ESPECIAL: Conheça bastidores do drama vivido por Gianluca Petecof
Trajetória pode ser considerada épica, após piloto quase ficar fora de um dos campeonatos mais relevantes da base; mas a taça veio e a superlicença também
Sucesso ou fracasso sempre dependem de uma série de fatores. Os obstáculos do esporte sempre estarão presentes, pelo menos um dos principais: os rivais. Mas a quantidade de dificuldades pode fazer com que os resultados pareçam normais ou, então, épicos.
O caso de Gianluca Petecof, que confirmou o título da Fórmula 3 Regional Europeia, pode ser enquadrado – sem dúvida – no status de épico. Antes mesmo do início da temporada, o paulista, que recentemente completou 18 anos, vinha de um vice-campeonato da F4 Italiana: ele mesmo admitia que ficara decepcionado com o desfecho, culpando a si mesmo em algumas ocasiões.
De todo modo, o ano de 2020 chegou e Gianluca encararia a Fórmula Regional, antiga Fórmula 3 Europeia. Categoria tradicional, celeiro de grandes pilotos, que trouxe mais responsabilidades, além das cobranças carregadas do ano anterior.
A boa notícia era que ele poderia contar com os mesmos parceiros da temporada anterior: a equipe Prema Powerteam e a Ferrari Driver Academy, dobradinha que sempre representa sucesso e assusta qualquer competidor rival. E o início, em Misano, não poderia ter sido melhor: uma vitória, um segundo e um quarto lugar, que significaram a liderança do campeonato após as primeiras três corridas.
A revelação
Mas nem tudo eram flores... No dia 3 de agosto, durante o programa Reta Final, do canal do Motorsport.com no YouTube, Gianluca foi convidado a falar sobre o fim de semana vitorioso na Itália. Entretanto, acabou também dando mostras do quão trágica poderia ser aquela temporada, ao revelar pela primeira vez publicamente que poderia abandonar o campeonato por falta de patrocínios.
“Tenho que admitir que este ano estamos tendo uma dificuldade para fechar o orçamento. A gente ainda não tem o orçamento completo para a temporada. Estamos procurando uma solução, novas parcerias. Por enquanto, estou fazendo o meu melhor”, disse Petecof.
Tic tac - o tempo passa...
A partir de então, o relógio era um duplo desafio. A busca pelo melhor tempo, acelerando na pista, e também por novos parceiros, que pudessem garantir que seu foco ficasse apenas no desempenho. Alguns fatores não ajudavam: a pandemia e a crise financeira dela decorrente.
A incerteza durou duas etapas (Paul Ricard e Red Bull Ring), ou um pouco mais de um mês e meio. No final de setembro, antes do início da etapa de Mugello, Petecof finalmente podia anunciar que duas empresas asseguravam sua temporada: a Matrix Energia e a Americanet.
A Matrix Energia é a maior comercializadora independente de energia no Brasil e tem grande histórico de patrocínio do esporte a motor no país, vinculada a grandes talentos das pistas, como Felipe Massa, Lucas di Grassi e Caio Collet.
A Americanet também está envolvida no automobilismo nacional e internacional, do kart à Stock Car. A operadora de telefonia celular e serviço de internet é também a patrocinadora principal do piloto Prema Gabriel Bortoleto, nas F4 Italiana e Alemã.
O compromisso de levar Petecof ao título
Cláudio Monteiro, Vice-Presidente do Conselho da Matrix Energia, falou da missão de apoiar Gianluca na F3: "A Matrix Energia e a Americanet viram que um piloto brasileiro, com talento e qualidades, liderando um campeonato importante como a F3 Regional Europeia, não poderia ficar sem um suporte financeiro, para ter o direito de finalizar o campeonato e ter a possibilidade de ganhar o título, como acabou acontecendo."
"Conheço o Gianluca desde que ele tinha oito anos de idade, sou um dos managers do Caio Collet, e realmente me senti na obrigação de tentar estruturar um grupo de investidores para que a gente tivesse condição de, junto com a Ferrari e com a Prema, além do pai do piloto, montar uma operação que desse suporte aos compromissos assumidos no início da temporada."
"Tudo para que ele pudesse fechar o campeonato e lutar pelo título contra adversários bastante habilitados, como Arthur Leclerc, irmão do piloto da Ferrari Charles Leclerc (monegasco da F1)", destacou Monteiro.
