Téo José lembra histórias de Silvio Santos dos tempos de Indy no SBT e destaca legado das transmissões

Narrador revela esforços do canal para entregar cobertura diferenciada da categoria na televisão brasileira

Silvio Santos

A morte de Silvio Santos neste sábado (17) reforçou o tamanho do legado do apresentador e empresário para a televisão brasileira. E, por mais que o SBT não seja muito lembrado como um canal de esportes, o trabalho de Silvio nesta área é lembrado até hoje.

O automobilismo teve uma história curta, mas impactante no canal, com destaque para as transmissões da Indy nos anos 1990. A categoria chega ao SBT em 1995 e, após a cisão da Indy com a CART em 1996, o canal fica com a segunda, passando a ser exibida com o nome de “Fórmula Mundial”.

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Mesmo com uma reta final difícil, já na fase em que o SBT estava abandonando a cobertura esportiva, a Fórmula Mundial se manteve no canal até o fim de 2000.

Em entrevista ao Motorsport.com, o narrador Téo José, que era a voz das transmissões da Indy no SBT, lembrou da relação de Silvio com o automobilismo, revelando os breves encontros que teve com o dono do canal.

“Tive três encontros. Um foi no aeroporto, quando eu estava embarcando para uma corrida nos Estados Unidos. Ele estava embarcando em outro voo, e conversamos por cinco minutos. Ele perguntou como estavam as coisas na Indy, deu os parabéns pela audiência que as corridas tinham alcançado e que estava muito feliz com a Indy no SBT”.

“O segundo foi na corrida de Toronto. Ele foi a convite do Emerson [Fittipaldi] ver essa corrida, sozinho.  O Emerson mandou buscá-lo em Orlando e ele foi para Toronto sozinho. Ele foi conhecer o esquema de transmissão”.

“Esse foi um encontro mais longo, uns 15-20 minutos dentro da cabine, perguntou bastante sobre como era a transmissão, algumas perguntas de parte técnica, de filosofia de trabalho”.

“Depois eu o encontrei na porta de um banheiro químico, porque era um circuito de rua. Durante a corrida, eu tinha falado algumas coisas que iriam acontecer no SBT na próxima semana, algumas atrações. Acho que tinham duas estreias e ele me perguntou ‘então quer dizer que deu certo esse programa’, ‘deu certo aquele’, e na verdade eu lia os textos que o artístico me mandava. Só respondi com a deu e tal e deu os parabéns pela transmissão”.

“O outro encontro foi em uma festa daquelas de final de ano do SBT. Ele perguntou ‘como vai’, ‘tudo bem’. Sempre falando com o nome”.

“Nessa minha volta para o SBT eu não tive nenhum encontro com ele. Eu voltei na pandemia. E depois da pandemia ele só foi gravar uma vez. Ele não era uma pessoa que ele ficava andando pelos corredores do SBT. Ele ia da sala dele para o estúdio. Ele era muito discreto”.

Silvio sempre foi muito conhecido por ter a última palavra em tudo que envolvida as decisões sobre o SBT. Porém, segundo Téo, isso não aconteceu nos anos de Indy no canal.

“Ele se envolvia muito pouco com a Indy. Eu nunca recebi nenhum um retorno, um ‘olha o Silvio Santos falou que na corrida é para fazer assim, que na corrida é para fazer assado’. Quem cuidava mesmo da Indy, era o Luciano Calegari”.

“Eu me recordo que na corrida do Rio, quando o André Ribeiro ganhou a corrida [em 1996], teve um diretor de programa, que entrou na coordenação e falou ‘olha, é para encerrar agora’. Isso era antes do pódio, antes do hino. Eu não entreguei, fui desobediente naquele momento. Fui até o hino e ninguém me cortou”.

“Na terça, eu fui ao SBT, até o Calegari, que queria conversar comigo. Ele sempre conversava sobre as corridas. Quando eu sentei para conversar com ele disse que o Silvio não estava nem vendo a corrida. Ele não se envolvia com a Indy e nem com o futebol”.

“Mesmo agora, na volta do futebol, quando eu fiz o Fla x Flu, no meio da pandemia, todo mundo estava vendo, inclusive ele. Ele não via muitos jogos, ele dormia cedo, mas esse ele estava vendo porque a gente recebeu a informação. Ele nunca falou nada”.

Mesmo com uma breve história no canal, a Indy deu um bom retorno ao SBT, não somente no lado da audiência, mas também no financeiro.

“As audiências eram boas. Nós ficávamos na casa de 14, 17 pontos por corrida. Não era a audiência do Gugu, já que entrávamos antes ou depois do Gugu, ou mesmo no meio do Programa Silvio Santos”.

“Mas era uma audiência boa e o faturamento era excelente. Era um faturamento que o SBT não tinha para o esporte”

O narrador destacou também um legado importante que as transmissões da Indy deixaram para as televisões brasileiras.

“Nós transformamos as transmissões de automobilismo. O SBT transformou totalmente as transmissões de automobilismo no Brasil. Foi a primeira emissora que entrou com repórter em câmera, ao vivo. Foi a emissora que mostrava os narradores e comentaristas ao vivo, antes da corrida”.

“Várias vezes fizemos abertura da transmissão na pista. A gente tinha helicóptero exclusivo, câmeras nos carros dos brasileiros, comunicação ao vivo com os pilotos brasileiros. Chegamos a ter, durante dois anos, todos os gráficos em português”.

“Como você vê hoje na Libertadores, com os gráficos em português, nós tínhamos isso nos EUA. Nós chegamos a ter uma equipe nos Estados Unidos de 25 pessoas. Tanto que ganhamos um prêmio da própria Indy como a melhor transmissão naquela temporada. E isso concorrendo com Europa, Canadá, EUA”.

“Uma vez, comandamos, em uma corrida aqui no Brasil, a ordem de ligar os motores. Ela foi dada por astronautas russos que estavam numa missão no espaço. Então isso tudo foi o SBT que fez”.

O narrador terminou destacando como que o bom trabalho do SBT refletiu na vinda da categoria para o Brasil.

“A maior audiência que tivemos foi na corrida do Rio, em 1996, que nós chegamos a pico de 28 pontos e média de 21. Foi a maior audiência da história da Indy, na vitória do André Ribeiro, na primeira corrida da Indy no Brasil”.

“O SBT era tão forte que eles conseguiram trazer uma corrida da Indy. Foi a primeira fora de EUA, Canadá e Austrália. Só depois que vieram Europa e México”.

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Guilherme Longo
Indy
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