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25 anos: Raul Boesel lembra vitória “roubada” na Indy 500

Ex-piloto recorda com exclusividade corrida na qual tomou duas penalizações, ficou uma volta atrás e ainda foi quarto

Raul Boesel

Olhando hoje nos livros e páginas da web dedicadas à história das 500 Milhas de Indianápolis, a edição de 1993 da secular prova norte-americana tem o nome de Emerson Fittipaldi em destaque. Não poderia ser diferente, afinal naquele 30 de maio ‘Emmo’ venceu de maneira heroica sua segunda prova em Indy, passando na pista por pilotos do calibre de Mario Andretti, Nigel Mansell e Arie Luyendyk.

Porém, a 77ª edição da Indy 500 apresenta mais do que provavelmente qualquer outra um vencedor moral: Raul Boesel.

Correndo pela modesta Dick Simon, o brasileiro vivia naquele início de ano sua melhor fase na Indy, e chegou a Indianápolis muito bem. Ele colocou seu icônico Lola-Ford #9 laranja e preto na primeira fila do grid, na terceira posição.

Já experiente em Indy e com o carro muito bem acertado naquele dia, Raul pulou para a ponta logo na largada e marchou sem concorrência durante as primeiras 17 voltas da corrida. Corrida esta que seria lhe tirada após duas punições de stop & go (uma delas reconhecidamente errada) e um procedimento de relargada bastante controverso no fim da corrida.

Questionado pelo Motorsport.com Brasil se acha realmente que foi roubado naquele disse, Boesel disse: “sim. Curto e grosso: sim”.

Primeiro pit stop, primeiro stop & go

 

Raul Boesel leads
Raul Boesel lidera largada

Foto: LAT Images

Com a rodada de Jim Crawford na volta 16, a prova teve sua primeira bandeira amarela. Boesel entrou nos pits junto com a maior parte dos concorrentes. Na saída, ele vinha mais embalado que Mario Andretti e passou o norte-americano após o término do pit lane. Em uma situação normal, Raul teria que ser comunicado da infração pela direção de provas e deixaria Mario Andretti passar de novo.

Porém, a USAC (que organizava apenas aquela prova da temporada) deixou a relargada acontecer para só aí dar a penalização a Boesel: um stop & go. No momento que isso ocorreu ele não liderava mais a prova e tampouco estava à frente de Mario Andretti – que havia passado pelo brasileiro após um erro na relargada, como ele mesmo reconhece. Para piorar, a penalização havia sido comunicada inicialmente para a equipe, segundo o chefe, Dick Simon, como excesso de velocidade nos boxes.

“Meu box era bem no meio do pit lane, e o do Mario Andretti, que vinha em segundo, um dos últimos”, lembra Raul.

“Naquela época era 100 mph ou 120 mph a velocidade do box – bem alta. Passei junto ao lado dele na linha amarela (que determina o fim do pit lane), mas eu completei a ultrapassagem depois. Depois ele começou a vir do meu lado e me mandar ir para trás. Aí eu perguntei para o meu box ainda durante a bandeira amarela: ‘preciso deixar ele passar ou continuo na frente?’ Aí me falaram: ‘a gente está checando, mas fica na sua posição’. Depois me disseram: ‘fica na sua posição que está tudo em ordem, pode relargar em primeiro’.”

“Na relargada, eu dei uma ‘marcada de touca’ e o Mario me passou, fiquei em segundo. E em mais umas três ou quatro voltas o box me chamou dizendo que eu tinha penalidade, um stop & go, por ter passado o Mario em bandeira amarela – que mais tarde reconheceram que erraram.”

Com a entrada no pit, Raul perdeu uma volta. Mas a corrida estava longe de estar acabada.

Recuperação

Boesel iniciou uma reação memorável a partir daí. Depois de ter caído para 26º, ele foi escalando pelotão. Com o carro bom, ele tinha tempo hábil (cerca de 175 voltas) para ainda chegar entre os primeiros da corrida.

Contudo, mesmo sendo rápido, o maior obstáculo era a volta perdida. Com a velocidade e a falta de bandeiras amarelas na metade da corrida, Boesel avançou aos poucos. Ele finalmente retornou à volta do líder após a metade da prova. O acidente entre Jeff Andretti e Roberto Guerrero na volta 128 ajudou o brasileiro a subir para oitavo, mais próximo das primeiras posições.

Raul lembra do grande trabalho feito no acerto de seu Lola naquele mês.

“Meu carro estava um avião”, contou.

“Eu consegui montar uma equipe boa de engenheiros ali. Tínhamos o Morris Nunn, que depois acabou sendo campeão com o Zanardi na Chip Ganassi e fundou a equipe dele. Ele saiu no meio do ano, porque trabalhar com o Dick Simon era difícil. Tínhamos também o Julian Robertson, que até hoje está trabalhando na Chip Ganassi.”

“Mas era complicado, porque o Dick Simon discutia muito e pagava mal. Começamos bem, e aí o time começou a deteriorar na segunda metade do ano.”

Retorno à liderança, segundo stop & go

Entre os últimos carros do pelotão, Raul Boesel foi obrigado a andar no tráfego até seu último pit stop. Sendo veloz na pista e se aproveitando das paradas dos rivais antes da sua, ele voltou à liderança na volta de número 168, uma antes de retornar aos boxes para sua última parada.

