Senna: atuação de gala que emocionou Brasil completa 25 anos
Com apenas a sexta marcha, Ayrton se utilizou de grande perícia no molhado para vencer pela primeira vez no Brasil, em Interlagos, em corrida que fez País parar para acompanhar as últimas voltas
Neste 24 de março uma das grandes atuações da vida do tricampeão mundial Ayrton Senna completa suas bodas de prata. E, predestinado como era o piloto brasileiro, esta teria de acontecer em sua terra natal. Mais precisamente no circuito de Interlagos, palco de muitas corridas suas enquanto se desenvolvia na arte que lhe tornaria uma lenda: a de guiar.
O retrospecto de Senna no Brasil pela F1 antes daquela corrida era desapontador. Bicampeão mundial, Ayrton jamais havia tido sorte em território nacional. O máximo que havia conquistado em corrida havia sido um segundo lugar na histórica corrida de 1986, quando dividiu o pódio com o compatriota Nelson Piquet. Pior para ele era que seu grande rival nos três anos anteriores, Alain Prost, já havia vencido seis vezes no Brasil.
Faltava a corrida para Ayrton chamar de sua. Ela aconteceria em 1991.
A corrida
Vencedor da primeira prova do ano em Phoenix (EUA), Senna desembarcou no Brasil decidido a vencer. Ele marcou a pole position à frente das duas Williams de Riccardo Patrese e Nigel Mansell, que naquele início de ano começavam a mostrar que era questão de tempo para imporem um domínio avassalador na F1.
Ayrton largou para aquele GP sem sustos. Liderou o grid de 26 carros no “S do Senna” com propriedade. Em seguida começou a controlar a prova, sempre pressionado por Mansell, que apesar de próximo não deu nenhuma investida de fato.
E é bom que se diga: o GP do Brasil de 1991 não vinha sendo uma corrida das mais emocionantes. Na verdade, até o último terço da prova, o GP estava bem aquém das expectativas, apesar da ansiedade brasileira pelo possível triunfo de Ayrton.
Isso foi até Nigel Mansell começar a voar para cima de Ayrton Senna com 25 voltas para o fim depois de ter trocado pneus. Ao mesmo tempo, algo sério começava a acontecer com a McLaren MP4/6 do brasileiro. Na volta 51 ele perdeu a quarta marcha, enquanto Mansell se aproximava. Dez voltas depois, curiosamente o câmbio de Mansell quebrou no “S do Senna”, fazendo o britânico rodar. O “Leão” ainda tentou voltar, mas parou logo em seguida com a transmissão de seu FW14 comprometida.
A consagração
Para a audiência comum, a vitória já era de Senna naquele ponto. No entanto, o brasileiro vivia um drama cada vez maior dentro de seu carro. Ele perdeu a quinta e a terceira marchas nas voltas seguintes, o que o obrigou a fazer as últimas sete voltas apenas na sexta marcha. Ele era obrigado a conduzir com a maior velocidade possível na parte sinuosa do circuito para manter seu motor Honda funcionando.
Para piorar, uma garoa começou a cair em Interlagos e Patrese, antes mais de 40 segundos atrás, começava a se aproximar perigosamente.
No entanto, a habilidade de Ayrton somada um pequeno problema de câmbio na Williams de Patrese permitiram a ele chegar após 71 voltas 2s9 à frente do italiano levando todos os presentes no circuito de Interlagos ao delírio.
Assim, Ayrton Senna se consagrava pela primeira vez no Brasil.
Mas, ao parar para pegar a bandeira do Brasil depois de gritar palavrões ao vivo na TV pelo rádio, todos puderam ver que algo não estava certo. Senna não conseguiu fazer seu carro funcionar de novo e foi retirado com cuidado de seu cockpit pouco depois. Ele foi levado de carro para os boxes, onde aparentava um grande cansaço. Dores nos ombros, braços e pescoço faziam Ayrton ter dificuldades nos movimentos.
Isso quase privou Senna de erguer o troféu que batalhou tanto para conquistar desde 1984 até aquele 24 de março de 1991. Depois de uma tentativa mal sucedida, ele franziu o cenho e levantou seu prêmio no lugar mais alto do pódio.
Depois de revelar pelo que havia passado em entrevista à TV Globo, Ayrton disse palavras que definem aquela conquista: “foi no grito. Pensei: ‘mas eu lutei tanto. Vai ter que dar, vai ter que dar. Tenho que chegar em primeiro.' Isso, porque Ele (disse apontando para cima) é maior do que todos. Foi isso, Deus me deu essa corrida.”
Aquela foi a segunda de quatro vitórias seguidas que Senna conseguiu no início de 1991. A temporada culminou no oitavo e último título brasileiro na F1, terceiro de Senna.
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