Análise

Pilotos da F1 e direção de prova se reúnem para discutir limites de pista, mas resultado não é agradável

Único que saiu 'satisfeito' foi Verstappen, enquanto outros criticaram a falta de clareza dos comissários em disputas nos GPs de São Paulo e da Áustria

Charles Leclerc, Ferrari SF21, Lance Stroll, Aston Martin AMR21

Na sexta-feira à noite, no Catar, os pilotos de Fórmula 1 se reuniram por meio de videoconferência para as instruções regulares de fim de semana com o diretor de provas da FIA, Michael Masi. Muitas vezes, essas ocasiões são uma questão de rotina e acabam rapidamente, mas esta continuou por um tempo enquanto a discussão se voltava para as regras e, especificamente, as consequências do incidente entre Max Verstappen e Lewis Hamilton no GP de São Paulo.

Esse assunto foi discutido no início do dia pelos comissários originais da FIA no evento de Interlagos. Eles rejeitaram o pedido de um direito de revisão apresentado pela Mercedes, essencialmente com base no fato de que as imagens onboard do carro do holandês, que eles não tinham na época, não os fariam mudar de ideia para dar uma penalidade ao piloto da Red Bull.

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A esperança dos presentes era que a revisão pelos comissários - ou o processo que levou à rejeição da mesma - trouxesse alguma clareza sobre o que é e o que não é permitido nas disputas roda a roda.

O briefing subsequente deu a todos a chance de expor seus pontos de vista, e outros incidentes anteriores foram mencionados e dissecados, incluindo outro no Brasil que rendeu a Yuki Tsunoda uma punição após sua colisão com Lance Stroll.

Houve também um bate-papo sobre por que o vídeo onboard de Verstappen não estava disponível para os comissários na época, com Ross Brawn dando uma explicação em nome da F1.

O holandês, que naturalmente se sentiu vingado depois que os comissários de São Paulo apoiaram sua decisão original de não investigar formalmente o caso da Curva 4, compreensivelmente viu a discussão de sexta-feira como positiva.

"Acho que é sempre tentar alinhar todos em ter o mesmo processo da maneira que você pensa", disse ele após a qualificação no Catar no sábado. "Todo mundo é diferente, certo? E todo mundo, eu acho, tem sua própria maneira de correr, defender e ultrapassar e é muito difícil para a FIA também... como se diz? Colocar todos na mesma linha."

"Eles decidem, mas cada piloto tem uma opinião diferente. E eu acho foi tudo sobre compartilhar suas opiniões e a federação explicando seu processo de pensamento por trás disso. Acho que percorremos um longo caminho e foi um briefing muito extenso. Então sim, creio que no final ficou bem claro."

Lewis Hamilton, Mercedes W12, Valtteri Bottas, Mercedes W12

Lewis Hamilton, Mercedes W12, Valtteri Bottas, Mercedes W12

Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

No entanto, poucos dos colegas de Verstappen foram tão otimistas. Sentado ao lado dele enquanto falava essas palavras, Hamilton estava bem menos entusiasmado com o resultado do briefing.

"Não, não está claro", disse o heptacampeão. "Todos os pilotos, exceto Max, estavam pedindo apenas clareza. Então ainda não está definido quais são os limites da pista. Certamente, não é mais a linha branca ao ultrapassar, mas apenas vamos em frente."

"Nós apenas pedimos consistência. Portanto, se for igual à última corrida, deve ser igual para todos nós nesses cenários e tudo fica bem."

O fundamento do argumento de Masi, como sempre foi o caso, é que cada incidente é diferente e deve ser julgado por seus próprios méritos.

Há alguma lógica nessa abordagem, mas deixa muitos motoristas se perguntando por que situações aparentemente semelhantes podem gerar resultados muito diferentes na sala dos comissários.

George Russell não hesitou em sugerir que Verstappen havia ultrapassado o limite no Brasil e deveria ter sido penalizado.

"Acho que, infelizmente, não houve resultado na sexta-feira", disse o piloto da Williams e diretor do GPDA (em inglês: Associação de Pilotos de GP). "Eu aprecio que você precisa julgar cada caso individual, e circuito a circuito, mas para mim isso não foi nem perto da linha, foi muito além."

"Se essa fosse a última volta da corrida, na minha opinião, teria sido uma penalidade abrupta para Max. Você não pode simplesmente frear 25 metros e fazer isso."

"Da mesma forma que o incidente com Tsunoda e Stroll, não havia nenhuma maneira que Yuki deveria ter sido penalizado por isso. Ele tinha absolutamente o direito de ir para a mudança de traçado, não estava fora de controle, não estava travando, e ele ainda fez a tangência confortavelmente."

"Acho que foi um pouco infeliz para todos nós, os pilotos, o resultado de algumas discussões da semana passada."

Max Verstappen, Red Bull Racing RB16B, battles with Lewis Hamilton, Mercedes W12

Max Verstappen, Red Bull Racing RB16B, battles with Lewis Hamilton, Mercedes W12

Photo by: Charles Coates / Motorsport Images

Russell sugeriu que não havia penalidade para Verstappen porque, no final, não fez nenhuma diferença para o resultado - um contraste gritante com o confronto em Silverstone, por exemplo, quando Hamilton foi punido.

"Acho que Max não foi castigado simplesmente porque Lewis ganhou a corrida", comentou. "As consequências não devem ser um fator na punição ou no julgamento. Você deve julgar caso a caso."

"Isso é o que eles sempre nos disseram. No final do dia, todos nós queremos correr forte, mas isso foi difícil e injusto, e queremos uma corrida disputada e justa."

Carlos Sainz admitiu que ainda não sabe onde estão os limites e concordou com Russell ao dizer que o debate de sexta-feira não trouxe a clareza necessária.

