Análise

Bastidores: os 10 anos de um evento que mudou a F1

Editor-chefe do Motorsport.com Brasil, Felipe Motta relembra os bastidores do GP de Singapura de 2008, a primeira corrida noturna da história da F1, e conta por que a prova trouxe elementos inéditos à categoria

Aerial view of the circuit

Singapura, 2008. Tá aí um GP lembro até da arrumação das malas. A chegada daquela prova ao calendário da Fórmula 1 era um marco, e já tinha ouvido de muita gente que conhecia o país que era um grande barato. Corrida noturna? "Bicho, o que vai ser isso?", nós, jornalistas, nos perguntávamos

O processo de expansão do calendário, com a parceria de Bernie Ecclestone com o arquiteto Hermann Tilke havia começado bem antes. O GP na vizinha Malásia, em 1999, abriu as portas. Vieram outros locais importantes que, cada um à sua maneira, deixaram uma marca no esporte.

Mas nenhum deu o soco no estômago que Singapura deu. E foi um mega soco! O que vimos ali foi goleada do ponto de vista em diversos aspectos.

Quando cheguei ao país, o desafio era manter-se no horário europeu tradicional da corrida, já que a corrida seria à noite. Ou seja, nada de dormir em horários ortodoxos. O trabalho terminou à 1h, 2h da manhã, então "bora" achar um boteco para ficar acordado até umas 5h da matina. Nessa o GP ganhou aspecto de universitário. Foi disparado o que agregou mais a imprensa internacional. Todo mundo na saída da pista já mandava um "qual a boa para hoje?".

Na quarta-feira pré-corrida, os jornalistas brasileiros foram fazer o tradicional track walk dos pilotos (e que não costumávamos fazer em pistas tradicionais) e ali o astral já era único. A iluminação trabalhava à toda prova e fazer aquela caminhada na pista era sentir que a história estava sendo escrita nas pistas. No trajeto, me lembro de termos trombado com muitos personagens. O mais marcante? Fernando Alonso, que venceria quatro dias depois uma das corridas com resultado mais manipulado da Fórmula 1. Ele falou em português conosco, sendo realmente simpático. Vimos Felipe Massa com a esposa, Rubens Barrichello, entre outros. Todos muito animados.

A estrutura da pista era igualmente excepcional. Paddock funcional localizado abaixo da "Singapore Flyer", a imensa roda gigante, que virou ida obrigatória para qualquer jornalista durante uma sessão livre, a proximidade com os boxes e uma sala de imprensa impecável! Ela tinha vista privilegiada para a pista e um serviço incrível - o hit era sorvete de Haagen Dazs gratuito. Era abrir a geladeira e se entupir. Naquele bafo do sudeste asiático não poderia haver oásis melhor.

Não entrarei nas questões esportivas daquela corrida e de outras, porque já fizemos aqui e aqui no Motorsport.com, mas a questão básica quando temos a semana do GP de Singapura é celebrar o acerto dos dirigentes. Quando Ecclestone começou a corrida rumo ao "Eldorado do Oriente" errou bastante, foi criticado, mas a prova noturna é um marco do ponto de vista de organização, esportividade e competição.

Vida longa ao GP de Singapura.

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Felipe Motta
Fórmula 1
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