Opinião: Nada de revolução digital, a F1 precisa de disputas
Em meio à discussão sobre meios digitais e mídias sociais, Jonathan Noble dá sua opinião sobre visão inicial da Liberty Media
Mais patrocinadores. Mais corridas. Mais TV paga. Apostas. Mais exploração digital. Maior impulso na Ásia e nos Estados Unidos. Realidade virtual. Realidade aumentada.
Tendo chegado como a principal acionista e motor para uma suposta nova Fórmula 1, a Liberty Media já nos ofereceu a sua visão de onde vê espaço para o esporte crescer e, principalmente, aumentar seus cofres.
Na verdade, grande parte do espaço para expansão é em áreas como as mídias sociais e o mundo digital, onde a F1 caiu para trás no tempo e agora tenta retornar.
Mas um aspecto que a Liberty tem feito um silêncio ensurdecedor é a única coisa que todos os fãs realmente querem ver: corridas melhores.
Vamos encarar: o domínio atual da F1 pela Mercedes e a falta de imprevisibilidade farão com que esta era do esporte não figure nos livros de história como uma das melhores.
Boas corridas precisam ser a primeira prioridade para uma F1 bem-sucedida. Os fãs em casa não querem assistir a uma procissão no domingo à tarde. Eles querem ver boas batalhas na frente e atrás no grid.
Não precisamos ter ultrapassagens a cada volta, mas é preciso que haja um certo nível de imprevisibilidade e que o resultado não seja praticamente decidido na saída da primeira curva.
A temporada de 2016 tem tido bons incidentes, mas não grandes corridas.
Vamos lembrar mais de momentos como os toques entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg na Espanha e na Áustria e Max Verstappen vencendo de maneira impressionante em Barcelona, do que de qualquer uma das batalhas intensas que ocorreram na luta pelo degrau mais alto do pódio.
As corridas emocionantes que tivemos – como Mônaco, Áustria e Cingapura – têm sido a exceção, não a regra.
Em vez disso, temos praticamente certo que veremos um fim de semana de corrida com uma dobradinha da Mercedes na frente, e ou uma Red Bull ou uma Ferrari em terceiro lugar. E, depois de dez segundos de prova, os lugares do pódio podem ser muito bem estar definidos.
Compare isso com a MotoGP, que está desfrutando de um ressurgimento de sua popularidade com uma luta super competitiva na entre Marc Márquez, Jorge Lorenzo, Valentino Rossi, Dani Pedrosa e a dupla da Ducati, onde os resultados são muitas vezes desconhecidos até o final. Coloque algumas vitórias de equipes fracas, e você tem todas as características de uma época clássica.
A F1 continua a ser a categoria mais popular do automobilismo no planeta, mas você pode se perguntar por quanto tempo se as corridas continuarem previsíveis como estão.
Maior imprevisibilidade, mais equipes e pilotos podendo ter sucesso e uma chance maior de os principais pilotos errarem. Isso certamente entregaria um tempero adicional.
Os benefícios para a F1 são claros: mais pessoas assistindo, maior envolvimento dos fãs – e, portanto, maior lucro.
Se a corrida não for boa (e eu sinceramente espero que as previsões pessimistas para 2017 não estejam certas), então não importa o que você faz no entorno: você não pode espremer dinheiro extra daqueles que se cansaram.
É um pouco como ter um cinema. Você pode fazer o edifício mais belo do mundo, com o melhor sistema digital, as melhores cadeiras, a melhor pipoca, o melhor som e tela de definição cristalina. Mas se você só mostrar filmes ruins, ninguém vai comprar ingressos.
Por outro lado, você pode ter um local degradado, com fila para comprar ingressos, com gente trazendo a própria pipoca, mas se tiver um contrato de exclusividade com os melhores filmes, vai ter gente comprando ingresso.
Para a Liberty Media, ignorar o “show” simplesmente na esperança de que, aconteça o que acontecer na pista, os fãs estarão dispostos a desembolsar dinheiro para ver a F1 em TV paga ou meio digitais extras, seria um grande erro.
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