Entrevista: Keke Rosberg quebra silêncio após título de Nico
Há seis anos longe da imprensa, campeão do mundo de 1982 fala sobre campeonato conquistado pelo filho em Abu Dhabi
Nico Rosberg conquistou seu primeiro título mundial neste último final de semana em Abu Dhabi, e seu pai, Keke, quebrou o silêncio. O campeão de 1982 não falava à imprensa desde 2010, quando escolheu apenas apoiar Nico de maneira privada.
No entanto, foi difícil fugir da mídia após o título de seu filho neste último domingo.
Pergunta: Onde você esteve nesses últimos dias?
Keke Rosberg: Em Dubai.
P. Em um hotel?
KR: Em hotel e parcialmente na casa de um amigo hoje.
P. Você se manteve afastado nos últimos anos, não é?
KR: Acho que chegou a hora de dar um passo atrás. Não havia a escolha de vir aqui, porque se eu fosse vir e ficasse por três dias sem fazer nada, não teria um minuto de paz. Então discuti com Nico e disse: 'olha, eu não posso ir. Não funciona.’ Então é por isso que eu não vim.
P. Nico sabia onde você estava?
KR: Sim. Nico sabia o tempo todo. Eu não acho que ele sabia exatamente onde eu estava, mas ele sabia que eu estava em Dubai.
P. Como você reagiu à corrida quando Lewis segurou Nico nas últimas voltas?
KR: Eu tomei um gole profundo da minha cerveja e pensei que a prova ia ficar quente.
P. O que você fez no momento da ultrapassagem em Verstappen?
KR: Ele resolveu tudo na primeira curva, não é? Mas talvez eles comecem a educá-lo um dia. Ele é um cara muito talentoso, mas precisa de um pouco de orientação. Ele está jogando fora grandes resultados o tempo todo. E na F1 resultado é tudo.
P. É difícil assistir Nico? Você sente as mesmas emoções dele?
KR: Claro. Você não sentiria sendo pai?
P. Você é, naturalmente, o único campeão do mundo a ter visto seu filho ganhar um título...
KR: Sim, como alguém disse, o único vivo. Só eu!
P. Você imaginou que esse dia chegaria?
KR: Eu pensei que viria. Mas eu tinha uma regra quando cheguei à F1, de que há três coisas que você quer alcançar. Você tem que ganhar a sua primeira corrida, você tem que ganhar em Mônaco e você tem que ganhar o campeonato. E foi isso que eu disse a Nico. Agora podemos riscar e dizer que foi feito. Eu estive lá e fiz isso.
P. O estilo de condução dele é diferente do seu?
KR: Ele tem um carro melhor.
P. Como você acha que ele se tornou tão forte psicologicamente?
KR: Eu não sei. É notável. Eu o admiro por sua força mental e seu compromisso. Você tem que lembrar que o compromisso de alguém como Nico - e eu não sei como os outros fazem isso - é de 110%. Não tem nada a ver com ser um piloto de F1. Absolutamente nada.
P. A Mercedes tem dois campeões na equipe agora. Isso vai mudar a dinâmica lá?
KR: Não sei se muda, mas um homem feliz é sempre melhor do que um homem infeliz. Eu acho que Nico vai melhorar um pouco seu jogo no próximo ano, como todo mundo faz. Jenson (Button) fez isso quando ganhou o campeonato. Aconteceu comigo também. Isso provavelmente acontecerá.
P. Nico pareceu ficar muito emotivo falando de você...
KR: Sim, porque é um esporte de família e ele sabe o que significa para mim e o que isso significa para ele.
P. O que importa mais para você: as suas vitórias ou as de Nico?
KR: Não, minhas vitórias não contam mais. Elas foram há tanto tempo atrás que eu poderia ter virado dentista. Para mim, não conta mais. Vejo Nico, seu desempenho e sucesso agora.
P. Nico falou sobre você enviar mensagens de texto todos os sábados à noite dizendo 'pé no fundo'...
KR: É um pouco difícil, porque você tem que dizer alguma coisa, mas o que você diz? Não rode na primeira curva? Você não pode fazer isso. Então, você tenta manter o espírito e desfrutar. É um esporte e tem que ser apreciado. A pressão deve ser sempre menor do que o prazer.
P. Você acha que ele teve momentos difíceis na Fórmula 1 enfrentando tantos grandes pilotos?
KR: Isso acontece. Em 2014, ele poderia ter ganho o campeonato já. Claro que os últimos três anos foram complicados, sob tremenda pressão, porque você está lutando pela vitória todos os fins de semana e você está lutando por um campeonato todos os anos. Abandonos machucam a pontuação. Um volante com defeito em Cingapura (2014) na pole, não ajuda. Mas essa é a natureza deste esporte.
Quando eu estava correndo, costumávamos dizer que quando você via um piloto parado do lado da pista com o motor estourado, você somava mais pontos. Era assim naqueles dias. Agora os carros são muito confiáveis. Cada abandono é como um grande desastre. Na nossa época era normal.
P. É mais fácil ganhar o título hoje do que era na sua época?
KR: Não. Não é mais fácil nem mais difícil. É completamente diferente. Se você tomar o tênis de hoje como exemplo, não tem nada a ver com o tênis que era jogado há 30 anos. Hoje é um jogo de precisão e você precisa ser alto, forte e tudo isso. Aqui é a mesma coisa.
P: Em seu ano de título, você ganhou uma corrida e o campeonato. Lewis venceu 10 corridas e perdeu o título...
KR: Verdade. Mas a diferença de Lewis é que ele tem mais 50 cv a mais que o melhor carro atrás, eu tinha um déficit de 250 cv naquela época. Assim, você não pode realmente comparar as coisas. Tudo era muito diferente naqueles dias.
P: O que você diz às pessoas que afirmam que Nico é um campeão de sorte?
KR: Eu penso que Lewis já teve sorte duas vezes, então por que ele não deveria acontecer com Nico uma vez? Se você quiser ganhar o campeonato na F1, você não pode ter muita má sorte. Eu poderia ter vencido o campeonato em Monza, eu precisava terminar em quinto, mas a minha asa traseira caiu... em uma Williams. Você pode imaginar?
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