Análise

MotoGP: Entenda o desafio que Márquez tem pela frente para retomar sua forma

Além de buscar seu ritmo em cima da moto, sua mente será um componente importante dessa retomada

Marc Marquez, Repsol Honda Team

Superada com excelência seu retorno à MotoGP, Marc Márquez aplicará agora uma estratégia para recuperar sua melhor forma em cima de uma moto, antes de determinar qualquer objetivo e / ou resultados a si próprio.

A matemática valida as teses daqueles que acreditam que o espanhol tenha margem suficiente para reconquistar o terreno perdido com relação aos líderes do Mundial, e que poderá chegar ao final da temporada no meio da luta pelo título.

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Após terminar em sétimo no GP de Portugal, e às vésperas da quarta etapa da temporada de 2021, em Jerez, Márquez está em 14º no Mundial, 52 pontos atrás do líder Fabio Quartararo.

Desde que chegou à MotoGP, em 2013, a maior desvantagem que conseguiu reverter para conquistar o título foram os 37 pontos de Maverick Viñales chegou a abrir nos três primeiros GPs de 2017, quando acabou disputando o título contra Andrea Dovizioso. Naquela ocasião, faltavam 16 GPs para o final, dois a menos que o que temos agora, desde que a Covid não afete mais etapas.

Até aqui, chega provavelmente o marco de fãs e jornalistas, habitualmente acostumados a simplificar a realidade individual dos atletas ao extremo de basear-se apenas em seus resultados.

No entanto, o piloto da Honda já deixou claro que isso não o preocupa de forma alguma, mas que a sua prioridade é voltar ao nível que tinha antes da fatídica queda em Jerez. E isso, segundo os especialistas, não se consegue da noite para o dia, mas sim com o passar de etapas, superando os desafios que ele coloca para si próprio.

Em declarações ao Motorsport.com, Pep Font, membro do departamento de psicologia do Centro de Alta Performance Sant Cugat em Barcelona, disse: "Pelo que Marc mostrou ao longo de sua carreira, acho que ele é uma daquelas pessoas que têm a virtude de se colocar os desafios certos".

"Neste momento, você não pensa em ganhar corridas ou títulos. Os seus objetivos serão menos grandiosos, mas muito mais úteis, dada a sua situação", disse Font, acostumado a trabalhar com outros nomes do esporte como Jorge Lorenzo e Marc Coma.

"Acredito que os objetivos a serem traçados serão ambiciosos, mas ao mesmo tempo realistas. Este é um aspecto fundamental, porque a pressão que deles derivará será criada por ele próprio e, de alguma forma, sabe que poderá aguentar".

"Podem ser coisas muito específicas da moto, aspectos relacionados com a posição de pilotagem, estilo, ou também relacionados com o tempo que se pretende atingir em setores ou comparar-se com alguém".

O choro de Márquez em Portugal ao voltar ao box após o fim da corrida, dá uma ligeira ideia do calvário que passou nos últimos nove meses. Estamos falando de alguém que já disse anteriormente que "prefere não expor esse tipo de emoções" mas, desta vez, a intensidade do que viveu superou até sua vontade.

Como ele mesmo reconheceu ao longo do final de semana, houve momentos em que duvidou se conseguiria correr novamente. E não só isso, mas ele até se perguntava se o braço direito permitiria que voltasse a ter uma vida normal. Tudo isso resultou em uma pressão tremenda que liberou, de repente, ao receber os aplausos da equipe.

Superado esse primeiro obstáculo, a pressão que terá que lidar mudou de forma.

"A pressão mais prejudicial é aquela gerada, sem querer, pelo próprio ambiente do atleta. E tudo isso se resume a um verbo: demonstrar. Esta 'demonstração' está ligada a algumas expectativas que são geradas. Mas devemos ter em mente que existe uma grande parte do componente nas expectativas que é irracional".

"É claro que Marc pode ser novamente o grande dominador, mas ele não precisa se sentir obrigado a isso porque não é algo que pode ser dado como certo. Pode ou não ocorrer. As pessoas ao seu redor, querendo ajudá-lo, podem acabar o sobrecarregando".

"Querer ajudar, com aquele discurso de 'certamente você voltará a ser o mesmo de antes' ou 'você vai ganhar novamente', geram expectativas que, nele, pelo seu histórico e pelo que ele alcançou, são tremendos. Obviamente ele consegue administrar, precisa estar ciente da existência desse fenômeno".

"Este é o maior passo que dei na minha recuperação. Foi melhor do que esperava", disse Márquez após o GP. O primeiro passo daquela caminhada que deve levá-lo a conhecer sua melhor versão em uma moto foi dado com firmeza, fiel ao seu estilo.

Esta é a única leitura possível se levarmos em conta a infinidade de obstáculos que superou em Portimão, pista onde nunca tinha andado com uma moto da MotoGP e que chegou 265 dias depois de subir em uma RC213V pela última vez e sem andar na pré-temporada.

E, apesar de tudo isso, cruzou a linha de chegada em sétimo, a apenas 13 segundos do vencedor Quartararo e dez segundos à frente de outro possível candidato ao título, Maverick Viñales, marcando ainda a nona volta mais rápida da corrida, que foi a última.

Ex-companheiro de SENNA POLEMIZA sobre o que Ayrton acharia da F1 atual em ÍMOLA e cita RATZENBERGER

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