Análise

ANÁLISE: A encruzilhada em que a F1 se encontra após três casos positivos de Covid-19 entre pilotos

Os diagnósticos de Norris, Leclerc e Gasly levantam muitas questões sobre o papel dos pilotos como influenciadores e o que esperar para 2021

Pierre Gasly, AlphaTauri

A notícia do domingo a noite (31) de que Pierre Gasly havia testado positivo para a Covid-19 enquanto está em Dubai causou pouca surpresa na comunidade da Fórmula 1.

Anunciado em uma publicação no Stories do Instagram, mesmo formato usado por Charles Leclerc e Lando Norris com seus diagnósticos no mês passado, sendo que ambos também estiveram em Dubai, Gasly disse que estava em isolamento e se sentindo bem, pedindo que seus seguidores "tomassem cuidado".

O terceiro caso positivo em menos de um mês e o sexto no grid da F1 agiu como um despertar para a categoria, que precisa compreender os riscos que enfrenta. Quase um terço dos pilotos já foi infectado, uma porcentagem alta, independente de como você analisar.

Mas por que os pilotos da F1 estão tão suscetíveis a contrair a Covid-19 em comparação aos atletas de outros esportes?

A F1 já enfrenta naturalmente desafios maiores que outros grandes campeonatos do mundo do esporte devido à sua internacionalização. Diferente de esportes como rugby e futebol, ou mesmo outros campeonatos do esporte a motor, o DNA global da F1 torna impossível que a categoria siga adiante sem correr alguns riscos, como passar por aeroportos usados por viajantes.

Lando Norris, McLaren

Lando Norris, McLaren

Photo by: Steven Tee / Motorsport Images

Os protocolos determinados pela F1 e a FIA funcionaram bem, retornando um número bem pequeno de positivos e reforçando planos de contenção quando eles surgiram. Isso garantiu a manutenção da temporada de 2020, acontecendo de modo seguro, mesmo com as regras rigorosas em vigor, especialmente em Abu Dhabi, que criou uma "biosfera" para manter o paddock afastado do resto da cidade.

Mas o regime regular de testes exigido para os eventos não está em vigor durante as férias, dando ao paddock uma folga dos invasivos exames. Isso em um momento em que as restrições são reforçadas ao redor do mundo, que obrigam as pessoas a se manterem vigilantes, especialmente com o surgimento das variantes.

No final do ano passado, Esteban Ocon explicou como seria difícil relaxar as precauções mesmo sem os testes regulares, já que os pilotos precisam cumprir programas intensos de treinamento durante o inverno europeu.

"Vamos ter um período de treinamento intensivo. Preciso recuperar o peso que perdi durante a temporada e retomar a forma novamente", disse. "Mas é complicado viajar pela Europa nesse momento. É complicado abaixar a guarda, não podemos fazer isso".

"Não vamos ser testados tão frequentemente, mas não queremos ficar doentes, nos sentirmos mal e perder 15 dias".

Os efeitos da Covid-19 nos atletas de elite como pilotos de F1 foi visto fartamente no ano passado. Lance Stroll perdeu o GP de Eifel por conta da doença, abandonando o final de semana antes da classificação no sábado e recebendo o diagnóstico no dia seguinte, ao chegar na Suíça. Não foi fácil para o canadense retomar sua forma após voltar, admitindo ao Motorsport.com mais tarde no ano que seguiu sentindo as consequências da doença.

"Não foi uma recuperação fácil nas primeiras corridas", disse. "Ainda tive um pouco daquela ressaca da Covid por algumas corridas, Portugal e Ímola. E foi difícil. Eu fiquei fora do carro por quase um mês, entre Rússia e Portugal, com Covid e sem me exercitar. Perdi massa muscular. Então foi difícil".

É um risco que os pilotos tinham consciência, mas isso não parou vários deles de viajaram. Com isso, muitos fãs passaram a questionar a necessidade de suas viagens. Em um momento em que diversos "influencers" pedem perdão publicamente por passarem uns dias em Dubai alegando que estão fazendo trabalhos essenciais, mas acabam publicando fotos na beira da praia em momentos de lazer, os pilotos da F1 não ficaram imunes a essas críticas.

Pierre Gasly, AlphaTauri

Pierre Gasly, AlphaTauri

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

Norris e Leclerc foram questionados pelos fãs por conta de suas viagens a Dubai. A McLaren disse que Norris estava no local para um treinamento intensivo, mas que teve uns dias de férias antes. Já Gasly tem um apartamento em Dubai e passa tempo lá durante as férias, o que, tecnicamente, o coloca "em casa". Mas o francês foi fotografado interagindo com pessoas enquanto não utilizava máscaras e sem manter o distanciamento social. 

