Malásia 2009: O dia que Button ganhou um GP parado
Há 11 anos, houve um GP da Malásia caótico, que foi encerrado mais cedo por causa da tempestade e a falta de luz natural
Em 05 de abril de 2009, uma tarde dramática na Malásia viu Jenson Button e a equipe da Brawn GP continuar seu ótimo início de temporada na Fórmula 1, conquistando sua segunda vitória em oito dias.
Uma tempestade de proporções das monções malaias levaram a uma suspensão da corrida, e apesar do clima melhorar eventualmente, a escuridão iminente tornou impossível a retomada da prova para correr as voltas restantes.
No final de semana anterior, na Austrália, Button havia recebido a bandeira quadriculada com o grid alinhado atrás dele, já que o regulamento da F1 determinava o recolhimento do safety car nos metros finais da prova. Em Sepang, ele não conseguiu nem isso, descobrindo que havia ganhado enquanto estava sentado em seu carro no grid, esperando por uma retomada que nunca veio.
Cars stop on the main straight as the race is red flagged on lap 33 due to weather conditions
Photo by: Rainer W. Schlegelmilch
Foi um fim incomum para uma tarde extraordinária, uma que viu a premiação de metade dos pontos pela quinta vez na história, além da má performance de McLaren e Ferrari que, entre elas, tiveram um oitavo lugar como melhor posição.
Na verdade, para muitos, a imagem que ficou desta prova não é a da celebração de Button, mas sim a de Raikkonen, em "roupas civis", tomando um sorvete após a parada - enquanto sua equipe na Ferrari trabalhava para deixar seu carro pronto para a prova.
Essa tarde permitiu a todos desviar as atenções da grande história da semana. A desqualificação posterior de Lewis Hamilton do GP da Austrália, tirando o terceiro lugar do piloto - por não contar toda a história sobre a ultrapassagem em cima de Jarno Trulli - havia dominado as manchetes e o piloto e sua equipe estavam sendo atacados por todos os lados. Por outro lado, Trulli teve sua punição anulada por isso.
Com a chuva ameaçando uma animadora sessão de classificação no sábado, a Ferrari e a McLaren sofreram enquanto a Brawn continuava mexendo com a ordem, após o difusor duplo ter sido considerado legal na Austrália.
Felipe Massa, Ferrari
Photo by: Hazrin Yeob Men Shah
Houve drama no Q1 quando ambos os pilotos da Ferrari ficaram com os tempos das primeiras saídas, achando que eles seriam bons o suficiente para passar. Porém, o grid estava tão próximo que, enquanto Felipe Massa estava na garagem sem como reagir, ele foi derrubado para 16º, ficando de fora do Q2. Já Raikkonen, seu companheiro de equipe, passou por pouco, em 14º.
Então, na segunda sessão, foi a vez da McLaren sofrer, com Hamilton terminando em terceiro e seu companheiro, Heikki Kovalainen, 14º, com os dois ficando de fora do Q3. Mesmo com alguns problemas no treino livre de sexta, Button fez o necessário para conquistar sua segunda pole em duas provas.
O principal desafiante de Jenson foi Trulli, com o piloto da Toyota ficando a 0s106 do tempo de Button, conquistando a outra vaga na primeira fila.
Sebastian Vettel continuou mostrando boa forma ao conseguir o terceiro lugar com sua Red Bull, uma equipe que ainda estava em busca de sua primeira vitória. Porém, o alemão precisaria cumprir uma punição de 10 posições no grid após uma batida com a BMW de Robert Kubica na Austrália, e caiu para 13º. Rubens Barrichello havia terminado em quarto com a outra Brawn, mas perdeu cinco posições por uma troca da caixa de câmbio.
Houve uma decisão de trocar o horário de início da prova de 15h para 17h para beneficiar as transmissões europeias, mas foi muito criticada, por não deixar tempo de sobra em termos de luz do dia. Após uma longa espera, a corrida começou com pista seca, apesar da aproximação da chuva.
