MotoGP: Por que teste de Sepang determinará futuro de Márquez e Honda
Primeiro ensaio coletivo de 2023, que acontece nesta sexta, marcará um ponto de virada na inércia vivida pela Honda
Como é lógico, a maior parte dos elementos da equação envolvendo a Honda giram ao redor de Marc Márquez, considerado por muitos o piloto mais influente da história da marca, junto de Valentino Rossi e Mick Doohan na MotoGP. O espanhol, que voltará a subir na RC213V depois de passar as férias se preparando fisicamente para chegar ao topo do campeonato, pediu abertamente ao construtor japonês uma reação.
A mudança de mentalidade dos responsáveis pela Honda podem ser sentidas se levarmos em contas as últimas declarações de Tetsuhiro Kuwata, onde ele admite abertamente sua frustação por estar na condição de 'caçador', no lugar de ser a 'caça'.
"Lamentavelmente, a Ducati está na nossa frente. É frustrante ver que estamos atrás nesse aspecto, que estamos perseguindo. Isso faz com que não possamos nos dar ao luxo de provar coisas novas neste momento, queremos mudar essa tendência o mais rápido possível", comentou o executivo há algumas semanas.
Existem vários indicativos que levam a pensar que a Honda, a fabricante mais potente do paddock da MotoGP, efetivamente mudou o 'rumo'. Em primeiro lugar, a incorporação de pessoas de outras fábricas, com menção especial a Ken Kawauchi, contratado da Suzuki e que ocupará o cargo de diretor técnico substituindo Takeo Yokoyama.
Ir à busca de uma peça tão relevante como a que ocupava Yokoyama, um elemento fixo na estrutura, permite adivinhar que os alicerces da HRC estão se movendo mais do que o habitual. Em paralelo a chegada de Kawauchi, a parte técnica das duas oficinas (Repsol e LCR) também foram reorganizadas. No entanto, o resultado de todas essas recolocações dificilmente darão frutos antes que se complete a primeira metade do calendário. E, nesse caso, pode ser tarde.
O potencial que a versão da moto de Márquez e Joan Mir irá oferecer neste fim de semana provavelmente marcará um ponto de virada na trajetória da Honda. Seja de maneira ascendente ou não. No segundo caso, qualquer um pensará que é difícil a fábrica de Tóquio fazer pior.
Foi a última na tabela de construtores em 2022, campeonato em que não conquistou uma única vitória e na qual a Repsol Honda, sua equipe oficial, terminou em nono, 60 pontos atrás da estreante Mooney VR46. No entanto, pode ser que a queda não pare, mas se atenue ainda mais.
Marc Márquez, Equipo Repsol Honda
Photo by: Repsol Media
O Motorsport.com entende que dentro da própria estrutura da HRC cresce o entendimento, e o convencimento, de que, se a moto de 2023 não apresentar um passo significativo adiante na visão de Márquez, o mais provável é que o multicampeão busque uma saída, que inclusive poderia ser adiantada e acabar acontecendo em 2024, ano em que ainda tem contrato em vigor. E, de momento, os sinais relativos a RC213V, não convidam ninguém a lançar confetes no ar.
"Tenho um grande respeito pela Honda, especialmente pela forma que me tratou durante os dois anos em que estive lesionado, como cuidaram de mim, foi especial", declarou Márquez, em uma entrevista concedida ao Motorsport.com.
"Sei que não foi normal e por isso sempre terei todo o respeito pela Honda. Minha mente está concentrada apenas em voltar ao topo com eles. Logo, claro, se não for possível, porque sinto que não tenho as ferramentas, tentarei encontrar o melhor para mim. Meu sonho é continuar aqui, mas meu maior sonho é ganhar campeonatos", argumentou o espanhol.
O piloto de Cervera completará 30 anos na próxima quinta-feira e já não é mais o mesmo indivíduo que era até o fatídico domingo de julho de 2020, em Jerez, onde lesionou o braço enquanto conseguia uma das reviravoltas mais memoráveis da história. Por conta disso, agora são poucos que o veem competir para além dos 35, 36 anos. Até esse momento, até que decida para de correr, a mente do #93 só tem uma meta: voltar a ganhar o título.
O problema é que a receita para colocar a coroa em sua cabeça novamente não mais a mesma que o levou a conquista-la seis vezes anteriormente, onde podemos dizer que ele praticamente reinou.
Marc Márquez, Repsol Honda Team
Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images
Antes de cair em Jerez, há três anos, a temporada em que havia conquistado os piores resultados tinha sido em 2015, quando terminou em terceiro com 242 pontos depois de conquistar três vitórias e nove pódios. No estado atual das coisas, esse rendimento o teria levado a brigar pelo título na última temporada.
Esse domínio que lhe permitiu encadear sequências improváveis como a de 2014 (dez vitórias consecutivas), quando somou 13 vitórias em 18 possíveis; ou a de 2019 (12 vitórias em 19, com 18 pódios), parece coisa do passado. Não tanto pela sua condição física, mas pelo inquestionável passo em frente dado pela competição, tanto a nível técnico como a nível de condução.
A esta altura conclui-se que Márquez precisa mais do que nunca da Honda, a questão é saber se a empresa está em condições de responder à sua bússola, à pedra angular do seu projeto, a quem suportou, praticamente sozinho. Se a resposta a essa pergunta for afirmativa, o mais provável é que o de Lérida renove seu atual contrato, que expira no final de 2024, e nem seria despropositado pensar que encerrará sua carreira na categoria de motos pesadas, tendo defendido uma marca única.
No caso contrário, cresce dentro da própria Honda a sensação de que o piloto vai procurar uma saída que ofereça mais garantias. Apesar da musculatura empresarial do gigante japonês, neste caso será difícil convencê-lo com o talão de cheques. Já sabe que não vai assinar o contrato pelo qual teve de entrar 100 milhões de euros, entre 2021 e 2024 – ainda que tenha acordado uma redução considerável em 2020, fruto da sua ausência–.
O contexto socioeconômico do campeonato sofreu uma tremenda metamorfose em resultado do impacto do coronavírus, e isso originou contratos de outra natureza. De maneira geral, os novos acordos reduzem a base do salário fixo para focar nas variáveis de resultados. Este ecossistema financeiro, combinado com a atual situação em torno de Márquez, abre as portas para qualquer um dos grandes fabricantes considerar uma contratação que, até recentemente, parecia impossível.
Marc Márquez, equipo Repsol Honda, Alberto Puig, director del equipo Repsol Honda
Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images
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