"Eu concordo com George", disse o espanhol. "Parece que durante o inverno haverá conversas mais profundas sobre como vamos competir como um esporte, se o carro por dentro deve deixar espaço para um por fora em qualquer caso ou não."

"E precisamos repensar um pouco toda a abordagem, porque do jeito que está funcionando este ano, eu acho, está bem claro que não entendemos totalmente o que vai acontecer dependendo do que você fizer."

"E sim, vamos ver as últimas três corridas. Espero que não haja muitos episódios mais como os do Brasil ou Áustria. Devemos melhorar como esporte para o próximo ano."

Quando os comissários estão tomando essas decisões instintivas de fração de segundo no calor da batalha, os pilotos querem entender onde estão os limites e até onde podem forçá-los.

"Precisamos saber", comentou Sainz. "Eu preciso saber se eu posso empurrar o carro por fora. E o que vou conseguir se o fizer? Você tem um aviso chegando se fizer isso uma vez? Você realmente tem a possibilidade de executar isso algumas vezes e depois recebe uma advertência e pode fazer uma quarta vez? Vai receber uma penalidade na hora, como na Áustria?"

"Isso é o que não sabíamos e estávamos em busca de respostas. Nós mais ou menos recebemos alguns comentários de Michael [Masi], mas sabemos que às vezes ele e os comissários nem sempre são exatamente os mesmos. Portanto, veremos o início do próximo ano, acho que devemos dar um bom passo. Como esporte, precisamos tentar torná-lo o mais preto no branco possível."

Há muita conversa sobre como as áreas de escape 'convidam' a um comportamento mais agressivo e também como as brita castiga muito mais o piloto - gerando potencialmente uma resposta mais dura contra o que faz a inclinação.

"Minha humilde opinião como piloto de corrida não deve fazer diferença", disse o espanhol da Ferrari. "Porque fora da pista sempre teremos diferentes áreas de run-off. Devemos tentar e, para os fãs entenderem o esporte e os pilotos entenderem a prova, não deve afetar o que está do outro lado do meio-fio."

Antonio Giovinazzi, Alfa Romeo Racing C41, Fernando Alonso, Alpine A521, and Kimi Raikkonen, Alfa Romeo Racing C41

Antonio Giovinazzi, Alfa Romeo Racing C41, Fernando Alonso, Alpine A521, and Kimi Raikkonen, Alfa Romeo Racing C41

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

Fernando Alonso se envolveu em um incidente com Kimi Raikkonen em Austin que passou impune na época. Posteriormente, Masi disse aos pilotos no briefing do México que o piloto da Alpine confiou muito no finlandês, que também estava errado por completar uma passagem fora da pista. O bicampeão ficou frustrado com algumas decisões este ano.

"Acho que todos concordamos que precisamos de mais consistência, de regras claras", disse ele. "Porque quando são 'cinzentas', às vezes você sente que está se beneficiando e às vezes pensa que foi o vilão ou o idiota na pista novamente."

"É melhor quando é preto no branco. Vamos ver se podemos melhorar totalmente. Acho que não é apenas um problema da FIA, são pilotos, equipes e federação. Precisamos trabalhar juntos para ter uma regra melhor. "

Questionado se a discussão de sexta-feira deixou as coisas mais claras, ele disse: "Depende. Obviamente, quando explicam, dizem por que fazem isso e com os motivos. Ok, compreensível, mas todos nós estamos perguntando por que outras vezes pensou o contrário, mas eles estão sempre certos. Esse é o problema!"

Como outros, Lando Norris tinha duas opiniões sobre quais eram os limites agora.

"Acho que algumas coisas são um pouco mais claras, outras não", comentou o piloto da Mclaren. "Creio que o que está claro é que nem todos os incidentes serão iguais, mesmo que pareçam idênticos, por isso é difícil saber quais são as diferentes circunstâncias."

"Acho que a maioria das coisas foi esclarecida, mas é difícil dar um ponto definitivo e dizer que isso é o que você pode e não pode fazer."

Os pilotos apreciaram os princípios de "deixe-os correr" que têm sido usados ​​nos últimos anos e que Masi confirmou que foram aplicados pelos comissários no incidente da Curva 4 no Brasil. No entanto, eles não parecem ser aplicados de forma consistente.

"É certo que deve ser dada uma penalização, mas há alguns anos queríamos um pouco mais de liberdade de corrida", disse Daniel Ricciardo. "Estou pronto para isso, então não quero ficar entediado sobre qual punição é qual, mas acho que os mais flagrantes sempre terão um castigo e haverão aqueles que são um pouco mais 50/50."

"Então sim, você pode ver alguns se safarem com isso, e estou bem com essa questão na maior parte."

As mesmas regras devem ser aplicadas igualmente aos pilotos em todo o campo. No entanto, inevitavelmente, o foco no Catar e nas duas corridas que se seguem será a batalha entre Verstappen e Hamilton e o potencial ponto de inflamação de mais um confronto na pista entre os dois.

Masi e os comissários da FIA estarão sob intenso escrutínio enquanto tentam garantir um jogo justo, e não será uma tarefa fácil.

"Acho que é muito perigoso", observou o chefe da Mercedes Toto Wolff na noite de sábado. "Acho que o que aconteceu [rejeitar a revisão] e também no Brasil é chutar a bola na grama alta e torcer para que ela desapareça."

"Se tivéssemos uma situação polêmica em qualquer uma das três corridas que estão por vir, você pode imaginar a polarização e a polêmica que isso criará, simplesmente porque não foi claramente formulada?"

A próxima corrida da F1 é o GP da Arábia Saudita, no dia 5 de dezembro, e, com a disputa pelos campeonatos de pilotos e construtores cada vez mais acirrada, é possível que surjam mais polêmicas sobre os limites de pista.

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