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Tarso Marques revela negociação frustrada com Ferrari e chantagem de Briatore por contrato de 10 anos

Curitibano afirma ter recebido proposta da escuderia e relembra negociação tensa por contrato de 10 anos com o empresário italiano

Tarso Marques

Piloto que passou pela Fórmula 1 nas temporadas 1996, 1997 e 2001 pela Minardi, Tarso Marques fez uma revelação bombástica ao Motorsport.com. Em entrevista exclusiva via live de Instagram, o brasileiro disse que recebeu uma proposta para correr pela Ferrari. "A gente chegou até a fazer meio que um pré-acordo", relembrou o curitibano, que também afirmou ter sido 'chantageado' por Flavio Briatore para assinar um contrato de 10 anos com o empresário.

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"Se você não assinar, eu vou oferecer para o [Giancarlo] Fisichella, para o [Mark] Webber, para o [Jarno] Trulli", teria dito o polêmico dirigente. Segundo Marques, Fernando Alonso também estava na 'lista' do futuro chefe da Renault, bicampeã da F1 sob o comando do italiano.

O brasileiro relatou dois encontros tensos com Briatore, que teria 'forçado' o curitibano a aceitar a proposta. Isso tudo na frente de Trulli e Webber, também presentes na casa do empresário, que viria a ser banido da F1. Confira a imperdível entrevista com Tarso Marques no vídeo abaixo:

A negociação com a Ferrari

"Eu não assinei o contrato com o Briatore. O Briatore comprou a equipe (Minardi) e aí ele me propôs um contrato de dez anos, e eu não quis assinar o contrato com ele. Na verdade, antes, eu tive uma conversa, logo depois dessas duas corridas de 1996 (GPs de Brasil e Argentina, também com a Minardi), tive algumas conversas com a Ferrari. A gente chegou até a fazer meio que um pré-acordo."

"A gente estava negociando para eu correr pela Ferrari. Ia fazer um ano de Sauber, porque o [Eddie] Irvine ainda tinha um ano de contrato. E a ideia era entrar na Ferrari no ano seguinte. Isso estava super bem encaminhado, fizemos algumas reuniões lá e tudo."

"Só que tem aquele esquema da Fórmula 1, né... Se tem contrato com alguma equipe, você tem que resolver. A Ferrari falou: 'Bom, negocia com a Minardi a multa, a gente compra o passe e faz isso: você corre esse primeiro ano na Sauber, sendo piloto de testes da Ferrari, e, acabando o contrato do Irvine, automaticamente você vai correr na Ferrari'. Essa era a conversa, e acabou que a Minardi não liberou."

"A Minardi falou: 'Não, a gente não quer a multa para liberar o seu contrato, a gente quer o motor Ferrari pelo teu passe'. Aí fui para a Ferrari. 'Motor, não, a gente paga a multa... O motor é da Sauber. Não tem como fornecer para mais uma equipe'. E aí ficou nesse impasse... Ficou aquela confusão, enfim... Continuei no contrato com a Minardi e o bonde passou com a história de possibilidade de Ferrari, enfim."

Questionado sobre quem era seu interlocutor na negociação com a Ferrari, Marques disse: "[Também com o] Jean Todt (chefe de equipe), mas toda a conversa iniciou com o Stefano Domenicali. Com ele a gente falava direto, e o próprio Jean Todt também."

Marques também falou sobre o clima na Minardi após a negociação frustrada com a Ferrari: "Eu sou grato, porque talvez eu nunca tivesse corrido de F1. Se dependesse de 'ah, tem dinheiro para correr de F1?'... Hoje, falam em 35, 50 milhões de dólares que o cara tem que levar. Inviável. Na época, qualquer piloto que pagasse para levar 5 milhões de dólares... Era uma coisa inviável, eu não ia nunca correr de F1 na vida. Então sou grato pela oportunidade."

