Análise: As dificuldades da F1 para realocar o GP da China
Em meio aos lançamentos dos novos carros e os testes de pré-temporada de Barcelona, um tópico ainda domina a discussão na F1: o destino do GP da China
A Fórmula 1 é conhecida mundialmente por ser um esporte com uma tradição de que "nada nos faz parar", independentemente do que está acontecendo no mundo ao redor, exemplificado pelo GP da África do Sul, em Kyalami durante o apartheid. Porém, a situação do Coronavírus é tão ampla que parece ser inevitável que o GP da China não aconteça em 19 de abril.
As empresas aéreas estão cortando voos para a China, governos estão falando para seus cidadãos saírem do país se possível, e as autoridades esportivas locais estão interrompendo a realização e organização dos eventos. É possível que as coisas melhorem até abril e estas restrições cheguem ao fim.
Mas, realisticamente falando, mesmo se isso acontecer, quantas pessoas envolvidas com a categoria estarão dispostas a viajar para a China logo após o fim da crise - e o que suas famílias tem a dizer sobre isso? Ou será que seus empregadores - incluindo gigantes corporativos como Daimler, Renault, Honda e Pirelli - tomarão decisões por eles, mantendo uma restrição da empresa à viagem?
O resumo disso é: a Fórmula 1 e a FIA devem tomar uma decisão quanto a isso o mais rápido possível, para que todos possam planejar o que fazer durante os três finais de semana que devem separar Hanoi de Zandvoort. A questão é se a decisão a ser tomada será pelo cancelamento ou o adiamento da prova.
É uma situação difícil para a Fórmula 1. Há um problema óbvio das taxas de recebimento da prova, com a corrida, além do fato da China ser um mercado muito significativo a ponto da Liberty estar tentando buscar uma segunda prova no país. Perder o momento com o cancelamento da corrida em 2020 seria uma enorme dor de cabeça.
Há alguma chance real de encaixar a corrida em algum momento do ano? Uma olhada no calendário para o segundo semestre sugere que não. Olhem como fica:
30 de Agosto | GP da Bélgica |
06 de Setembro | GP da Itália |
13 de Setembro |
LIVRE |
20 de Setembro | GP de Singapura |
27 de Setembro | GP da Rússia |
04 de Outubro |
LIVRE |
11 de Outubro | GP do Japão |
18 de Outubro | LIVRE |
25 de Outubro | GP dos Estados Unidos |
01 de Novembro | GP do México |
08 de Novembro | LIVRE |
15 de Novembro | GP do Brasil |
22 de Novembro | LIVRE |
29 de Novembro | GP de Abu Dhabi |
06 de Dezembro | LIVRE |
13 de Dezembro | LIVRE |
Há dois pontos importantes para considerar: primeiro, a rodada tripla de França-Áustria-Grã Bretanha, que não foi bem recebida pelas equipes, que deixaram claro que não querem outra situação como essa, devido ao óbvio desgaste na equipe - e essas eram três etapas europeias, sem voos longos, jet leg ou problemas no envio dos materiais para serem considerados. Com etapas em países mais distantes, situações como essa seriam quase impossíveis em termos de logística.
Segundo, há boas razões para o GP da China não ter sido colocado próximo do Vietnã em finais de semanas consecutivos. A F1 tem uma longa tradição de não colocar novos GPs juntos de outros porque até o início do evento inaugural, ninguém sabe como que funcionará a navegação pelo local e o envio dos equipamentos.
Porém, há uma nova política (caso seja possível), de manter a China como uma prova solo, devido às complexas questões alfandegárias. A corrida fez par com o Japão quatro vezes, entre 2005 e 2008 e uma vez com a Malásia, em 2011. Também foi colocada próxima com o Bahrein seis vezes, a última em 2018.
Porém, o Bahrein é um país onde as autoridades estão totalmente a favor e ajudam o esporte e assim a F1 sabe que esse é um país onde os problemas são resolvidos rapidamente. A China foi mantida como corrida solo em 2019 e 2020 para evitar quaisquer problemas com a alfândega.
Com isso em mente, é óbvio que não há nenhum espaço dentro da atual temporada. 13 de setembro criaria cinco corridas em sequência, 04 de outubro, 18 de outubro ou 08 de novembro, quatro em sequência - com a última envolvendo uma rota insana de México, China e Brasil.
Em um cenário muito improvável de que uma sequência de três etapas seja aceita, a mais provável seria em 22 de novembro, entre Brasil e Abu Dhabi, o que até seria possível. Mas é preciso lembrar que Interlagos está em outro fuso horário, o que colocaria ainda mais pressão em fazer tudo a tempo para a China.
A única alternativa realista, salvo alguma mudança ou outra corrida que seja cancelada por algum motivo, seria após o final da temporada. Será que as equipes aceitariam uma corrida em 06 ou 13 de dezembro, em um momento que as equipes já estarão muito focadas no desenvolvimento dos carros de 2021?
Alguém realmente quer terminar a temporada no paddock frio de Xangai ao invés de Yas Marina, um lugar popular, a apenas seis horas de distância da Europa e que sempre proporciona uma grande quantidade de entretenimento corporativo? Sem mencionar que o contrato de Abu Dhabi com a F1 garante a corrida como o encerramento da temporada.
A única outra opção seria mudar Abu Dhabi para 06 de dezembro - apenas cinco dias mais tarde que no ano passado - e reservar 29 de novembro para a China. Isso se Abu Dhabi estiver disposto a mudar. Novamente, as equipes não ficarão muito felizes com mais uma missão em um ano já marcado por várias longas viagens.
Há também o problema do clima chinês neste período do ano - a média de dezembro vai de 3 a 10 graus Celsius, com apenas 10 horas de luz natural. Seria um final de semana triste - do mesmo modo que correr em Silverstone ou em Spa neste período.
"Uma corrida muito tarde em dezembro comprometeria seriamente o campeonato de 2021, já que não teríamos tempo de preparar todo nosso equipamento durante as férias", afirmou um membro sênior de uma equipe da Fórmula 1 ao Motorsport.com hoje. "As equipes teriam dificuldades com os equipamentos enviados por via marítima tão tarde na temporada se tivermos uma sequência de três corridas consecutivas em locais distantes entre si. Eu também acho que a FOM não tem a infraestrutura para lidar com isso também".
GALERIA: O que esperar do esporte a motor em 2020
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