Enquanto os carros da Fórmula 1 ainda não haviam ido para a pista quando o medo pela disseminação do Coronavírus cancelou o evento, as atividades do final de semana do Grande Prêmio já havia começado para as categorias suporte.
A Porsche Carrera Cup já havia feito uma corrida de 45 minutos de duração na noite de quinta, enquanto o Supercars e o TCR Austrália já haviam feito suas sessões de classificação para as corridas da sexta. A primeira prova do TCR estava marcada para 09h40 na sexta, seguido da terceira de quarta sessão de classificação do Supercars às 10h10.
A confirmação oficial do cancelamento do evento foi divulgada às 10h07. Enquanto as equipes haviam sido informadas pouco antes, ainda assim foi tarde demais para ambas as categorias, que já estavam com tudo pronto.
Em uma coluna escrita para o site de seu patrocinador, o atual líder do Supercars, Scott McLaughlin, descreveu a situação como uma "experiência bizarra".
"A última sexta-feira foi, sem dúvidas, o momento mais estranho que já tive em uma pista", escreveu. "Aparecer, colocar o macacão, ter a equipe trabalhando nos carros para deixar tudo pronto para a classificação - e depois ser avisado que tudo estava cancelado - foi a experiência mais bizarra que nós vivemos".
"Todos ficaram em choque, sem saber como agir, ou como sentir. Foi muito triste. Eu amo o evento. Eu amo a pista. Eu amo o clima do final de semana em Melbourne. Eu amo correr na mesma pista que a Fórmula 1. Estava muito animado para ver eles correndo. Eu também estava animado para correr. E aí, acabou. Desse jeito".
Outro piloto do Supercars, David Reynolds, comparou o clima na pista com o de quando acontece um acidente sério.
"Foi muito estranho para mim", disse em seu podcast. "Eu acordei na sexta achando que seria cancelado. Mas aí eu ouvi o carro de dois lugares da Fórmula 1 na pista. Nossa sessão era logo após a do TCR e todos estavam se preparando, colocando os macacões. Eu estava tipo 'isso não vai acontecer hoje'. Eu nem liguei de colocar minha roupa".
"Havia muita conversa no fundo do pitlane, muitas incertezas. Era como se alguém tivesse morrido, quando algo muito, muito ruim acontece na pista. Era essa a vibe no paddock, com muitas ligações sendo feitas, muitas pessoas correndo para todos os lados".
Para o TCR, os preparativos estavam ainda mais avançados, com os carros prontos e os pilotos sendo avisados para colocarem seus capacetes.
"Nós éramos os primeiros a ir à pista, então acho que estava pronto desde as 08h30", disse o piloto do TCR Austrália, Michael Caruso, que largaria em segundo na prova. "Estávamos prontos para sair e montar o grid".
"Estávamos andando de um lado para outro, todos estavam prontos para começar... e aí chegamos ao momento em que seríamos instruídos para colocar os capacetes, uma marca de 15 minutos para sair dos boxes".
"Então tínhamos vários pilotos com seus capacetes. E, do nada, todos estavam sentados na grama. Foi um clima muito estranho. Todos começaram a pensar 'eu não sei se deveríamos estar correndo'. Todos estavam questionando".
Covid-19 já é o fator que mais impactou uma temporada da Fórmula 1:
O primeiro cancelamento de um GP no mundial de Fórmula 1 aconteceu no seu terceiro ano, em 1952. O GP da Espanha deveria ser a nona e última etapa do campeonato, no circuito de Pedralbes, mas acabou cancelado por questões financeiras. A situação se repetiu novamente em 1953, até que a etapa conseguiu integrar o calendário em 1954
Em 1955, um desastre marcou a história do automobilismo mundial. Nas 24 Horas de Le Mans, uma batida envolvendo o piloto da Mercedes Pierre Levegh matou 83 espectadores e feriu outros 180. A repercussão do acidente foi tamanha que afetou o calendário da F1, com as etapas da França, Alemanha, Suíça e Espanha canceladas. Na Suíça, as consequências foram ainda maiores, com o esporte a motor sendo banido do país pelas autoridades, algo que foi revertido apenas em 2018, com uma etapa da Fórmula E em Zurique
Em 1956, o mundo acompanhou o conflito armado que ficou conhecido como "Guerra de Suez", entre Israel e Egito. Com isso, o preço dos combustíveis subiu muito e as etapas da Espanha e da Holanda se tornaram inviáveis para as equipes, sendo canceladas. No ano seguinte, o conflito continuou afetando o calendário da Fórmula 1 e outras três provas tiveram que ser canceladas: além da Espanha e Holanda novamente, a etapa da Bélgica precisou ser removida da temporada pelo mesmo problema
Naquele ano, a etapa da Alemanha seria realizada no circuito de rua de AVUS, em Berlim. Mas devido às reclamações dos pilotos sobre os perigos da pista, especialmente as curvas, que chegavam a ter uma inclinação de 40 graus, a prova foi cancelada.