"Mas, por outro lado, [a Minardi] me travou numa hora [de ir para a Ferrari]. Depois, me deu uma outra oportunidade... Foram momentos, escolhas. Por exemplo: continuei lá, continuaram me pagando. Mas em 96 eu não fiz nada [depois dos GPs de Brasil e Argentina], ia em corrida e tinha que ficar lá assistindo um cara que tomava 3s. [Giovanni] Lavaggi correndo, esses caras aí... Aí em 97 foi um absurdo. Era o Briatore, o Briatore comprou a equipe."

Tarso Marques

Tarso Marques

Photo by: Minardi Formula 1

A negociação com Briatore

"Corria o Ukyo Katayama e o [Jarno] Trulli. Ele (Briatore) pegou e falou assim... Eu lembro exatamente, estava na praia, com meus pais, antes de começar o campeonato. Liga no meu celular, era o Briatore. 'Tarso, onde tu estás?'. Eu falei: 'Tô na praia'. Exatamente assim. Ele falou: 'Tá bom... Podes estar aqui na minha casa amanhã? Preciso falar com você, é super importante. Tá bom?'. Desliguei o telefone com ele e falei: 'Pai, estou indo para a Inglaterra'."

"'Estou indo para Londres, no apartamento dele'. Ele (pai de Tarso): 'Como assim?'. 'Estou indo já, acabei de falar com o Flavio e tenho que ir'. Desliguei o telefone, pulei na água do jeito que eu estava, peguei o carro, fui para Curitiba, embarquei à noite... No outro dia cedo, na Inglaterra, meio-dia, estava na casa dele. No dia seguinte. Cheguei lá sozinho. Estava ele, um advogado e um contrato. Ele chegou: 'Senta aí...'. Deu o contrato assim: 'Dá uma olhada aí e assina esse contrato'.

"Eu falei: 'O que é isso?'. 'É um contrato de dez anos para você ser meu piloto'. Eu falei 'mas como assim?'. 'Quero alguns pilotos para mim e você é minha primeira opção'. Aí eu falei: 'Tá, mas o que que é?'. 'É um contrato... Vou cuidar da carreira de alguns pilotos e você é o primeiro que eu estou escolhendo'. E eu: 'Tá, mas o que que diz no contrato?'. Ele e o advogado... Falei: 'Preciso mandar para o meu advogado no Brasil... Você não falou nada, falou para eu vir aqui e eu nem sabia o que você iria falar'. 'Veja então que eu quero definir já, porque tem os outros pilotos também que eu vou falar, mas você é a prioridade'."

"Aí eu mandei para os caras: 'Leiam aí, vejam já o que é'. O que que era o contrato: ele ia cuidar da minha carreira e definir onde eu iria correr, mas não dizia onde eu ia correr e não dizia o que eu ia ganhar, nada... Falei: 'Olha, não vou assinar o contrato'. 'Pô, você está louco, como não vai assinar o contrato comigo?'. Falei: 'Se quer que eu assine, garanta aí no contrato que eu vou correr dois anos na Minardi ou em qualquer outra equipe'. Ele tinha acabado de comprar a Minardi."

A 'chantagem' de Briatore

"Ele falou: 'Se você não assinar, eu vou oferecer para o [Giancarlo] Fisichella, para o [Mark] Webber, para o Trulli...'. Ele tinha uma lista de pilotos. Para o Webber, para o Trulli, para o Fisichella e para o Alonso. Ele falou esses nomes. E o Alonso ainda era mais novo. O Alonso ainda estava na Fórmula Renault, acho. Ele (Briatore) tinha esses nomes. Aí eu falei: 'Eu não vou assinar esse contrato'. Ele falou: 'Você é o primeiro nome da lista'."

"Aí eu falei: 'Tá bom, eu assino com uma condição: coloque aí no contrato que eu corro de F1... Eu não vou nem discutir a questão de que não tem valor de salário, mas coloque que são dois anos numa equipe pequena de F1, Minardi ou qualquer equipe, dois anos numa equipe média, e que daí para frente sejam equipes que me deem condições de disputar o campeonato'. Daí ele falou: 'Pô, você quer escolher também a marca de champanhe que você vai estourar no pódio?'."

