Análise: o que significa o interesse da Mercedes por Bottas?
Nos últimos dias, ficou claro que Valtteri Bottas é a primeira escolha da Mercedes para substituir Nico Rosberg e que a Williams está aberta para negociar a liberação do finlandês. Adam Cooper explora as implicações deste possível acordo
Duas semanas se passaram desde a decisão da aposentadoria de Nico Rosberg, que deixou a cúpula da Mercedes na luta para encontrar um novo companheiro para Lewis Hamilton.
A equipe disse nesta quinta-feira que não haverá nenhum anúncio antes de 3 de janeiro, o que deixou aos observadores desta situação extraordinária a chance de recuperar o fôlego.
O cenário mais provável é que a Williams acabe concordando em liberar Valtteri Bottas em troca de um pacote de compensações a ser determinado pela Mercedes, mas apenas se o finlandês puder ser substituído por um piloto devidamente qualificado.
O homem que a Williams tem em vista não é outro senão o recém aposentado Felipe Massa, que agora se encontra em uma posição de negociação extremamente forte, assumindo, é claro, que o brasileiro esteja disposto a reverter sua decisão e voltar ao cockpit em 2017.
Toto Wolff e Niki Lauda souberam da decisão de Nico poucos dias antes dela ser anunciada e enquanto a primeira reação pública do primeiro era o elogio, o outro exaltou a situação difícil que o piloto tinha deixado seus empregadores.
"O que mais me irrita é que agora Nico está nos dizendo que ele continuaria se não tivesse ganhado o campeonato ", disse Lauda ao jornal Die Welt alguns dias depois que a notícia foi anunciada.
"Isso é algo que ele poderia ter pelo menos sugerido quando assinou seu contrato. Nesse caso, poderíamos ter preparado um plano B, teríamos que estar preparados."
"Todos nós demos a ele a oportunidade de se tornar campeão do mundo em um carro fantástico e então ele nos diz que quer se aposentar?"
"Isso criou um grande buraco nesta grande equipe de trabalho. E ficamos parecendo idiotas."
Wehrlein, a última opção
A única carta que a equipe tinha na manga, fortuitamente, era Pascal Wehrlein. O ex-campeão do DTM está esperando a oportunidade caso seja exigido, mas é evidente que ele será uma escolha de último caso.
Quando Sebastian Vettel concordou com sua mudança para a Ferrari durante o fim de semana do GP do Japão de 2014, Helmut Marko e Christian Horner decidiram naquela mesma noite promover Daniil Kvyat, que ainda estava em sua primeira temporada na Toro Rosso.
Wolff poderia ter rapidamente optado por Wehrlein, talvez depois de alguns dias de reflexão. O fato é que ele sugere que, apesar de ter um ano de experiência na F1, Wehrlein não é considerado o homem certo para ser companheiro de Hamilton.
Wolff quer proteger seu jovem valor daquilo que poderia ser uma situação destruidora de carreira? Muito, muito cedo, em outras palavras? Ou, sabendo muito bem de suas capacidades de testes e de sua temporada no Manor, Wolff simplesmente acredita que Wehrlein não está indo bem o suficiente para levar uma disputa com Hamilton?
Se este for o caso, então os financiadores de Wolff podem muito bem questionar a eficácia e o custo do programa júnior da Mercedes. Por que colocar todo esse esforço em desenvolver o próximo Rosberg?
Atrair um grande nome impossível
A Mercedes precisa do piloto mais forte possível por uma variedade de razões, e não apenas porque precise de dois carros marcando pontos. Tem que empregar alguém que não deixe a equipe totalmente nas mãos do tricampeão.
Há também a questão do enorme impacto que Rosberg tinha, tanto no desenvolvimento do carro e no aperfeiçoamento do setup durante um fim de semana de corrida. Essa enorme perda tem que ser resolvida e requer alguém com experiência.
A Mercedes nunca iria atrair um superstar estabelecido, um Fernando Alonso ou um Sebastian Vettel. Como vimos no passado, os contratos podem ser quebrados, mas tem que haver a contrapartida e não havia nada para a Ferrari ou McLaren a ganhar por fazer algo que possa ajudar a Mercedes.
Qualquer equipe iria lutar para manter seu principal nome. Para a Mercedes, entrar em um disputa legal com um grande rival não era atraente.
O nome de Carlos Sainz foi mencionado nos últimos dias e com Pierre Gasly na espera, significa que a Red Bull realmente tem um piloto à mão que possa querer promover.
Fontes dizem que aconteceram conversas sobre Sainz, mas a sugestão é de que a Red Bull estava dificultando a Mercedes, pelo fato da equipe campeã do mundo ter sido contra ela no passado. Ele nunca seria disponibilizado.
"Por que faria isso?", Disse Christian Horner à BBC nesta semana. "Carlos fez um ótimo trabalho. Ele é um piloto da Red Bull. Investimos nele para colocá-lo na F1 e todos estão em contratos de longo prazo, então não faria sentido alimentar um dos meus principais oponentes."
"Se Daniel Ricciardo anunciar sua aposentadoria em janeiro ou Max Verstappen escorregar no chuveiro e quebrar sua perna, a Red Bull se culparia se tivesse acabado de deixar Sainz ir embora."
