Análise

ANÁLISE: Fórmula 1 chega aos 75 anos perdida entre o passado e o futuro

Categoria se encontra em uma encruzilhada sobre o futuro, buscando inclusive o passado para uma solução

The F1 logo lit up at night in the paddock

Há exatos 75 anos, em 13 de maio de 1950, a Fórmula 1 realizava a primeira corrida de sua história, o GP da Europa, em Silverstone. Com Juan Manuel Fangio na pole position, a Alfa Romeo dominou a etapa, com vitória de Giuseppe 'Nino' Farina e um top 4 formado pelos carros da marca italiana, tinha início aquela que se consolidaria a maior categoria do automobilismo mundial.

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Desde então, foram realizadas 1.131 corridas em 75 temporadas, com 787 pilotos diferentes integrando o grid, entre eles 115 vencedores de GPs e 33 campeões mundiais, construindo uma das mais belas e viciantes histórias do esporte mundial.

A Fórmula 1 chega ao seu 75º aniversário nesta terça, dia 13, em uma celebração que já começou mais cedo neste ano, em fevereiro, com um mega lançamento coletivo em Londres dos carros das equipes, e promete mais homenagens com o retorno da categoria à Europa a partir deste fim de semana, com o GP da Emilia Romagna. 

Porém, a chegada ao Jubileu de Diamante da Fórmula 1 está longe de ser composto apenas por celebrações, com a categoria enfrentando uma grande crise de identidade que ameaça o seu futuro, tanto o imediato quanto o mais distante. 

F1 2026 FIA car renders

F1 2026 FIA car renders

Foto de: FIA

F1 arrisca fiasco com carro de 2026?

Estamos a pouco mais de sete meses do início de 2026, e a oito da pré-temporada do próximo campeonato, que deve marcar o início de uma revolução técnica na categoria. Mas, ao que tudo indica, os objetivos iniciais não serão atingidos, nem de perto.

A novela do carro de 2026 começou há alguns anos, e vem se arrastando desde então, sem indicativos de que está próximo do fim. Não é a toa que as equipes seguem discutindo e pedindo mudanças no regulamento a sete meses do fim do ano, momento na qual o desenvolvimento dos carros da nova geração já deveria estar bem encaminhado.

O grande problema deste novo regulamento existe desde a sua gênese. FIA e F1 erraram na concepção deste novo carro desde o começo. Ao pensarem apenas nas regras do motor, eles deixaram de lado o carro, que se tornou quase uma nota de rodapé nas discussões.

O resultado é este que vemos desde o meio de 2023: análises de que o modelo de 2026 será consideravelmente mais lento que o atual (chegando ao ponto de 'rivalizar' com a F2) e algumas características que o tornariam um verdadeiro "Frankenstein", como apontado por Christian Horner, chefe da Red Bull, como a possibilidade de os pilotos terem que reduzir a marcha na reta principal para ganho de velocidade.

Um dos grandes pontos de debate hoje gira em torno do motor. Previsto inicialmente para uma equidade entre potência elétrica e combustão, os chefes defendem um percentual maior para a combustão, com alguns puxando até para uma divisão 80-20. E Horner já alertava isso em 2023.

"Acho que um dos maiores problemas, um dos grandes impactos de 2026 é o peso", disse Horner à época. "Estamos olhando para uma variação de 30kg nos carros, que já estão com pesos similares aos carros esportivos".

"Há alguns pontos positivos sobre 2026, como o combustível sustentável, mas acho que precisamos prestar atenção, com urgência, antes que seja tarde demais, que é a divisão entre potência elétrica e combustão interna para garantir que não criemos um Frankenstein técnico, que exigirá um chassi para compensar com a aerodinâmica móvel e para reduzir o arrasto a ponto de termos uma corrida prejudicada".

As discussões atuais, porém, devem ser apenas paliativas, com poucas mudanças efetivas para 2026, visando impactos maiores a partir de 2027. A temporada de 2026 promete ser bastante desafiadora para pilotos, equipes, fãs e a categoria como um todo.

Honda power unit

Honda power unit

Foto de: Honda

Debate sobre retorno do V10 mostra crise de identidade (e crise política)

E em meio a esse debate sobre o regulamento de 2026, surgem novamente as discussões pelo retorno dos motores V10. Com um estopim do presidente da FIA, Mohammed ben Sulayem, o assunto foi brevemente levado a sério, com uma reunião durante a temporada para discutir a introdução do novo motor já em 2028. No momento, o projeto está engavetado até pelo menos 2031.

