F1: A dúvida sobre Fangio que Moss levou para o túmulo
Primeira vitória do britânico na categoria foi como companheiro de equipe do argentino

A temporada de 1955 da Fórmula 1 representou uma grande oportunidade para Sir Stirling Moss, pois ele estava se juntando à poderosa equipe Mercedes, porém, o mais importante é que ele estaria ao lado do campeão mundial Juan Manuel Fangio, por quem tinha grande respeito e admiração.
Quando chegaram a Aintree no sábado, 16 de julho, para o GP da Inglaterra daquele ano, Fangio e Moss estavam em primeiro e segundo lugares no campeonato mundial, depois de vitórias na Bélgica e na Holanda. Naquela corrida, no meio do verão europeu, eles ainda estavam à sombra da trágica 24 Horas de Le Mans, na qual 83 espectadores morreram e cerca de 180 ficaram feridos quando o Mercedes de Pierre Levegh voou contra as arquibancadas principais.
Fangio e Moss dividiram o volante de um dos Mercedes 300 SLRs em Le Mans e o argentino foi testemunha ocular de toda a tragédia, que aconteceu bem na sua frente. Ambos poderiam ter lutado pela vitória naquela edição das 24 Horas, que estavam liderando até a noite. No entanto, a Mercedes decidiu retirar todos os seus carros logo após o acidente e a vitória em Le Mans para a dupla Fangio-Moss não aconteceu.
Com tudo isso no espelho retrovisor, eles chegaram ao GP da casa de Moss, onde o britânico começaria com o pé direito, conquistando sua primeira pole position na Fórmula 1. A corrida estava marcada para ser longa e tortuosa, com 90 voltas no circuito de 4,8 quilômetros para completar 434 quilômetros.

Juan Manuel Fangio
Foto de: Bernard Cahier
O "trem", como Fangio e Moss eram chamados durante o período em que trabalharam na Mercedes, por causa do conjunto que corria na frente, foi se distanciando aos poucos, até mesmo dos outros Mercedes de Karl Kling e Piero Taruffi, que estavam à frente da Maserati de Jean Behra na largada.
Fangio liderou as duas primeiras voltas antes de ver Moss passar, a quem ultrapassou na volta 18. Sete voltas depois, Moss recuperou a liderança e nunca mais a perderia, embora no final o campeão mundial o ultrapassasse.
O argentino abriu a curva à sua direita, como se quisesse ultrapassá-lo, e depois à sua esquerda. Parecia que ele tiraria a vitória de Moss, mas no final não conseguiu. Os dois Mercedes W196 cruzaram a linha de chegada quase lado a lado, separados por apenas dois décimos de segundo, de acordo com os resultados oficiais.
No entanto, Moss não estava convencido de que havia vencido a corrida por completo e suspeitava que Fangio o havia deixado vencer. De fato, Moss, como pode ser visto na foto acima deste artigo, entregou a coroa de louros do vencedor a Fangio e perguntou a ele sobre isso após a corrida.
Entretanto, a resposta também não o livrou da culpa. Moss foi questionado novamente há alguns anos, mas a dúvida permaneceu: "Nunca tive certeza absoluta, realmente não sei a resposta, Fangio nunca me diria. Mas ele me falou: 'este era o seu dia, você estava realmente em forma hoje'. Sempre foi difícil nos comunicarmos porque nunca tivemos um idioma em comum e não tenho certeza se algo se perdeu na tradução. Tudo o que sei é que consegui a volta mais rápida naquele dia e isso é um indicativo".
"Tínhamos dado a volta na liderança, eu o estava seguindo e então o ultrapassei - foi muito fácil! Ele também estava indo muito bem e, no final, peguei a última curva, na última volta, bati o pé no chão, fui para a direita e dei o sinal para passar, sabendo muito bem que não conseguiria, porque os carros estavam muito parelhos. E, claro, ganhei por meio carro de diferença!", contou.
"Depois, perguntei a ele 'você me deixou passar... você me deu essa' e ele disse 'não, não, você estava realmente em forma hoje'. Sinceramente, não sei se ele deixou ou não, mas sim, eu fui o mais rápido nos treinos, fiz a volta mais rápida e ganhei a corrida."
A primeira vitória de Moss na F1 também foi a primeira de um piloto britânico em sua corrida em casa, embora em um carro alemão. De qualquer forma, seria um grande momento para os milhares de pessoas que testemunharam aquele dia no circuito perto de Liverpool.
Essa também seria a última vez que eles dividiriam o pódio como companheiros de equipe, pois quatro corridas seriam canceladas naquele ano após a tragédia em Le Mans e eles só correriam depois de Aintree até setembro em Monza, onde Fangio conquistaria seu terceiro título, enquanto Moss não terminaria.
Foi, sem dúvida, uma vitória de grande importância, apesar da grande dúvida que Sir Stirling Moss levou para o túmulo. Seu currículo só confirma que, independentemente de Fangio ter sido cúmplice ou não em Aintree, como Moss foi com seu chefe de equipe em outras ocasiões, o britânico é o exemplo perfeito do "campeão não coroado".
NOVOS REPÓRTERES, só 15 GPs na Globo, NARRAÇÃO e +: ANÁLISE da F1 fora da Band. E MAX? Projeto Motor
Ouça a versão exclusivamente em áudio do Podcast Motorsport.com #343:
ACOMPANHE NOSSO PODCAST GRATUITAMENTE:
Faça parte do nosso canal no WhatsApp: clique aqui e se junte a nós no aplicativo!
Compartilhe ou salve este artigo
Principais comentários
Inscreva-se e acesse Motorsport.com com seu ad-blocker.
Da Fórmula 1 ao MotoGP relatamos diretamente do paddock porque amamos nosso esporte, assim como você. A fim de continuar entregando nosso jornalismo especializado, nosso site usa publicidade. Ainda assim, queremos dar a você a oportunidade de desfrutar de um site sem anúncios, e continuar usando seu bloqueador de anúncios.