 

Com os países reiniciando os processos de lockdown no final do ano passado, o baixo número de casos de Covid-19 em Dubai tornou a cidade um local atraente para os viajantes, por ser popular e de alcance fácil para os viajantes europeus.

A Emirates estava fazendo uma divulgação massiva de seus voos, colocando Dubai como um "corredor de viagens" e um local ideal para pessoas do Reino Unido, já que não precisavam cumprir a quarentena de duas semanas na chegada

A maioria das restrições haviam sido removidas, exceto a utilização de máscaras, enquanto os Emirados Árabes Unidos iniciam um programa ousado que pretende vacinar 50% da população até março.

Mas, sem surpreender ninguém, os casos aumentaram intensamente. Em 30 de janeiro, o país registrou um recorde de 3.657 novos positivos, levando o governo do Reino Unido a colocar o país na "lista vermelha", fechando as fronteiras.

Diversos outros atletas que viajaram para Dubai para fugir do verão europeu também testaram positivo, incluindo jogadores do Manchester City e do Arsenal. Na Escócia, o time do Celtic perdeu 13 jogadores para uma partida após um dos atletas, que estava em um programa de treinamento em Dubai, testou positivo, forçando os outros a entrarem em isolamento.

Esse período de férias da F1 é, possivelmente, o mais necessário na história recente da categoria. A maratona de 17 corridas em pouco mais de cinco meses esgotou o paddock, sendo importante que todos tenham um tempo de folga. Os pilotos tiveram algumas das liberdades que costumam aproveitar tirado deles, como viajar para onde quiserem entre corridas.

"Você se sente em uma jaula, sem ter a liberdade de fazer o que quiser e ver quem você quer", disse Gasly ao Motorsport.com antes do fim da temporada. "Então eu vou aproveitar a oportunidade para fazer isso nas férias, porque quem sabe o que acontecerá no próximo ano. Talvez tenhamos uma situação similar".

A natureza internacional da F1 não explica totalmente porque tantos pilotos foram infectados pela Covid-19. Em comparação, a MotoGP tem um calendário muito similar, mas apenas quatro pilotos entre a MotoGP, a Moto2 e a Moto3, tiveram resultados positivos. A maioria dos pilotos passa suas férias em casa na Europa.

Alguns pilotos e equipes da F1 optaram por manter em baixa a divulgação sobre suas movimentações nas férias. Sergio Pérez e Sebastian Vettel viajaram para o Reino Unido nas últimas semanas para visitar suas novas equipes e iniciar a preparação para a temporada, mas, além disso, tivemos poucos sinais de pilotos visitando as fábricas ou tirando férias, seguindo os conselhos das equipes para lembrar da situação global.

Charles Leclerc, Ferrari

Charles Leclerc, Ferrari

Photo by: Ferrari

Uma teoria que alguns defendem, é que foi melhor para Norris, Leclerc e Gasly terem pego Covid-19 agora no lugar de no meio da temporada, sendo forçados a perderem corridas. É uma ideia similar ao polêmico "acampamento de corona" que Helmut Marko sugeriu em março do ano passado.

As pesquisas científicas apresentam resultados mistos. Um estudo recente da Public Health England defende que "uma imunidade natural adquirida por uma infecção passada dá uma proteção de 83% contra reinfecção", podendo durar por até cinco meses. Mas ainda assim é possível ser portador da Covid-19 e transmití-la para outras pessoas. E ainda não é certo quanto tempo a imunidade dura.

O preço que os pilotos infectados pela Covid-19 terão que pagar ainda é dúvida para o futuro, se é que haverá algum. Norris já completou seu isolamento e voltou ao Reino Unido, enquanto Leclerc já andou com a Ferrari em Fiorano. Nenhum enfrentou ainda a imprensa neste ano, mas será interessante saber o quanto que as preparações para a pré-temporada foram impactadas pelo vírus.

O novo CEO da F1, Stefano Domenicali, disse recentemente sobre a necessidade dos pilotos serem embaixadores para as visões da categoria fora da pista, relacionando com a campanha #WeRaceAsOne (Corremos como Um) e a luta antirracismo.

Mas isso também deveria valer para a pandemia. É importante que os pilotos sigam as determinações do melhor modo possível, mesmo durante as férias, não apenas para o seu próprio bem, mas também tendo a ciência da situação que o mundo todo passa. Não é porque no momento eles não correm o risco de perder alguma corrida que eles devem largar tudo de lado.

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Luke Smith
Fórmula 1
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