Em 1969, o GP da Bélgica foi cancelado devido ao boicote de parte dos pilotos, que exigiam mudanças para deixar a pista mais segura. O boicote veio após uma inspeção do circuito por Jackie Stewart, que, naquela época, era o piloto mais envolvido do grid no debate sobre segurança. Como os donos do circuito de Spa não cederam aos pedidos dos pilotos, a prova acabou cancelada. A etapa belga passou pela mesma situação dois anos depois, em 1971, e, depois disso, ficou de fora do calendário da Fórmula 1 até 1983, quando a pista foi reformada e encurtada.
Em 1972, a F1 já tentava realizar duas etapas nos Estados Unidos, assim como a Liberty tenta atualmente. Mas o projeto do GP do Oeste dos Estados Unidos, na Califórnia, não foi concretizado. Outro GP cancelado naquele ano foi o do México. Após a morte de Pedro Rodríguez, piloto que era ídolo nacional, no ano anterior, o interesse dos mexicanos pela prova caiu consideravelmente e a etapa foi cancelada.
No final dos anos 70 e início dos anos 80, a Fórmula 1 se viu dividida em uma disputa entre a Federação Internacional do Esporte Automobilístico (FISA) e a Associação de Construtores da Fórmula 1 (FOCA), que levou a uma situação curiosa. No GP da África do Sul de 1981, vários pilotos boicotaram a prova devido ao embate entre as instituições. O medo de que isso se repetisse na Argentina afugentou os patrocinadores, levando ao cancelamento da prova.
Na temporada de 1983, a Fórmula 1 tentou organizar uma etapa em Nova York, em um circuito de rua que seria montado no bairro do Queens, mas o projeto não conseguiu ser concretizado pela categoria, nem nos dois anos seguintes. Se tivesse sido realizada, a prova em Nova York seria a terceira em território americano no mesmo ano, junto com Long Beach e Detroit
Na temporada de 1985, o GP da Bélgica seria realizado originalmente em 02 de junho, mas após problemas com o novo asfalto do circuito, a prova precisou ser adiada, acontecendo três meses mais tarde, em 15 de setembro.
Uma das histórias mais curiosas de cancelamentos de etapas da Fórmula 1 vem do GP do Canadá de 1987. Naquele ano, a etapa foi cancelada porque os organizadores não conseguiram resolver um problema inusitado: duas cervejarias locais, Labatt e Molson, queriam ser as patrocinadoras master do evento, mas não foi possível chegar a um acordo e a prova foi cancelada.
A etapa do Pacífico, que seria realizada no circuito de Okayama, em 16 de abril, precisou ser remarcada após o terremoto próximo à cidade de Kobe em janeiro, matando mais de 6 mil pessoas. A prova foi transferida para 22 de outubro
O GP da Bélgica de 2003 foi cancelado devido à nova lei aprovada no país contra o tabagismo. Como muitas equipes do grid tinham patrocínio de marcas de cigarros, a etapa acabou sendo retirada do calendário. A situação foi resolvida e a F1 voltou a correr em Spa já no ano seguinte
Em 2011, o GP do Bahrein estava marcado para ser a prova inaugural do campeonato, mas a etapa foi inicialmente adiada devido a protestos contra o governo do país. Foi sugerido uma mudança no calendário, para a corrida do Bahrein ser realizada em 30 de outubro com o GP da Índia fechando o ano em dezembro, mas as equipes recusaram e a prova no país do oriente médio acabou cancelada naquele ano
Devido à pandemia causada pelo novo coronavírus, a F1 cancelou o GP da Austrália horas antes do início do primeiro treino livre, além de adiar as etapas do Bahrein, Vietnã, China, Holanda, Espanha e Mônaco, totalizando sete das 22 etapas
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VÍDEO: Dicas de filmes e séries sobre automobilismo para assistir durante quarentena do coronavírus
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Andrew van Leeuwen
Fórmula 1
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