Análise

ANÁLISE: Drive to Survive entrega boa temporada graças a campeonato inesquecível, mas segue cometendo deslizes

Motorsport.com traz os principais pontos de debate da nova safra de episódios da série da Netflix

Max Verstappen, Red Bull Racing RB16B, Lewis Hamilton, Mercedes W12, Valtteri Bottas, Mercedes W12, Sergio Perez, Red Bull Racing RB16B,Carlos Sainz Jr., Ferrari SF21 , and the rest of the field at the start

Na última sexta-feira, a Netflix divulgou a tão aguardada nova temporada da série Drive to Survive, que conta os bastidores da Fórmula 1. E enquanto a nova safra de episódios pode ser considerada boa, muito graças ao incrível campeonato de 2021, a série segue cometendo deslizes que vêm irritando os fãs.

O Motorsport.com assistiu toda a nova temporada, e faz uma análise dos principais pontos de debate do quarto ano da série que, apesar das críticas, segue sendo um sucesso para a gigante do streaming.

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Photo by: Sam Bloxham / Motorsport Images

Hamilton x Verstappen: o foco do ano?

Após anos de domínio da Mercedes, finalmente tivemos um ano com um desafiante real, que levasse a briga até o fim (as tentativas da Ferrari em 2017 e 2018 acabaram morrendo na praia). E já era esperado que esse fosse o principal tópico da temporada. Mas, na verdade, eles acabaram não sendo 100% o foco...

Com Max Verstappen optando por não participar das gravações, defendendo que a série havia falsificado rivalidades em anos anteriores, a produção passou a contar com Christian Horner para entregar a versão da Red Bull. Mas, com isso, muitas das entrevistas do chefe da equipe austríaca tinham como objetivo falar sobre Toto Wolff, e não a Mercedes ou Lewis Hamilton, algo ‘rebatido’ com o chefe do time alemão falando do rival.

Hamilton apareceu bem mais neste ano em comparação com as temporadas anteriores, e conseguiu compensar um pouco isso, mas é notável a falta que Verstappen fez nesta safra de episódios.

Max Verstappen, Red Bull Racing RB16B, battles with Lewis Hamilton, Mercedes W12

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Photo by: Simon Galloway / Motorsport Images

“Quem vai vencer? No final, a Fórmula 1” (Stefano Domenicali)

Drive to Survive acerta em cheio ao dedicar mais espaço à disputa Hamilton x Verstappen ao longo da temporada, com quatro dos dez episódios dedicados apenas a essa batalha, incluindo os dois últimos. É a grande história da temporada e dos anos recentes da F1, não tem porque ficar abrindo espaço para os demais.

Mas a série peca no episódio nove, ao focar na corrida errada. A parte americana da temporada foi tratada em pouco mais de um minuto, apenas com imagens dando um resumo do resumo do que foram os GPs dos Estados Unidos, México e São Paulo.

Enquanto os dois primeiros são representativos para o campeonato, mas que ficaram devendo em termos de emoção, é inegável o papel da prova de Interlagos para a reta final. O GP de São Paulo trouxe uma das performances mais memoráveis de Hamilton e uma das maiores polêmicas entre os rivais, que seguiu repercutindo na semana seguinte, no morno GP do Catar, que, apesar disso, recebeu um grande destaque.

O último episódio focado única e exclusivamente em Abu Dhabi foi um acerto também, afinal, foi um final de semana repleto de emoção, e a série soube trazer isso, especialmente nas voltas finais, relembrando a todos o impacto que foi assistir aquilo ao vivo. Mas um ponto que não é consenso entre os fãs, e nem mesmo dentro do Motorsport.com é: não faltou trazer um pouco do que aconteceu após a bandeira quadriculada?

Charles Leclerc, Ferrari SF21, Daniel Ricciardo, McLaren MCL35M, and Carlos Sainz Jr., Ferrari SF21

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Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

A briga pelo terceiro lugar

A disputa entre McLaren e Ferrari pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores recebeu bastante atenção, dois episódios no total. E a história foi bem abordada, mesmo deixando de fora um ponto-chave do ano: a vitória que escapou das mãos de Lando Norris na Rússia.

Mas os outros grandes momentos receberam a atenção devida: o abandono de Charles Leclerc antes da largada em Mônaco, os problemas de adaptação de Daniel Ricciardo e sua volta por cima com a vitória no GP da Itália.