Para a Mercedes, Bottas é pelo menos um alvo realista e a Williams, uma equipe que estava disposta a conversar. Não só a sua posição como cliente da Mercedes cria essa óbvia possibilidade, mas o papel de longa data de Wolff na gestão da carreira do finlandês abriu ainda mais essa linha de comunicação.
Negociações com Williams
No entanto, para a Williams nunca seria uma questão de um simples desconto no negócio do motor, e entregar sua estrela, razão pela qual as discussões ainda estão em curso. A equipe tem que mostrar resultados na pista e não apenas na bolsa de valores. Como tal, qualquer incentivo financeiro tem que ser significativo o suficiente para a equipe ser capaz de mostrar que o financiamento extra, em última análise, torna o carro mais rápido.
Além de dinheiro, o que mais a Mercedes pode oferecer? Como um incentivo adicional, poderia liberar Paddy Lowe, que parece destinado a se mudar para Williams, de qualquer compromisso contratual. Ter Lowe a bordo antes do início da próxima temporada, seria um grande impulso para a equipe de Grove. Essa pode ser uma das cartas que Wolff deve jogar nos próximos dias.
Entretanto, a equipe colocou um grande esforço no desenvolvimento de Bottas, e muito se pensou em definir a dupla com Lance Stroll como a melhor solução para 2017.
Mesmo com um incentivo financeiro maciço, uma troca direta com Wehrlein não será o suficiente, especialmente com a complicação adicional que seu parceiro principal, a Martini, não vai aceitar dois jovens pilotos no time. A equipe tem que ter um piloto experiente e competitivo que possa ajudar Stroll e manter os patrocinadores felizes.
Felipe Massa anunciou aposentadoria para 2017, mas ele quer fazer isso?
O anúncio de aposentadoria do brasileiro foi motivado pelo fato de que Stroll estava chegando, Bottas não estava indo embora e não haveria lugar para ele na Williams. Sem alternativas decentes disponíveis, ele optou por sair.
Mas enquanto a desilusão de Jenson Button com a F1 se tornava cada vez mais aparente com o fim da temporada se aproximando, Massa nunca deu essa impressão, como se ele não estivesse totalmente confortável com sua decisão. Ele terá que conversar com a família, mas persuadi-lo a mudar de ideia pode não ser uma tarefa tão difícil para Frank e Claire Williams.
"Eu acho que ele gostaria de fazer isso", disse um ex-piloto da F1 nesta semana. "Ele tomou a decisão certa depois de não ter um bom lugar."
"Então agora, voltando, acho que não há vergonha em dizer 'eu vou correr por mais um ano, porque agora eu tenho a oportunidade de permanecer na equipe.' Eu acho que é uma solução muito viável."
É uma solução que teria grande apelo para Bernie Ecclestone, que está ansioso para ter um piloto brasileiro no grid.
Paul di Resta, que passou o ano passado como piloto reserva da Williams sem realmente guiar o carro, é outro plano B possível. Ele está fora da F1 há três anos, mas permaneceu forte no DTM, e com as novas regras de 2017, pode ser uma opção.
E é claro que ele é um homem da Mercedes que só pode ajudar em qualquer discussão. Toto poderia até concordar em pagar seu salário.
Quanto a Bottas, ele tem quatro anos de experiência e como tal, está perfeitamente posicionado para dar o passo para a equipe campeã do mundo.
Alguns têm dúvidas sobre o quanto ele pode evoluir, tendo passado tempos difíceis ao lado de Massa nas últimas temporadas, se ele ganhar o assento da Mercedes terá a oportunidade perfeita de mostrar que ele ainda está em uma trajetória ascendente.
De 2018 em diante
Há também a questão intrigante da não disponibilidade das grandes estrelas a curto prazo, mas alguns deles estarem sem contrato para 2018.
A maioria dos pilotos provavelmente se resignou ao fato de que a combinação Hamilton/Rosberg permaneceria na Mercedes nos próximos anos, mas Wolff já pode ter iniciado essas discussões.
Será que a Bottas estará preparado para se juntar à Mercedes podendo correr lá por apenas um ano? Claro que ele vai, porque terá um carro vencedor. Se ele correr bem contra Hamilton no próximo ano, sua cotação subirá e outras equipes de ponta começarão a buscá-lo para 2018.
De fato, um membro do paddock sugeriu que a Ferrari deveria fazer uma oferta pelos serviços de Bottas agora e tentar desencorajá-lo de ir para a Mercedes.
Um grande ponto positivo para a Mercedes é que, enquanto Bottas deve exigir de Hamilton na pista, sua presença não será perturbadora na harmonia da equipe, ao contrário se Alonso, Vettel ou Verstappen estivessem no time. Ele não é o tipo de cara político.
Dito isto, Hamilton pode desenvolver algumas preocupações sobre o duplo papel de Wolff como chefe de equipe e como parte da equipe que gerencia a carreira de Valtteri, o que poderia trazer teorias da conspiração.
"Eu não acho que Lewis se importaria", disse Bernie Ecclestone à Sky Sports nesta semana. "A menos que fosse óbvio que eles estejam fazendo algo para ajudar Bottas contra ele."
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