Mas a sorte não estava do lado do brasileiro naquele dia. Robby Gordon parou seu carro na pista e trouxe uma bandeira amarela no mesmo momento em que Raul estava nos boxes. Com o pit fechado, o piloto deveria ter passado reto e depois, só com o pit aberto, feito a parada.

“Com menos de 30 voltas para o fim eu estava em primeiro de novo”, recorda.

“Mas aí, quando entrei nos boxes, deu uma bandeira amarela – e naquele ano eles haviam instituído que quando desse uma bandeira amarela o box fecharia. Eu estava já comprometido com a entrada do pit e deu a bandeira amarela. Aí eu fiz o meu pit stop.”

“Aí eu saí e meu engenheiro me disse: ‘estamos bem, estamos em primeiro e com um pit stop na frente’. Mas aí veio de novo uma penalidade, dizendo que a equipe devia ter me mandado passar reto, sem parar. Eles mandaram eu entrar e pagar um stop & go durante a própria bandeira amarela.”

Relargada polêmica

Depois de cair para 12º após a punição, Boesel se recuperou até o quarto posto. Mas, na volta 184, uma nova bandeira amarela. Companheira de Raul na Dick Simon, Lyn St. James havia ficado sem combustível na pista.

Na relargada, outra polêmica. O estreante Stephan Gregoire era retardatário à frente dos líderes e foi ultrapassado por Nigel Mansell, Emerson Fittipaldi e Arie Luyendyk – os pilotos à frente de Boesel. Ele perguntou aos pits se poderia passa-lo também, mas foi alertado que os rivais seriam punidos.

Veja a partir dos 0:39:

 

“O pace car mandou o Gregoire passar e ele não passava. Era o primeiro ano dele lá”, falou Raul.

“Só que aí os três passaram ele. Eu falei para o box: ‘eles estão passando o Gregoire na bandeira amarela, você não pode passar em bandeira amarela’. Perguntei se podia fazer a mesma coisa, e o time disse: ‘não faça porque eles serão punidos, como você foi no caso do Mario'. Eles disseram que tinham certeza disso e eu fui por eles.”

“Só que aí, na relargada, os três aceleraram para relargar e o Gregoire ficou lá que nem uma tartaruga. Eu botei o meu carro do lado dele para tentar fazer ele acelerar, mas ele não foi e os três foram embora.”

Nenhum dos três pilotos foi punido. Mesmo com mais uma bandeira amarela, Raul não teve tempo de chegar no top-3, e foi o quarto.

Derrota amarga

Boesel define: “foi uma corrida que ninguém me passou, eu passei todo mundo duas vezes e terminei em quarto. Até hoje eu vou para Indianápolis e me falam que eu fui o vencedor de 1993, porque eu recebi duas penalizações injustas e eles não receberam uma clara que precisavam receber”.

Raul acredita que a política no meio da Indy abafou as reclamações de sua equipe. “Chegamos a protestar, mas brigar com a Penske e a Newman-Haas... como é possível não darem uma penalidade para os caras que passam outro em uma bandeira amarela? A regra é clara. Mas aí você vai fazer o quê?”

“Acho que também teve um pouco de política, até porque a Goodyear na época, além de fornecer pneu, pagava as equipes grandes. Para as médias eles só davam os pneus, mas os times pequenos tinham que pagar os pneus. Era o nosso caso, e a equipe tinha que assinar um contrato de compromisso de que se ganhasse a corrida a Goodyear e a pista de Indianápolis poderiam usar a nossa imagem de graça.”

“Só que aí o Dick falava: ‘se eu estou pagando os pneus, eu não vou assinar esse contrato. Deem pelo menos os pneus de graça para o Raul, que está largando na primeira fila e andou bem o mês todo’. Então, aí não teve jeito. Acho que também teve isso.”

“O Dick Simon era realmente uma peça. Ele – para variar – em Indy colocava cinco carros. Então, você imagina a divisão de forças, né? Mas, vamos dizer, eu me dava bem com ele de capacete. Ele dava palpites bons, mas fora do carro era horrível. Mas foi ele que me deu a primeira chance de pilotar em Indy e tal. Mas, ao mesmo tempo, em vez de ele conservar a relação, não fazia isso."

"Eu acabei até saindo de lá porque a minha patrocinadora na época, a Duracell, não aguentava mais. Perdemos a chance de ganhar ali algumas corridas por estratégia, por troca de pessoal o tempo todo... foi uma pena.”

Campeão mundial de protótipos sozinho pela Jaguar em 1987 e com extensa carreira internacional, Boesel vê a Indy 500 de 1993 como a grande apresentação de sua carreira.

“Com certeza eu coloco essa no meu top-5, se não for minha melhor corrida de todas. Tive também outras corridas que ganhei no Mundial de Protótipos, a corrida de Michigan de 1994 (quando quebrou no fim enquanto liderava) e Portland, (1997) que eu cheguei em terceiro logo atrás dos dois primeiros. Mas essa em Indy é a que fica mais na minha memória.”

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Gabriel Lima
Indy
Raul Boesel
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