Em termos de disputas, vale destacar Alpine x AlphaTauri pelo quinto lugar. Enquanto Esteban Ocon e Yuki Tsunoda foram os que mais tiveram tempo de tela, vale mencionar que Pierre Gasly e Fernando Alonso tiveram pouco tempo de tela em meio a tudo isso. Não seria um exagero dizer que Liam Lawson, ex-companheiro de apartamento de Tsunoda, esteve mais presente que o bicampeão.

Nikita Mazepin, Haas F1 arrives

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Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

“É por isso que as pessoas te odeiam” (Gunther Steiner)

Fora do pessoal da ponta, dois episódios se destacam. O primeiro deles é o da Haas. Acho que todos tinham muita curiosidade em entender como era a dinâmica da equipe, entre o chefe Gunther Steiner, os pilotos Mick Schumacher e Nikita Mazepin, e o pai do russo, Dmitry Mazepin.

O episódio deu uma boa visão sobre isso, especialmente no momento em que Dmitry ameaçou cortar o financiamento da equipe se a Haas não trocasse os chassis dos pilotos e foi interessante ver como que Steiner se comportava junto a Mazepin na hora de dar bronca, afinal, era o russo quem estava mantendo a equipe ‘viva’.

Por outro lado, Drive to Survive erra ao seguir colocando Steiner como um “protagonista”. Acho que todos já estamos cansados de ver o chefe da Haas aparecendo toda hora, em todo lugar e comentando sobre tudo, inclusive em assuntos que não tem nada a ver com sua equipe, como a vitória de Ricciardo na Itália.

Claire Williams, Williams Deputy Team Principal with her father Sir Frank Williams, Team Principal

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Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

Williams: Passado x Presente x Futuro e uma reparação

Outro acerto que, na verdade é uma reparação, foi Drive to Survive finalmente reconhecer a venda da Williams, algo que foi ignorado no ano passado. Claire e a família Williams finalmente tiveram a sua “despedida” como forma de introduzir a nova direção do time britânico.

Mas foi bom acompanhar o processo de transição da Williams e como a equipe começou a sair do buraco no ano passado, graças a George Russell e Nicholas Latifi. Russell, inclusive, tem um destaque maior graças à vaga da Mercedes para 2022, algo que também foi bem tratado, mesmo que com alguns exageros dramáticos.

Kimi Raikkonen, Alfa Romeo

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Photo by: Erik Junius

Onde Drive to Survive ficou devendo

A impressão que fica desta temporada é que Drive to Survive perdeu a essência original da série: mostrar os bastidores da F1. Com exceção de alguns casos, o foco ficou muito para o que acontecia na pista, deixando de mostrar o que seria o grande trunfo da produção: aquilo que as transmissões televisivas não mostram.

Outro destaque negativo está para histórias importantes que foram ignoradas pela produção. Primeiro, a despedida de Kimi Raikkonen. Enquanto o campeão de 2007 apareceu por 5 segundos em 2021, desta vez ele sequer é mencionado. Um pecado considerando sua importância para a história.

A Aston Martin também entra nessa categoria. É a volta de uma das marcas mais icônicas do mundo ao esporte após 60 anos fora, em meio a um rebranding do time interior. Junte isso à queda de rendimento da Aston ao longo do ano, e o resultado final é um choque ao ver que a equipe teve apenas uma menção de 10 segundos ao longo de toda a temporada.

Toto Wolff, Executive Director (Business), Mercedes AMG and Jean Michel Tibi, FOM Cameraman

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Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

Com críticas recorrentes, Drive to Survive ainda tem futuro?

Não é de hoje que os fãs vêm criticando a série pela dramatização em excesso e a manipulação da realidade em busca de criar histórias. Mas esses comentários começam a chegar aos pilotos, especialmente após Verstappen se afastar da produção. Isso deveria ligar a luz de alerta para o futuro: se mais pilotos tomarem a mesma atitude, a série perde sua razão de existir.

Recentemente, o CEO da F1, Stefano Domenicali, também deixou o futuro da série em aberto, afirmando que, para seguir existindo, Drive to Survive precisa “seguir adicionando valor ao esporte”.

É inegável que Drive to Survive não tem como foco o fã fervoroso do esporte, e sim aquela pessoa que acompanha casualmente. Mas com a série evoluindo ao longo dos anos, esse fã casual passa a ser o fervoroso, e começa a fazer a mesma cobrança dos demais. Para o futuro, é preciso buscar o meio termo ideal entre seguir produzindo um conteúdo interessante para as plataformas, mas que não fuja excessivamente da realidade, para não perder uma base que pode deixar de ser fiel.

F1 2022: Saiba os PONTOS FORTES e os PECADOS da quarta temporada de DRIVE TO SURVIVE

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Guilherme Longo
Fórmula 1
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