"Eu falei: 'Não, eu quero que você me dê garantia de que eu vou correr de F1, senão você vai me colocar para correr de Turismo no Japão, ganhando dinheiro para você... Você vai ganhar dinheiro e vai me dar 50 dólares por mês e eu vou guiar táxi no Japão para você'. Eu não tinha garantia nenhuma do que eu ia fazer, nem onde ia correr e nem quanto ia ganhar. E ele, na época, era o Briatore que tinha comprado a Minardi. Não era o Briatore da Renault, da Benetton."

"Então falei: 'Não, não vou assinar'. Ele ficou puto comigo e eu falei: 'Não vou assinar e pronto'. 'Ah, então vou chamar os outros'. Falei: 'Então chame os outros'. Peguei e saí da casa dele. Aí quando eu fui sair ele falou: 'Você vai embora mesmo? Se você for embora, você não vai correr de Minardi esse ano. Eu vou pôr outro no teu lugar'. Por isso que o Trulli entrou. O Trulli, na verdade, testava com a gente. E o Trulli era lento para cacete...".

Fernando Alonso, new boss Paul Stoddart and Tarso Marques

Fernando Alonso, new boss Paul Stoddart and Tarso Marques

Photo by: Minardi Formula 1

"O Trulli tomava 1s5, 1s4 no mínimo, quando andava com a gente. Era muito lento, principalmente no começo. Ele andou para cacete para começar a andar rápido. Ele era muito lento. Aí eu falei: 'Não vou assinar'. Voltei para a Itália e o Giancarlo [Minardi, fundador da equipe]: 'E aí, como foi?'. Falei que não assinei e o Giancarlo ficou louco. 'Como que não assinou? Tinha que ter assinado. Você ficou louco, tinha que ter assinado!'."

"Eu falei: 'Não vou assinar porque ele não quer garantir isso, isso e isso, não sei onde ele vai me pôr para correr, não acredito nele'. Passou uma semana, ele (Briatore) me chamou de novo... Fui lá na casa dele de novo. Aí eu cheguei e estava lá o Trulli, sentadinho no sofá... Ele (Briatore) falou na frente do cara, foi muito foda, o Trulli quieto assim... Acho que era o Trulli e o Webber, nem lembro", seguiu Marques.

"Ele falou: 'Está vendo os dois aí? Estão esperando. A opção é tua, você assina ou não? Se você assina, você corre. Se você não assinar, eles querem assinar. Se você não correr, a vaga é de um deles. Eles querem assinar esse contrato que você não quer. E você vai ficar um ano sem correr. E vou fazer você ir em todas as corridas'. Daí falei: 'Se você não puser o que eu pedi no contrato... não estou preocupado com dinheiro, só quero uma garantia de que vou estar os 10 anos na F1'."

"E qual é a merda? Eu errei"

"Aí ele: 'Não vou garantir nada'. Eu falei: 'Então não vou assinar'. Daí ele: 'Então tá bom, estamos conversados'. Pegou e jogou o contrato para eles. Eles pegaram e assinaram. Na frente dos dois, falando: 'Se você não quiser, eu vou dar para eles e eles vão assinar'. Aí ele foi e assinou Fisichella, Webber, Trulli e Alonso. E qual é a merda? Eu errei. Todos assinaram, todos ganharam corrida, eu andei com todos no mesmo carro, andei mais rápido que todos e todos se deram bem. E eu...".

"Hoje é diferente, hoje tem 'escolinha' Red Bull e 'escolinha' Ferrari. Hoje eu acho mil vezes mais fácil do que na minha época, porque hoje é moleza. Se você está no kart e guia bem, tem escolinha McLaren, Ferrari, Red Bull... Depende do piloto, se o cara tem talento.

"Mas essas escolinhas são uma ilusão, eles pegam todo mundo, é igual jogador de futebol. Esses pilotinhos se iludem: 'Sou da escolinha Red Bull e vou para a F1'. Vai porra nenhuma... Se o cara guiar bem, ele vai ter uma chance. Mas não quer dizer que, se ele entrou ali, está certo [na F1]. Mas é uma oportunidade. Queria eu ter tido a oportunidade. Antes, você ficava dependendo de milhares de coisas para ter uma oportunidade."