Mas a discussão sobre o retorno do V10 vai muito além de uma questão regulatória. Ela prova como que a F1 vive atualmente uma crise de identidade, agravada por uma crise política envolvendo a gestão de Sulayem à frente da FIA.

Desde a sua gênese, a F1 vem atuando, para além do esporte, como um grande laboratório de desenvolvimento para as montadoras, com diversas inovações vistas primeiro nas pistas antes de darem as caras nos modelos de rua. A F1 sempre esteve na vanguarda da tecnologia, acompanhando (e se adiantando) às tendências do mercado.

A discussão sobre a volta do V10 deixa claro o problema que a F1 atual enfrenta, explicada no item anterior. O momento atual da categoria vem agradando a poucos, e um aceno ao passado é visto como uma forma de solucionar os problemas vividos. Mas não seria esse apenas um band-aid em cima de uma ferida ainda maior?

Carlos Sainz, Ferrari SF-24

Carlos Sainz, Ferrari SF-24

Foto de: Ferrari

Busca por circuitos de rua e o desrespeito com a 'alma' da categoria

Desde que assumiu o comando da F1, no início de 2017, a Liberty Media vem mudando a forma de "fazer" Fórmula 1. Uma ruptura total com a era Bernie Ecclestone trouxe a categoria para o século XXI de diversas formas, com destaque para a relação com as redes sociais e o diálogo com o público jovem, uma necessidade para qualquer esporte se manter relevante com o passar dos anos.

Um dos objetivos da Liberty era potencializar a popularização da F1, com ênfase no tão sonhado mercado americano. E devemos admitir que esse objetivo foi atingido. O público da categoria é mais jovem do que nunca, graças a esforços como a série Drive to Survive, um bom trabalho nas redes sociais, e a entrada de novas provas no calendário.

Mas, é neste último ponto, que mora um grande problema. Ao longo dos últimos nove anos, vimos uma mudança de paradigma sobre a categoria, especialmente sobre o calendário. Provas clássicas do calendário estão sendo substituídas aos poucos, por circuitos de rua sem personalidade, deixando dúvidas sobre a manutenção de locais lendários como Spa-Francorchamps (já renovado para o esquema de rotação), Ímola, Mônaco e mais.

A Fórmula 1 precisa sim buscar novos mercados, e não é errado trazer provas inéditas ao calendário. Mas tirar pistas clássicas para substituí-las por circuitos de rua sem sal podem acabar fazendo com que o tiro saia pela culatra. As pessoas querem assistir boas corridas e, para isso, é preciso boas pistas.

Uma das justificativas dadas pela categoria é o fato de que circuitos como Ímola e Spa não possuem uma estrutura que comporte a F1 da atualidade: um evento que vá além das corridas, com áreas para shows e eventos paralelos. Sim, o público de hoje em dia exige coisas diferentes, um entretenimento extra para um ingresso que já é bastante caro. Mas, no cerne de tudo isso, está uma boa corrida.

Greg Maffei, CEO, Liberty Media Corporation, Stefano Domenicali, CEO, Formula 1, on the grid

Greg Maffei, CEO, Liberty Media Corporation, Stefano Domenicali, CEO, Formula 1, on the grid

Foto de: Mark Sutton / Motorsport Images

Um novo dono no futuro?

Esse último ponto pode levantar grandes problemas em um futuro próximo. Ainda em maio é esperada a decisão do Comitê Antitruste da União Europeia sobre a compra da Dorna Sports pela Liberty Media, o que colocaria as duas principais categorias do esporte a motor mundial nas mãos de um mesmo grupo.

Porém, em meio a essa investigação da UE, surgem novos rumores sobre uma possível venda da F1 pela Liberty Media, o que colocaria a categoria com o terceiro dono diferente em menos de duas décadas. Alguns grupos do Oriente Médio já teriam demonstrado interesse em comprar a F1 caso isso se confirme.

Qual o problema neste cenário? Uma mudança de dono representa também uma nova visão para a categoria. Apesar dos problemas destacados nesta análise, é inegável os benefícios que a Liberty trouxe para a F1, e tudo isso pode ser desfeito a toque de caixa.

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Guilherme Longo
Fórmula 1
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