NASCAR Full Speed entrega o prometido em ritmo de Drive to Survive, mas pode incomodar fãs mais fervorosos

Série documental de cinco episódios transporta telespectador para o mundo da maior categoria das Américas, mesmo com falhas que podem deixar parte dos fãs incomodados

Ryan Blaney, Team Penske, Menards/Dutch Boy Ford Mustang

ATENÇÃO: O texto a seguir contém spoilers

Estreou nesta terça-feira (30) o tão aguardado NASCAR Full Speed, série documental de cinco episódios que retrata os playoffs de 2023 da NASCAR Cup Series. Produzido e exibido pela Netflix, a atração, logo que anunciada, foi - e ainda é - comparada a Drive to Survive (DTS), que retrata os bastidores da Fórmula 1 e é apontada como a grande alavanca de crescimento da categoria de monopostos nos Estados Unidos.

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E a comparação é válida. Desde o primeiro episódio, a impressão que se tem é que há uma nova temporada de DTS, mas com personagens e locais diferentes. Ritmo da trama, trilha sonora e edição remetem à docussérie da F1.

Mas, naturalmente, os ingredientes 'nascarianos' começam a tomar conta e a possibilidade de ser uma cópia fica para trás. O enfoque mais pesado em dois dos pilares da NASCAR diferenciam Full Speed de que qualquer outra produção que já feita: apoio da família e trabalho em equipe.

Mesmo com cinco episódios, alguns personagens estão sempre presentes, utilizando-se destes pilares, mesmo não estando necessariamente envolvidos com algum dos quatro finalistas. Um exemplo disso é o ambiente que envolve Denny Hamlin.

Denny Hamlin

Photo by: Netflix

Denny Hamlin

O piloto da Joe Gibbs e proprietário da 23XI, equipe em que é sócio de Michael Jordan, recebe a maior parte da atenção da série. Como competidor, Hamlin ainda não conquistou um título, mas há bastante destaque para a empresa que ele possui com uma lenda do esporte. Também aparecem bem os pilotos que são 'subordinados' a Denny e ao mesmo tempo são rivais do veterano. Estes elementos e a família Hamlin estão nos holofotes do primeiro ao último episódio.

Por exemplo, o pai do piloto, Dennis Hamlin, rouba a cena pelo charuto guardado com a promessa de ser fumado junto com Jordan quando Hamlin for campeão, além do crew chief de Bubba Wallace, Bootie Baker, que brilha em vários momentos quando indagado sobre seu piloto.

As namoradas dos finalistas também ganham atenção, especialmente no último capítulo, já que a irmã de Ryan Blaney, Erin, é a namorada de William Byron.

Para quem não está acostumado com a NASCAR...

Outro mérito da série é a naturalidade com que as regras da categoria são introduzidas. O fato de se ter playoffs em um campeonato do esporte a motor pode trazer mais dúvidas do que certezas para o público, mas o sistema de disputa é explicado aos poucos e sem grandes dramas.

A produção acerta também em iniciar a trama falando sobre a corrida anterior ao início dos playoffs, em Daytona, o que dá chance de focar em um dos 'queridinhos' da série, Bubba Wallace, classificado após quase se complicar na pontuação, explicando as excentricidades do regulamento.

Sim, há falhas

NASCAR Full Speed também tem suas falhas, especialmente ao olhar dos fãs mais acostumados com a categoria. Duas delas se destacam.

Até pelo grid maior em comparação a qualquer categoria relevante do esporte a motor, há um monopólio da atenção no núcleo Denny Hamlin. Especialmente nos dois primeiros episódios, a vida pessoal e profissional do #11 é cansativamente explorada. Sua eliminação no campeonato é retratada até com certa melancolia. Hamlin é um personagem importante na NASCAR, mas o tempo dedicado a ele é desproporcional ao seu papel.

Ao mesmo tempo em que Hamlin tem tempo de sobra na série, a falha grave é a não aparição de Kevin Harvick, especialmente nas provas que se tornaram as suas últimas na categoria. O campeão de 2014 e substituto de Dale Earnhardt não foi lembrado nos cinco episódios, mesmo sendo um personagem importante, com personalidade e história que deveriam ser contadas até para aqueles que o desconhecem completamente.

Ryan Blaney

Photo by: Netflix

Ryan Blaney

Conclusão

NASCAR Full Speed é uma obra necessária tanto para o fã da categoria quanto para aquele que ignora o campeonato completamente, mas gosta de automobilismo. É certeza de entretenimento com os personagens mais profundos do esporte a motor mundial e que estão envolvidos em uma montanha-russa de emoções a cada fim de semana.

A obra pode ainda contribuir para finalmente acabar com a ideia de que a categoria é dominada até hoje por 'rednecks', trazendo o profissionalismo que outros esportes pegam como referência.
O sucesso - ou não - vai depender também de como o estilo Drive to Survive está repercutindo nos Estados Unidos e no mundo hoje em dia. Mas a tendência é que a produção tenha vida e personalidade própria nos próximos anos.

Além disso, o fato de ter 'apenas' cinco episódios ajuda. Quem gostou fica no aguardo de mais no próximo ano e quem não curtiu não ficará tão preso à produção.

Os episódios

Ep. 1 - Sucesso ou derrota

Fala sobre os playoffs mas começa focando na corrida que antecedeu a fase decisiva da NASCAR em 2023. 400 Milhas de Daytona sob o foco de três pilotos: Hamlin, Byron e Bubba. O conflito de interesses toma boa parte do tempo, já que Hamlin é proprietário da equipe 23XI e disse que ajudaria seu piloto, Bubba, e não seu companheiro de equipe, Ty Gibbs, caso os dois precisassem de auxílio.

Ep. 2 - Outro nível

As três primeiras provas dos playoffs são exploradas, com a adição de Joey Logano na trama, bem como a sua eliminação precoce. O 'clã Hamlin' é completado com os bastidores da vida de Tyler Reddick.

Ep.3 - Quase lá

Seguindo a sequência dos playoffs, com provas no Texas, em Talladega e no Roval de Charlotte, vem a participação de mais dois personagens importantes: Ross Chastain e Ryan Blaney. O primeiro tem sua trajetória contada de maneira resumida, sendo parte da oitava geração de uma família criadora de melancias, além da menção à sua 'manobra de video-game' em 2022. O segundo venceu a etapa de Talladega e a partir dali arrancou para o título.

Ep.4 - Surpresas

A decisão dos finalistas norteia o episódio, com a apresentação de Christopher Bell e seu papel de quase 'azarão' dentro do campeonato, apesar de o próprio piloto não se considerar com este status. A eliminação de Denny Hamlin tem grande destaque, com o apoio de toda a família.

Ep. 5 - Cruzando a linha de chegada

A final é o grande tema do último episódio da temporada, desde os preparativos, na semana da corrida em Phoenix, passando pela tensão da prova e os altos e baixos dos pilotos. Além disso, a comemoração e decepção dos principais envolvidos. Declarações de pilotos que não chegaram à final servem de deixa para uma segunda temporada.

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Erick Gabriel
NASCAR Cup
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