Especialistas da F1: O que esperar de Gabriel Bortoleto em 2025?
Brasileiro será o primeiro piloto titular pelo país desde a saída de Felipe Massa em 2017

Gabriel Bortoleto, Sauber
Foto de: Andy Hone / Motorsport Images
Gabriel Bortoleto está prestes a se tornar o primeiro brasileiro a competir na Fórmula 1 como piloto titular desde a aposentadoria de Felipe Massa em 2017 – os editores internacionais do Motorsport Network avaliam seus primeiros passos como piloto da Sauber e tentam prever o que o aguarda no auge do automobilismo.
O que você espera de Bortoleto em 2025?
Ronald Vording: Para ser justo, acho que será difícil para ele mostrar todo o seu potencial já no primeiro ano, mas um ponto crucial é que isso não depende necessariamente apenas de Bortoleto. Depende do carro da Sauber, que no momento parece ser o mais lento e, com base nas observações na pista, também tem sido difícil de pilotar em alguns momentos.
Na sequência de curvas à esquerda do Bahrein – curvas nove e dez – as trajetórias dos dois pilotos da Sauber eram diferentes a cada volta, enquanto o McLaren parecia muito mais estável. Isso destaca que a Sauber pode enfrentar um ano complicado, ainda mais se decidir mudar o foco para o projeto de 2026 mais cedo – o que seria sensato.
Mas, como indivíduo, espero que Bortoleto se torne um piloto sólido de F1 ao longo do tempo. Vencer tanto a F3 quanto a F2 como novato diz algo sobre sua velocidade, mas ainda mais sobre sua adaptabilidade. Quando se trata de jovens pilotos, a adaptabilidade é essencial, e na história recente Oscar Piastri tem sido um grande exemplo disso. Sempre que ele subiu de categoria, conseguiu entregar bons resultados rapidamente.
Dito isso, as dificuldades na Sauber podem ser uma bênção disfarçada para Bortoleto. Embora a pressão sempre exista na F1, isso lhe dá a oportunidade de aprender algumas lições valiosas longe dos holofotes e se preparar para desafios maiores em 2026 – quando, esperançosamente, o carro da Sauber também estará pronto.
Alex Kalinauckas: Grandes expectativas – considerando que ele chega à Fórmula 1 com a mesma progressão de campeão estreante da F3/GP3-F2 que Charles Leclerc, George Russell e Oscar Piastri.
Ao mesmo tempo, isso precisa ser equilibrado com a sua considerável falta de tempo de assento na F1 em preparação para essa mudança – ainda mais quando comparado com esse trio ilustre, especialmente após a mudança nas regras de Testes com Carros Antigos para 2025.
Além disso, ele pilotará pela Sauber, que provavelmente terá dificuldades para sair do Q1 no início do ano. E como a equipe precisará dedicar muitos recursos para não envergonhar a Audi quando a reformulação finalmente acontecer no próximo ano, não se deve esperar muito em termos de desenvolvimento do carro.
Roberto Chinchero: Em termos de resultados absolutos, é difícil imaginar que Gabriel consiga grandes feitos nesta temporada. Não por falta de talento, mas sim pela falta de competitividade que a Sauber demonstrou nos testes de pré-temporada.
No entanto, isso não significa que Bortoleto não terá metas. Ele precisará aproveitar cada quilômetro para ganhar experiência, aprender novas pistas e novos métodos de trabalho, e, acima de tudo, será avaliado pela comparação interna com Nico Hülkenberg. Na segunda metade da temporada, acredito que Gabriel poderá começar a pressionar seu companheiro de equipe mais experiente, o que daria um grande valor ao seu 2025. Hülkenberg é um excelente parâmetro para convencer a Audi e toda a Fórmula 1 de que ele é um piloto com um futuro promissor no esporte.
Stuart Colding: A resposta simples é que não se pode esperar muito em termos de resultados de corrida, porque tudo indica que o Sauber C45 será um dos carros mais lentos do grid. Mesmo um talento do nível do saudoso Ayrton Senna não venceria corridas com ele – mas, nas ocasiões em que os pontos forem uma possibilidade, Bortoleto precisará garantir que os aproveite.
O que ele também precisa fazer é garantir que a posição da equipe não afete negativamente sua mentalidade. A maioria dos jovens pilotos chega à F1 tendo vencido corridas e campeonatos. Ter um carro pouco competitivo pode ser destrutivo para a confiança e motivação deles – e essa atitude pode se espalhar e contaminar aqueles ao seu redor na garagem.
Os novos chefes da equipe, Mattia Binotto e Jonathan Wheatley, foram contratados para reverter o projeto e sabem o que é necessário para alcançar o sucesso. Eles também trabalharam com alguns dos melhores pilotos do esporte. Bortoleto tem a chance de impressioná-los e aprender com eles.