"Então não tinha isso... Esse negócio do Briatore é difícil, porque ele não era o cara que... Ele se transformou n'o cara nessa época... Quando eu estava para assinar com ele, ele era um cara como foi o Paul Stoddart alguns anos depois, que me chamou de volta para a F1. Eu assinei, mas não vingou como ele (Briatore). Ninguém imaginava que o Briatore ia virar o cara que ele virou dois anos depois, com o Alonso."

"E outra: eu estava em alta. Eu tinha acabado de estar numa conversa super séria com o negócio da Ferrari. Tinha condição que podia ir para outras equipes. Estava fazendo os testes... O Tom Walkinshaw, na época um cara super forte, queria de qualquer jeito que eu corresse para ele. Tanto que eu fiz todos os... Eu briguei com a Minardi na época. Eu estava até entrando na justiça, porque eu queria a liberação para poder ter a opção da Ferrari".

"Eu saí de lá (Minardi) porque eu queria poder correr por outra equipe, então fui fazer os testes na TWR, com o Tom Walkinshaw, ele queria que eu corresse lá... Então eu tinha outras opções e eu não consegui exercer por causa dessas coisas desses contratos. O Briatore não era o cara que dominava tudo como foi três anos depois. Eu não tinha como adivinhar. Na hora, parecia que a gente estava tomando a decisão certa", completou Marques.

Tarso Marques e cia: relembre todos os pilotos brasileiros da história da Fórmula 1

Chico Landi - de 1951 a 1956 - 6 corridas
Gino Bianco - 1952 - 4 corridas
Hermano da Silva Ramos - 1956 e 1957 - 7 corridas
Fritz d'Orey (#40) - 1959 - 3 corridas
Emerson Fittipaldi - de 1970 a 1980 - 144 corridas, 2 títulos (1972-1974) e 14 vitórias
Wilson Fittipaldi - de 1972 a 1975 - 35 corridas
José Carlos Pace - de 1972 a 1977 - 72 corridas - 1 vitória
Luiz Pereira Bueno - 1973 - 1 corrida
Ingo Hoffmann - 1976 e 1977 - 3 corridas
Alex Dias Ribeiro - de 1976 a 1979 - 10 corridas
Nelson Piquet - de 1978 a 1991 - 204 corridas, 3 títulos (1981, 1983 e 1987), 23 vitórias
Chico Serra - de 1981 a 1983 - 18 corridas
Raul Boesel - de 1982 a 1983 - 23 corridas
Roberto Moreno - de 1982 a 1995 - 42  corridas
Ayrton Senna - de 1984 a 1994 - 3 títulos (1988, 1990 e 1991) 161 corridas, 41 vitórias
Mauricio Gugelmin - de 1988 a 1992 - 74 corridas
Christian Fittipaldi - de 1992 a 1994 - 40 corridas
Rubens Barrichello - de 1993 a 2011 - 324 corridas - 11 vitórias
Pedro Paulo Diniz - de 1995 a 2000 - 98 corridas
Ricardo Rosset - de 1996 a 1998 - 26 corridas
Tarso Marques - de 1996 a 2001 - 24 corridas
Ricardo Zonta - de 1999 a 2005 - 36 corridas
Luciano Burti - 2000 e 2001 - 15 corridas
Enrique Bernoldi - de 2001 a 2003 - 28 corridas
Felipe Massa - de 2002 a 2017 - 269 vitórias - 11 vitórias
Cristiano da Matta - 2003 e 2004 - 28 corridas
Antonio Pizzonia - de 2003 a 2005 - 20 corridas
Nelsinho Piquet - 2008 e 2009 - 28 corridas
Bruno Senna - de 2010 a 2012 - 46 corridas
Lucas di Grassi - 2010 - 18 corridas
Felipe Nasr - 2015 e 2016 - 39 corridas
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