Jenson Button, Brawn GP BGP001 Mercedes, leads at the start
Photo by: Motorsport Images
Button não teve vida fácil no início. Mesmo tendo feito a pole, logo ele foi ultrapassado pela Williams de Nico Rosberg (promovido para quarto após as punições de Vettel e Barrichello), além de Trulli e a Renault de Fernando Alonso, que contava com a ajuda do KERS.
Crucialmente, Jenson logo ultrapassou Alonso, que estava de tanque cheio, mas ainda tinha dois carro a sua frente. A importância da controvérsia do difusor duplo ficou ainda mais clara quando as Williams, Toyotas e Brawns, os três carros que usavam o equipamento, deixaram todos para trás.
Jarno Trulli, Toyota
Photo by: Hazrin Yeob Men Shah
Button havia largado com algumas voltas extras de combustível vindas da classificação, e esperou pacientemente em terceiro até que seus dois rivais parassem - Rosberg na volta 15 e Trulli duas voltas depois - e aproveitou a vantagem de uma pista livre para fazer uma sequência extraordinária. O verdadeiro potencial da Brawn foi evidenciado quando ele marcou uma melhor volta que era um segundo mais rápida que de seus adversários.
Após a parada, ele voltou na liderança e ainda com pneus de pista seca, apesar do céu ficando cada vez mais escuro e o sinal de uma tempestade no horizonte. Enquanto isso, a Ferrari fez um erro estratégico ao colocar Raikkonen com pneus para pista molhada. O finlandês foi caindo no grid enquanto esperava em vão pela chegada da chuva, e seus pneus logo foram destruídos.
Enquanto as primeiras gotas de chuva finalmente caiam, Button aumentava sua vantagem com uma ótima pilotagem com pneus slicks em uma pista que molhava gradualmente. Quando ele finalmente parou, ele foi um dos muitos pilotos que optaram por pneus para pista extremamente molhada, apenas para descobrir que a pista ainda não estava tão molhada assim. Enquanto isso, Timo Glock, com a Toyota, havia colocado pneus intermediários e estava voando. Isso levou Jenson de volta aos pits logo para colocar intermediários, mas pouco depois a tempestade começou de verdade, e precisou fazer uma quarta parada para colocar os extremos.
Jenson Button, Brawn GP BGP001 Mercedes
Photo by: Motorsport Images
Esse tipo de indecisão trouxe de volta memórias de Donington Park em 1993, onde foram feitas múltiplas paradas e achou que isso teria destruído suas chances. Mas todos estavam igualmente confusos sobre quais pneus utilizar. Com carros deslizando por todos os lados e rios correndo pela pista, Charlie Whiting tomou a decisão de liberar o safety car.
E isso foi seguido quase imediatamente por uma bandeira vermelha, então os pilotos pararam no grid e a corrida foi suspensa.
The grid reassembles after the red flag
Photo by: Andrew Ferraro / Motorsport Images
"Depois da minha primeira mudança para pneus de pista molhada, eu estava deslizando por toda a pista, eu estava muito lento", disse Button mais tarde. "Mas ninguém que estava com pneus de chuva extrema estava muito mais rápido. Eu estava tentando cuidar dos traseiros, porque o carro estava saindo de traseira, sabendo que provavelmente iria chover".
"Os caras falaram no rádio que Timo estava muito rápido nos intermediários, então eu parei e coloquei os intermediários e saí atrás dele e logo que ele passou por mim na Curva Um, eu vi que ele estava com pneus de pista seca. Então eu sofri demais para conseguir fazer os pneus funcionarem, mas Timo estava sofrendo mais e aí era o momento de colocar pneus de chuva extrema, o que fizemos. Depois disso, foi só rastejar atrás do safety car".