Essa é a meta simples para Gabriel Bortoleto em 2025: extrair o máximo do carro, construir alianças dentro da equipe e manter-se motivado. Coisas melhores certamente virão.
Qual foi a impressão dele no paddock até agora?
Ronald Vording: A impressão que tive dele é a de um jovem educado e amigável, que lida bem com a atenção da mídia. Eu estava presente quando ele fez a coletiva de imprensa como campeão da F2 em Abu Dhabi e, embora estivesse tomado pela emoção naquele momento, ainda conseguiu analisar tudo em grande detalhe.
Ainda mais reveladores são os comentários feitos por dois dos meus compatriotas holandeses, que são um pouco mais rápidos do que eu em um carro de corrida. Primeiro, Max Verstappen disse que teria assinado com o brasileiro ainda antes: "Se eu fosse a Sauber, já teria assinado com ele." Isso diz muito sobre a impressão que Bortoleto causou em um múltiplo campeão mundial, e essa mesma impressão foi confirmada quando perguntei a um de seus rivais da F2.
Após a coletiva de imprensa em Abu Dhabi, tive uma breve conversa com o piloto da F2 Richard Verschoor, que mencionou Bortoleto como exemplo. "Tudo se resume à consistência. Depois de algumas corridas, Gabriel estava sempre lá, mesmo nos fins de semana difíceis. Isso é crucial para um piloto de corrida." Mesmo nas corridas mais caóticas da F2, Bortoleto conseguiu enxergar o panorama geral e evitar movimentos arriscados quando não eram necessários. Ele era relativamente maduro para um piloto de F2 e, exatamente por isso, essa mentalidade pode beneficiá-lo no mais alto nível.
Alex Kalinauckas: Bortoleto chegou com a reputação de ser um personagem educado e cativante – e esses aspectos continuam evidentes até agora.
Ele apareceu quieto e determinado no evento de lançamento do C45 em Londres no mês passado, onde foi, de longe, o menos sarcástico dos pilotos da Sauber ao responder às perguntas da imprensa da F1 (nunca mude, Nico Hülkenberg!). Quando perguntado como se apresentaria ao grande público da F1, sua humildade foi cativante.
"É até difícil falar sobre mim," foi como ele concluiu sua resposta.
Mas ainda mais revelador foi como ele se sente: "Eu tento trabalhar muito para alcançar cada sonho."
Na coletiva de imprensa dos testes no Bahrein, Bortoleto também foi efusivo e articulado ao explicar como as novas restrições dos TPCs (Testes com Carros Antigos) para pilotos ativos limitam cada equipe a apenas 1.000 km. Isso afetou os novatos mais do que nunca.
Esse é o tipo de abordagem que não se espera de um piloto estreante – no sentido de que, embora ele não tenha se colocado completamente em uma posição política, Bortoleto ainda pareceu expressar sua opinião em uma era em que os pilotos costumam evitar fazer isso o máximo possível.
Roberto Chinchero: Acredito que Bortoleto representa um claro exemplo de piloto capaz de entrar imediatamente nas boas graças dos engenheiros. Gabriel é um grande profissional, tem uma postura importante em relação aos aspectos técnicos e entendeu, ao longo dos anos, o que é necessário para alcançar os maiores objetivos no automobilismo: vencer campeonatos.
Trabalho, dedicação e grande consistência de desempenho. Esses aspectos causam impacto na equipe técnica de qualquer equipe, especialmente na Fórmula 1, onde os engenheiros também desempenham um papel fundamental na avaliação de um piloto. São eles que enviam relatórios para a diretoria da equipe após cada teste, influenciando as decisões que são tomadas. Gabriel já é bem visto no paddock, e acredito que as palavras recentes de Mattia Binotto – que elogiou suas qualidades profissionais – são uma confirmação importante disso.
Stuart Colding: Mesmo aquele segmento do paddock que costuma cochilar durante as corridas de suporte já ouviu falar de Gabriel Bortoleto. Há apenas três anos, parecia que sua carreira iria se apagar, apesar dos bons resultados na Fórmula Regional com a equipe de Fernando Alonso. Então, ele foi "resgatado" por Alonso e seus associados Alberto Fernández Albilares e Albert Resclosa Coll, que comandam a agência de talentos A14, agora responsável pela carreira de Bortoleto.
O selo de aprovação de Alonso, somado às promoções bem-sucedidas na F3 e na F2 e à sua associação com o programa de jovens pilotos da McLaren, ajudou a moldar opiniões positivas sobre ele.
Também correu pelo paddock a informação sobre sua abordagem à pré-temporada: visitando a fábrica da Sauber em Hinwil várias vezes por semana, não apenas para usar o simulador, mas para se integrar à organização e conhecer melhor seus novos colegas. Isso demonstra não apenas maturidade, mas um profundo entendimento de como o automobilismo funciona e do profissionalismo necessário para maximizar os resultados.
Como ele se compara aos outros novatos no grid?
