Análise

Por que 'pilotos do asfalto' têm tantas dificuldades contra profissionais dos simuladores

Suspensão do esporte a motor forçada pela pandemia de coronavírus viu a proliferação de pilotos das pistas ‘reais’ envolvidos em competições de simuladores

Lando Norris drives a lap of the Interlagos circuit on his home simulator

Com a pandemia de coronavírus e a consequente suspensão do esporte a motor pelo mundo, uma série de eventos e categorias virtuais foram criados, com a oportunidade para pilotos de vários campeonatos competirem juntos pela primeira vez.

Mas também colocou nomes conhecidos do automobilismo contra muitos dos principais astros do esporte, dando uma sensação de quão grande é a divisão entre as corridas nos mundos real e virtual.

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A Veloce Esports e a Motorsport Games organizam eventos regulares, com pilotos profissionais e de simuladores, incluindo os eventos "Não é o GP" no que normalmente seriam os fins de semana de corrida de Fórmula 1.

O “Não é o GP” realizado no fim de semana de corrida no Bahrain teve cinco pilotos profissionais no grid: os pilotos de F1 Lando Norris e Nicholas Latifi, Nico Hulkenberg, Stoffel Vandoorne e Esteban Gutierrez.

No entanto, mesmo com toda experiência em carros de corrida do mundo real, foi mais difícil para eles traduzir isso para o mundo dos games no jogo F1 2019.

O piloto da Williams, Latifi, foi o piloto do mundo real mais bem colocado, em quinto lugar, mas ficou a mais de 25 segundos do vencedor da corrida e do profissional Daniel Bereznay, que compete pela Alfa Romeo na F1 eSports. O pódio foi completado pelos pilotos de simuladores Jarno Opmeer e James Baldwin.

Dos pilotos profissionais, Vandoorne terminou em sétimo; Norris ficou em 10º à frente de Gutierrez em 11º; e Hulkenberg terminou em 17º.

F1 2019 screenshot

F1 2019 screenshot

Photo by: Veloce Racing

A segunda corrida ofereceu uma história semelhante, mesmo com grid reverso. Cem Bolukbasi conquistou a vitória à frente de Bereznay e Baldwin, com Norris liderando os profissionais em sétimo lugar.

O evento mais recente da Veloce mudou o formato, colocando os pilotos um contra o outro em uma série de corridas individuais.

Enquanto Norris conseguiu a vitória desta vez, o YouTuber Benjamin 'Tiametmarduk' Daly conseguiu chegar à final, eliminando Latifi, o piloto de carros esportivos Archie Hamilton e o piloto da F3 David Schumacher. A campeã da W Series, Jamie Chadwick, também sofreu uma saída precoce, perdendo para o YouTuber Will 'WillNE' Lenney.

Um fator que explica a falta de sucesso dos pilotos profissionais nesses eventos é a plataforma: o game F1 2019. Ele é comercializado para ser mais um jogo no estilo arcade do que uma simulação perfeitamente precisa, o que significa que existem certas maneiras de ganhar tempo de volta que simplesmente não funcionariam na realidade.

É por esse motivo que Max Verstappen, da Red Bull, ótimo piloto de simuladores, descartou participar de qualquer evento usando o jogo oficial da F1.

"Existem alguns truques que você precisa conhecer", disse Norris. "No F1 2019, mais do que tudo, há muitas pequenas coisas que você precisa saber.”

"Para as pessoas novas, elas perdem facilmente de um ou dois décimos por volta, o que é muito para uma volta normal."

Prova disso aconteceu no evento Veloce Pro Series, uma semana após a corrida no Bahrein, realizada no iRacing, amplamente considerada como a plataforma de simulação mais abrangente. Norris conquistou uma vitória dominante saindo da pole, enquanto que o ex-piloto da Indy, Ed Jones, e o piloto da SUPER GT/Super Fórmula, Sacha Fenestraz, foram outros vencedores.

Veloce eEsports Pro Series Race screenshot

Veloce eEsports Pro Series Race screenshot

Photo by: Veloce Racing

O que diferencia os pilotos de simuladores de seus colegas do mundo real é simplesmente o tempo de jogo. Assim como os pilotos melhoram a cada volta e o carro na pista, aqueles que passam a maior parte do tempo competindo nesses jogos e simulações conseguem construir um banco de experiências.

"Se você não tem horas de experiência, se não conhece os truques, não estará na frente", disse o piloto de simulador Baldwin, cujo recente sucesso no eSports o viu garantir um lugar GT World Challenge Europe para 2020 com o time Team Rocket RJN de Jenson Button.

“Espero que todos esses caras [profissionais] estejam na frente no iRacing. É bem realista, a física está quase na vida real."

No caso de Norris, também existe o conhecimento do jogo, explicando seu sucesso: “Adoraria ver quantas são as minhas horas gastas no iRacing! Não sei se devo ter orgulho ou vergonha!"

O piloto da Williams, George Russell, é um novato nas corridas de simuladores, mas começou a participar de vários eventos, incluindo os GPs virtuais da F1, além de ajudar a estabelecer um evento de caridade também baseado no jogo F1 2019 com Norris, Latifi, Charles Leclerc , Alexander Albon e Antonio Giovinazzi.

Russell admitiu que não esperava que os pilotos de simuladores fossem tão rápidos.

