucas horas antes da provas, diversas reuniões foram realizadas. Ninguém sabia o que poderia acontecer.
A prova
Sem uma decisão concreta até às 14h locais, a luz verde foi dada para a volta de apresentação. No entanto, ao final dela os 14 carros de pneus Michelin (Renault, Toyota, McLaren, Sauber, Williams, Red Bull e BAR) liderados pelo pole Jarno Trulli voltaram aos pits, deixando apenas os seis de pneus Bridgestone (Ferrari, Jordan e Minardi) no grid.
A corrida começou normalmente, e foi alvo de vários protestos dos fãs que vaiaram, jogaram objetos no circuito e fizeram faixas de protesto contra os dirigentes da FIA.
Dentro da pista, Barrichello passou Schumacher após a primeira rodada de pit stops, enquanto o português Tiago Monteiro liderava a disputa entre Jordans e Minardis. Na saída do segundo pit, Schumacher jogou seu carro na frente do brasileiro que vinha na pista. Para não bater, Barrichello passou reto na primeira curva, indo para a grama.
A atitude de Schumacher desencadeou de vez a inimizade entre os dois, com Barrichello rescindindo seu contrato com o time e indo para a Honda em 2006.
Monteiro ficou com o terceiro lugar, que é o único pódio de um piloto português na história da Fórmula 1. Seu companheiro, o indiano Narain Karthikeyan, ficou em quarto. A dupla da Minardi ficou logo atrás, com Albers e Friesacher fechando em quinto e sexto lugares.
A visão de quem esteve lá
Editor-chefe do Motorsport.com Brasil, Felipe Motta trabalhou como repórter na corrida. Segundo o jornalista, a tensão do final de semana só é comparável às decisões de título que cobriu.
“O que lembro do clima, é que depois que aconteceu o acidente do Ralf e toda a investigação, ficou claro que a Michelin havia cometido um erro e que a corrida dificilmente aconteceria em condições normais.”
“Foi um exemplo da F1 na questão comercial : 'vai ter corrida porque tem que ter corrida'. A defesa da Ferrari era legítima, vinham em um ano difícil. Trouxeram um equipamento em condições de correr, o problema não era deles. A lógica foi essa."
“Dos grids que cobri foi um dos mais tensos da história, senão o mais tenso. Tínhamos chefes de equipe se reunindo, pilotos com expressão carregada. Acho que só é comparável a disputas de título mesmo.”
O pós-corrida foi marcado pela famosa frase de Rubens Barrichello na entrevista à mídia brasileira. “É um brasileirinho contra um mundo muito grande. É uma luta intensa. Tenho de dar de frente com muita coisa que não gosto”, disse na ocasião.
Felipe lembra: “Os grandes depoimentos foram do Rubinho sobre a Ferrari depois da prova e do Zonta indo para o grid. Perguntei a ele se dava medo de correr, ele me respondeu que sim. Outro depoimento legal foi o do Monteiro depois da corrida. Era evidente que a Ferrari ia fazer dobradinha, mas a Jordan teria um pódio. Ele disse: 'as pessoas falam que foi fácil, mas foi uma grande disputa minha e do Narain'. Foi um 'corra pela sua vida'. Era a única chance que teriam de pódio.”
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