Análise

ANÁLISE F1: Ferrari muda chefe de equipe, mas estabilidade compensa mais

Alguns times chegaram a mudar o homem responsável pelo comando da Fórmula 1 cerca de seis vezes em dez anos

Mattia Binotto, Team Principal, Ferrari

A saída de Mattia Binotto da Ferrari ainda é um assunto bastante comentado no mundo da Fórmula 1, com chefes de outras equipes analisando o que a chegada de um novo comando na escuderia italiana pode representar para o time, principalmente em 2023.

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Christian Horner, chefe da Red Bull, deu um soco em Maranello: "O próximo será o sexto chefe de equipe da Ferrari com que me sentarei desde que estou na Red Bull." O principal nome da atual campeã de construtores destaca como a estabilidade é um elemento fundamental para se conquistar os resultados. 

Só as equipes que não atingem seu objetivos na F1 tendem a trocar de chefia e a escuderia italiana, apesar de ser uma equipe de ponta, não consegue encontrar o equilíbrio e fechar os ciclos antes de iniciar uma trajetória virtuosa.

Christian Horner, Team Principal, Red Bull Racing

Christian Horner, Team Principal, Red Bull Racing

Photo by: Erik Junius

Desde que foi oficializada a decisão que levou Mattia Binotto e Ferrari ao 'divórcio', entre os vários comentários que se seguiram, não faltaram críticas à política de propriedade da equipe, inclinada a culpar os que estão na linha de frente pelos fracassos.

No futebol existem presidentes conhecidos como suplentes e a direção da Ferrari foi (mais ou menos secretamente) acusada de seguir a mesma linha. Mas é realmente assim? Analisando a última década, surge um quadro claro, em que na Ferrari há uma troca de chefe de equipe superior à média das outras duas equipes de ponta, mas é um cenário que gera diversas avaliações.

A estabilidade da Red Bull imediatamente chama a atenção, onde Horner está começando a jogar sua décima sexta temporada no comando da equipe. Além de Franz Tost (mais próximo de Horner em termos de estabilidade), destacam-se as dez temporadas de Toto Wolff à frente da Mercedes, que se tornará onze em 2023.

Esse número sugere uma primeira avaliação: vencer prolonga a vida profissional. Não é por acaso que os últimos onze campeonatos mundiais de pilotos tiveram sete títulos atribuídos à Mercedes e quatro à Red Bull, somando oito a três na classificação de Construtores. Nas últimas semanas, muito se falou sobre o período de jejum que a Red Bull passou (de 2014 a 2019), período em que Horner nunca foi questionado.

No entanto, é preciso considerar que o quadro de funcionários à frente da equipe nesses cinco anos foi o mesmo das quatro temporadas anteriores que conquistaram oito títulos mundiais, entre pilotos e fabricantes. Ter marcado quatro temporadas, como Horner conseguiu fazer (juntamente com Adrian Newey e Helmut Marko) de 2010 a 2013, protegeu-o de possíveis dúvidas sobre o seu trabalho, confiança recompensada com o regresso ao topo que começou em 2021.

Stefano Domenicali, CEO, Formula 1

Stefano Domenicali, CEO, Formula 1

Photo by: Carl Bingham / Motorsport Images

O cenário na Ferrari é diferente. Entre os últimos quatro chefes de equipe que se sucederam no comando da escuderia, apenas Stefano Domenicali conseguiu trazer um título mundial para Maranello (campeonato de Construtores em 2008) e seu mandato durou um total de mais de sete temporadas, de 1º de janeiro de 2008 a 14 de abril de 2014. Nos sete meses seguintes, o comando passou para Marco Mattiacci, e em sua aventura em Maranello sempre haverá a suspeita de que ele era um homem de transição e não uma escolha planejada para durar no tempo.

Seguiram-se dois ciclos de quatro épocas cada, e também neste caso a vitória do mundial não chegou. Nesse período, a melhor Ferrari foi vista em 2018, quando Lewis Hamilton levou a melhor sobre Sebastian Vettel a duas corridas do fim, mas isso não impediu o fim do relacionamento com Maurizio Arrivabene alguns meses depois.