"No final deu tudo certo e o Gianluca mostrou que é um piloto com qualidades extremas. Ganhou o campeonato com muita garra e com muita bravura, contra tudo e contra todos. Nos deu uma alegria, para nós brasileiros e amantes do esporte a motor, com a bandeira do Brasil com mais um título e ele com os 40 pontos da superlicença da F1. Então, hoje, aos 18 anos, ele é o terceiro piloto brasileiro a ter a superlicença no momento."
"O primeiro foi o Pietro Fittipaldi, o segundo o Sérgio Sette Câmara e agora o Gianluca Petecof, pelo fato de ele ter conseguido, graças ao nosso suporte e ao talento dele, finalizar o campeonato e conquistar o título. Junto com o título, o direito de adquirir a superlicença da F1. Já valeu todo o investimento que a Matrix Energia e a Americanet fizeram nesse ano difícil, de vários desafios."
"Um ano pandêmico, mas realmente a gente juntou forças, fomos em frente e conquistamos o nosso objetivo. Então, parabéns ao Gianluca, parabéns à America.net e parabéns ao Brasil. Que isso sirva de exemplo para outros empresários que têm esse amor e essa paixão pelo automobilismo: não medir sacrifícios pessoais e financeiros em prol dos pilotos, dos jovens talentos do Brasil, em apoio ao esporte de base automotor", completou Monteiro.
Contra tudo e contra todos
Mas quem disse que as dificuldades parariam? Além de enfrentar a crise financeira que quase o tirou do grid e de sua caminhada para a F1, Petecof teve que lidar com algumas incertezas oriundas de sua própria ‘casa’.
O principal rival na busca pelo título era também o seu companheiro de equipe, que tem o irmão como o maior nome da Ferrari na atualidade: Arthur Leclerc. O monegasco acabou até somando mais triunfos que o brasileiro: seis, contra quatro de Petecof. Mas a consistência acabou sendo o ponto forte do paulistano, um dos únicos a pontuar em todas as corridas, além do finlandês Patrik Pasma.
Entretanto, não foi tão 'fácil' assim, destaca Petecof. O fator político interno poderia ter mudado os destinos do campeonato.
“Quando você tem um começo muito forte no ano e tem total convicção da qualidade do seu trabalho, você se depara com situações um pouco inexplicáveis. Para mim, uma delas foi a etapa de Mugello, em que a maioria do tempo foi na chuva e eu estava com uma performance fora do normal, além das últimas etapas do ano.”
“É claro que você fica um pouco desapontado, porque você sabe que todo o trabalho que você faz merece render um resultado melhor do que está sendo mostrado. Mas fico muito feliz de poder trazer o título, independentemente dessas situações, dessa reviravolta no fim da temporada. Mas sei que a equipe ligada a mim estava dando o máximo, sei que eles estavam fazendo de tudo para entregar o melhor carro possível."
“Não sei como a equipe opera internamente, nunca questionei o trabalho que fizeram, mas, com certeza, não sei se foi por uma questão técnica que não foi descoberta ou por alguns detalhes que passaram despercebidos."
"Viemos de corridas muito difíceis, como Mugello, Monza, Barcelona, e Ímola, onde a nossa performance foi excelente, mas sofremos um problema de motor. Em Vallelunga (etapa final), na nossa última sessão oficial de treino em pista seca, eu fui o primeiro colocado e mais de meio segundo mais rápido que os meus companheiros de equipe, então tudo voltou ao ‘normal’.”
A redenção
Aos trancos e barrancos, mas sempre pontuando, Petecof chegou a Vallelunga, na Itália, só dois pontos à frente de Leclerc. O início foi estrondoso, como o próprio piloto citou, e, na hora ‘H’, veio a recompensa. A forte chuva acabou inviabilizando a realização da corrida 2, sendo que o brasileiro acabou tendo dois resultados melhores que o monegasco: um quarto e um quinto lugares contra apenas uma sexta colocação de seu rival, já que ele abandonou a última corrida.
Mais do que o título e a redenção, a possibilidade de voos mais altos. O primeiro lugar no campeonato da F-Regional deu a Petecof 25 pontos de superlicença, que, somados aos 15 que ele já tinha, totalizam 40, o necessário hoje para se ter a liberação para correr na F1.
Com a ‘carteirinha’ na mão, após as comemorações – mais do que justas – o brasileiro terá que decidir quais os passos a seguir. O provável destino é a FIA F3, mas, a partir daí, um novo livro será escrito, com a certeza de que o tão sonhado lugar na F1 não virá tão facilmente assim.
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