"Eu estava tipo, 'caramba, vou ter que ter um pouco mais de esforço aqui!'", disse Russell na BBC 5 Live. “Para ser sincero, o nível está realmente alto agora. Na última corrida, houve seis pilotos de F1, mas não há pressão adicional tendo essas pessoas de fora, pois obviamente é isso que fazemos."

Os pilotos de F1 podem dizer que não há pressão extra contra seus rivais no mundo virtual, mas, pelo menos, está dando a eles um incentivo para continuarem praticando.

"É definitivamente muito, muito difícil", disse Latifi, companheiro de Russell na Williams. "Acho que eu poderia passar o resto das horas que vou me isolar e ainda não chegaria ao nível desses caras!”

"Se isso me manter afiado e me divertir, estou pronto para isso."

Confira como o coronavírus tem afetado o calendário do esporte a motor pelo mundo

Uma das primeiras aparições do coronavírus no esporte a motor veio com o adiamento da etapa de Sanya, da Fórmula E.
A Fórmula 1 adiou o GP da China pelo mesmo motivo.
Com o crescente aumento de casos do Covid-19, o GP do Bahrein chegou a ser confirmado, mas sem presença de público.
A MotoGP, a maior categoria das duas rodas do mundo, chegou a realizar a primeira etapa no Catar, mas apenas com a Moto2 e Moto3.
Mais tarde, as etapas da Tailândia, Estados Unidos, Argentina, Espanha e França também foram suspensas, com adiamento
No início de abril, a MotoGP confirmou também o adiamento dos GPs da Itália e da Catalunha, dois dos países mais afetados pela pandemia, além do GP da Alemanha. A etapa da Holanda, em 28 de junho, é, atualmente, a primeira etapa do ano
A Fórmula E anunciou a suspensão da temporada por dois meses: os ePrix de Paris e Seul foram adiados.
Em abril, a Fórmula E confirmou a extensão da paralisação do campeonato até o final de junho e o adiamento do ePrix de Berlim. As provas de Nova York e Londres se tornaram dúvidas
O GP da Austrália de F1 estava previsto para acontecer, com presença de público e tudo.
Um funcionário da McLaren testou positivo para o Covid-19 e a equipe decidiu não participar do evento.
Lewis Hamilton criticou a decisão da categoria, dizendo que era chocante todos estarem ali para fazer uma corrida em meio à crise do coronavírus.
Após braço de ferro político entre equipes e categoria, a decisão de cancelar o GP da Austrália veio faltando cerca de três horas para a entrada do primeiro carro na pista para o primeiro treino livre.
Pouco tempo depois, os GPs do Bahrein e Vietnã também foram adiados.
Os GPs da Holanda e Espanha também foram postergados.
Uma das jóias da Tríplice Coroa, o GP de Mônaco, foi cancelado. Poucos dias depois, o GP do Azerbaijão também foi adiado
O GP do Canadá também teve seu adiamento confirmado no início de abril. Agora, o GP da França é o primeiro do calendário, e está marcado para 28 de junho
Para atenuar os efeitos de tantas mudanças no calendário, a F1 decidiu antecipar as férias de verão.
Além disso, FIA e F1 concordaram em introduzir o novo pacote de regulamentos que entrariam no próximo ano, a partir de 2022. Mas, segundo Christian Horner, há um movimento para adiar em mais um ano, para 2023, em preparação ao impacto que o Covid-19 terá na economia mundial
Acompanhando a F1, a F2 e F3 também anunciaram suas primeiras provas como adiadas.
Outras categorias e provas nobres do calendário do automobilismo mundial também foram prejudicadas pelo coronavírus.
As 24 Horas de Le Mans foi adiada para 19 de setembro.
A etapa conjunta entre WEC e IMSA em Sebring foi cancelada e o WEC revisou seu calendário, jogando o final da temporada para novembro de 2020, com a próxima temporada iniciando apenas a partir de março de 2021
O tradicional TT da Ilha de Man foi cancelado.
A Indy suspendeu as primeiras corridas em St Pete, Alabama, Long Beach e Austin.
Na teoria, o campeonato começa no dia 6 de junho, no Texas. O circuito misto do Indianápolis Motor Speedway abrigará duas corridas, a primeira no dia 4 de julho e a segunda em 3 de outubro. Laguna Seca também ganhou uma rodada dupla e St. Pete deve fechar a temporada, ainda sem data
As 500 Milhas de Indianápolis será no dia 23 de agosto.
Na NASCAR, a maior categoria do automobilismo dos EUA, foram realizadas as primeiras quatro provas, mas as atividades devem voltar apenas no fim de maio, em Charlotte.
No Brasil, a CBA suspendeu as atividades no país por tempo indeterminado.
A Stock teve que adiar a abertura do campeonato, com a Corrida de Duplas. Etapas do Velopark e Londrina também foram adiadas.
A Porsche Cup realizou apenas sua primeira etapa em Interlagos e aguarda novas diretrizes para retomar o campeonato.
Endurance Brasil, Copa Truck, entre outras competições, também estão paralisadas.
Uma saída encontrada pelos campeonatos durante esse período de paralisações foi a realização de eventos virtuais. Fórmula 1, Indy, NASCAR, MotoGP, entre outros, estão organizando campeonatos para animar os fãs nesse período de quarentena
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