Estava claro que Jenson era o líder, mas havia confusão sobre a ordem exata atrás dele, enquanto os diretores tentavam descobrir quem estava onde quando a bandeira vermelha foi acionada. Enquanto o relógio passava e a chuva diminuía, os pilotos estavam ou sentados em seus carros, ou andavam nervosamente pelo grid.
Raikkonen, que havia parado logo antes da suspensão com um problema no KERS, acreditava que seu dia estava encerrado - por isso o sorvete. Porém, os caras na Ferrari continuaram trabalhando no carro. Havia uma chance dele recomeçar, apesar de um pequeno lastro pessoal a bordo...
O céu não estava clareando e Whiting eventualmente decidiu que não havia luz suficiente para justificar o reinício da corrida. Inevitavelmente isso causou questões sobre a decisão de atrasar o início da corrida, especialmente com o risco do tempo ruim, que sempre deixou a possibilidade de não ser possível correr a prova inteira.
Tudo isso importou pouco para Button, que, ao descobrir a notícia, desceu de seu carro e começou a comemorar. Oficialmente, a corrida durou apenas 55 minutos, com apenas 31 das 56 voltas realizadas. Em termos de duração, foi a terceira prova mais curta da história, atrás de Austrália 1991 e Espanha 1975.
A conclusão prematura significaram que Button e o resto dos pilotos no Top 8 conquistaram apenas metade dos pontos, mas o vencedor estava muito feliz por outro primeiro lugar.
FIA press conference: Jenson Button, Brawn GP
Photo by: Hazrin Yeob Men Shah
"Os caras não conseguiram me dizer porque os rádios não estavam funcionando, tudo estava molhado demais", explicou. "Eles vieram até o carro me falar que eu havia ganhado. Obviamente eu estava muito feliz, por vencer a prova. Só conseguimos metade dos pontos, mas, para mim, é a vitória que importa, não os pontos".
"E essa foi a decisão correta, de encerrar a corrida. Então eu pulei do carro e saí abraçando todo mundo".
Nick Heidfeld, BMW Sauber
Photo by: Hazrin Yeob Men Shah
O segundo lugar foi para Nick Heidfeld com sua BMW, que tomou uma boa decisão de usar pneus para chuva extrema em sua primeira parada. Por ficar na pista, ele foi subindo no grid, conquistando uma posição que não era condizente com a performance real da BMW. Inclusive ele chegou a rodas antes da bandeira vermelha e foi ultrapassado por Glock, mas como o grid final foi definido com base na volta anterior, ele reconquistou a posição.
As boas decisões de Glock - indo inicialmente para intermediários e mudando cedo para extremos - também recompensaram, e ele ocupou o lugar final do pódio, a frente do companheiro de equipe Trulli. Barrichello foi o quinto, mas ele e Jarno tiveram sorte de fazer o pit stop na hora do acionamento da bandeira vermelha, porque a ordem final foi tomada com base na volta anterior.
Mark Webber com sua Red Bull ficou apenas em sexto, enquanto Vettel foi uma das vítimas da pista molhada, rodando e abandonando. Hamilton, que rodou pouco antes da parada, terminou apenas em sétimo, enquanto Rosberg foi o oitavo, com a sua liderança sendo jogada fora por erros de estratégia.
Um único ponto para Lewis (a metade dos dois dados para o sétimo colocado) foi uma pequena consolação para a McLaren após um final de semana terrível - graças à desqualificação de Melbourne, era o único ponto da equipe em duas provas, deixando-a apenas em oitavo no Mundial de Construtores.
Felipe Massa, Ferrari F60
Photo by: Motorsport Images
Na Ferrari, a situação era ainda pior, com Massa terminando fora da zona de pontos, em nono, enquanto Raikkonen não chegou a recomeçar após seu lanche. Incrivelmente, a então campeã de construtores não havia pontuado em duas corridas e estava oficialmente em último. Era o início de uma temporada estranha...
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