Ronald Vording: De modo geral, avalio os novatos desta temporada de forma muito positiva. Isso se aplica principalmente a Andrea Kimi Antonelli e Oliver Bearman. Este último impressionou em Jeddah, mas também conquistou a Haas nos bastidores com sua calma, feedback técnico e maturidade. Em termos de potencial puro, Antonelli é o mais aguardado, mas há uma diferença crucial ao compará-lo (e também Liam Lawson) com Bortoleto.
Essa diferença, novamente, é a pressão. Não importa quantas vezes a Mercedes diga que dará tempo a Antonelli e que não colocará pressão sobre ele, a realidade é que a pressão em uma equipe de ponta da F1 sempre será imensa. Sinto que, entre todos os novatos, Bortoleto é provavelmente o que enfrentará menos pressão este ano. Ninguém espera nada da Sauber.
Antonelli está entrando diretamente em uma equipe de ponta, Lawson precisa se manter no assento ao lado de Verstappen, Isack Hadjar sabe que há mais talentos chegando pelo programa de jovens pilotos da Red Bull (incluindo Arvid Lindblad) e todos sabem que Jack Doohan precisa performar desde o início, com Franco Colapinto à espreita. Já a Sauber se comprometeu com Hülkenberg e Bortoleto para o projeto da Audi e os regulamentos de 2026. Isso pode dar ao brasileiro um pouco mais de margem para um ano de aprendizado em 2025, ao contrário da maioria dos outros novatos.
Alex Kalinauckas: Em termos de currículo nas categorias de base, os novatos não estão no mesmo nível. Andrea Kimi Antonelli e Oliver Bearman conquistaram seus títulos em categorias inferiores – e, no caso de Antonelli, ele subiu muito rápido na hierarquia do automobilismo.
Por outro lado, conquistar títulos consecutivos como estreante na F3 e na F2 também eleva as expectativas. Se essa comparação inicial continuar, espera-se que Bortoleto tenha uma ascensão na F1 semelhante à de Leclerc, Russell e, especialmente, Piastri.
No entanto, talvez Bortoleto tenha uma carta na manga que os outros não possuem.
O fato de a empresa A14 Management, de Fernando Alonso, estar guiando a carreira do brasileiro é algo inédito. Alonso ainda está competindo ativamente e, por isso, está em uma posição única para oferecer conselhos sobre os primeiros passos de um piloto jovem na Fórmula 1.
Será interessante ver mestre e aprendiz disputando posições este ano – possivelmente de forma regular, se o desempenho da Aston Martin nos testes de pré-temporada no Bahrein for tão ruim na realidade quanto pareceu. Mas o simples fato de essa possibilidade existir já demonstra os feitos de Bortoleto até aqui.
Roberto Chinchero: No próximo fim de semana, Bortoleto estará ao lado de Antonelli e Hadjar no início de seu primeiro GP. Os três compartilharão o momento de estreia, mas as semelhanças acabam aí. Gabriel tem sido extremamente consistente em seu desempenho nos últimos dois anos e, apesar de vencer pouco (duas vitórias na F3 em 2023 e duas na F2 no ano passado), conseguiu se tornar campeão como estreante em ambas as temporadas.
No ano passado, Hadjar venceu o dobro de corridas de Bortoleto, mas não conseguiu alcançar o objetivo final. Já a trajetória de Antonelli é ainda mais diferente: ele venceu 35 corridas de monopostos, contra 9 de Bortoleto e 15 de Hadjar. Caminhos distintos, idades diferentes, mas todos chegam a Melbourne para começar a escrever sua história na Fórmula 1. Equipes diferentes significam objetivos diferentes, mas velocidade será necessária desde o início, assim como a capacidade de convencer a equipe de que o investimento feito valeu a pena.
Até agora, Bortoleto tem sido menos chamativo do que Antonelli e Hadjar, mas, em termos de consistência, ele está um degrau acima dos outros dois novatos. A temporada mostrará qual dessas qualidades será mais importante para garantir um futuro na Fórmula 1, que é o principal objetivo de todos os estreantes.
Stuart Codling: Não há dúvidas de que Bortoleto é o menos experiente da classe de novatos de 2025 em termos de tempo de pista na F1. Oliver Bearman já disputou três Grandes Prêmios e foi piloto reserva da Haas no ano passado; Jack Doohan correu pela Alpine em Abu Dhabi; Andrea Kimi Antonelli participou de sessões de treinos livres (TL1) em carros atuais, além de acumular muita quilometragem em Testes com Carros Antigos (TPC), assim como Isack Hadjar.
Por outro lado, embora Bortoleto não tenha competido diretamente contra Doohan nas categorias de base, ele obteve melhores resultados do que todos os outros novatos na F2 – e venceu Hadjar, Antonelli e Bearman diretamente no ano passado.
BORTOLETO e a volta do Brasil à F1: A HISTÓRIA POR ELE MESMO
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