Nas equipes que não atingiram os seus objetivos, existe o denominador comum de uma importante rotatividade. A tendência também aparece no caso da McLaren, que viu quatro chefes de equipe se alternarem em dez anos, enquanto na sede de Enstone (primeiro Lotus, depois Renault/Alpine) no mesmo período houve até seis chefes de equipe no comando da equipe.

O cenário muda nas equipes privadas, onde se destaca uma maior estabilidade devido sobretudo à relação de confiança que se estabelece entre o dono do time e o responsável pela sua gestão.

Durante seis temporadas Bob Fernley foi o homem de eleição de Vijay Mallya à frente da Force India, como no caso de Gunther Steiner (chefe da equipe desde a sua criação) com Gene Haas e Monisha Kaltenborn, mulher escolhida por Peter Sauber. No caso da Williams, as oito temporadas de Claire Williams no comando da equipe estão ligadas à propriedade da equipe mantida pela mesma família.

Para os delegados na função de liderar o time, o cenário de uma equipe pertencente a um grande grupo é decididamente mais complexo do que a realidade de um particular. É o caso da Ferrari e, já há algumas semanas, também da Red Bull que, após a morte do fundador do grupo Dietrich  Mateschitz, corre o risco de perder parte da autonomia de que desfruta há quase vinte anos.

Esclarecer com um telefonema para o proprietário é muito diferente de ter que se reportar a uma Diretoria, mas são processos que não podem ser evitados em grandes estruturas.

Toto Wolff, Team Principal Mercedes,  con Zak Brown, CEO McLaren Racing

Toto Wolff, Team Principal Mercedes, con Zak Brown, CEO McLaren Racing

Photo by: Erik Junius

Nesse contexto, destaca-se a posição atípica de Wolff como chefe de equipe, mas também acionista (com 33%) da equipe Mercedes-AMG. Toto é responsável perante a alta administração da Daimler e da Ineos (que detém a participação restante), mas sua opinião sobre o assunto vai além da de um chefe de equipe tradicional, e isso também (além dos quinze títulos mundiais conquistados em oito temporadas) é uma garantia nada desprezível quando se trata de estabilidade.

Chefe de equipe: quem mudou e quem não mudou

 

2012

2013

2014

2015

2016

Ferrari

Domenicali

Domenicali

Domenicali/Mattiacci

Arrivabene

Arrivabene

Mercedes

Brawn

Wolff

Wolff

Wolff

Wolff

Red Bull

Horner

Horner

Horner

Horner

Horner

McLaren

Whitmarsh

Whitmarsh

Dennis

Dennis

Dennis

Sauber

P.Sauber

Kaltenborn

Kaltenborn

Kaltenborn

Kaltenborn

Williams

F.Williams

C.Williams

C.Williams

C.Williams

C.Williams

AlphaTauri

Tost

Tost

Tost

Tost

Tost

Renault*

Boullier

Boullier

Lopez

Lopez

Vasseur

A.Martin**

Fernley

Fernley

Fernley

Fernley

Fernley

Haas

-

-

-

-

Steiner

 

2017

2018

2019

2020

2021

2022

Ferrari

Arrivabene

Arrivabene

Binotto

Binotto

Binotto

Binotto

Mercedes

Wolff

Wolff

Wolff

Wolff

Wolff

Wolff

Red Bull

Horner

Horner

Horner

Horner

Horner

Horner

McLaren

Boullier

Boullier

Seidl

Seidl

Seidl

Seidl

Sauber

Vasseur

Vasseur

Vasseur

Vasseur

Vasseur

Vasseur

Williams

C.Williams

C.Williams

C.Williams

C.Williams

Capito

Capito

AlphaTauri

Tost

Tost

Tost

Tost

Tost

Tost

Renault*

Abiteboul

Abiteboul

Abiteboul

Abiteboul

Brivio

Szafnauer

A.Martin**

Fernley

Szafnauer

Szafnauer

Szafnauer

Szafnauer

Krack

Haas

Steiner

Steiner

Steiner

Steiner

Steiner

Steiner

*Lotus (2012-2015)
*Force India (2012-2018), Racing Point (2018-2020)

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Roberto Chinchero
Fórmula 1
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