Coluna do Vicente Sfeir: automobilismo brasileiro tem o que aprender com a Argentina
Colunista de mercado do Motorsport.com fala sobre as qualidades do esporte a motor no país vizinho
Aproveitando a semana em que acompanhamos um clássico do futebol mundial, Brasil vs Argentina (para a nossa sorte, passamos à final da Copa América), sinto-me mais à vontade para falar um pouco sobre o automobilismo argentino.
Muito se fala sobre a rivalidade entre brasileiros e argentinos no futebol, mas também existiu, no passado, uma grande rivalidade no automobilismo sul-americano. Rivalidade à parte, vejo com muitos bons olhos o que a Argentina apresenta na sua cena de esporte a motor nos últimos anos.
Independentemente de economia, política e outras turbulências que a Argentina atravessa (assim como o Brasil nos últimos anos, diga-se), o automobilismo argentino segue florescendo. É um esporte muito forte. Sem dúvida a Argentina é um país onde a diferença entre o esporte a motor e o esporte mais popular do país (também o futebol) é muito menor do que no Brasil.
O argentino é fanático por automobilismo e isso é perceptível de inúmeras maneiras: começando pelo lado da competição, eles têm campeonatos regionais e nacionais fortíssimos. Os pilotos que saem do kart vão para as categorias de turismo de forma natural, com o próprio mercado local proporcionando uma demanda por profissionais.
Eles têm categorias chamadas de “Turismo N” ou “Turismo Nacional”, que se equiparam com o nosso antigo campeonato de marcas, disputados com os carros mais de entrada das montadoras. São campeonatos extremamente competitivos e com grids enormes.
Por incrível que pareça, mesmo com a economia em crise há tantos anos, a Argentina consegue ter três categorias nacionais de altíssimo nível – do nível da Stock Car (que esteve em Buenos Aires pela última vez em 2017, como se vê na galeria abaixo). Estou falando da Top Race, a Super TC2000 e a clássica Turismo Carretera.
A presença de público é de 70 mil pessoas nos autódromos e as corridas têm uma cobertura de mídia impressionante, para todas as categorias - revistas especializadas, diversos programas de debate na TV, cobertura em rádio, etc.
O calendário é coordenado, de modo que os argentinos conseguem ter os pilotos profissionais disputando três campeonatos diferentes durante o ano. Isso faz com que o orçamento das equipes nos três campeonatos seja um pouco diluído, justamente por fazerem três competições muito relevantes.
O engajamento do público é muito alto, fruto também da presença direta e efetiva das montadoras e reflexo da cobertura que o esporte recebe. Para o fã de corrida, é um grande prazer ligar a TV no domingo à noite e ver uma mesa redonda sobre as provas, com pilotos das categorias nacionais discutindo os lances da prova do dia anterior.
Tive uma grande experiência na Argentina correndo lá durante dois anos e presenciei coisas que realmente não consigo imaginar hoje aqui no Brasil. O interesse da mídia local nas praças onde ocorrem as corridas é invejável, bem como a repercussão nacional dessas competições.
Se no gramado nossos craques deixaram Messi e companhia correndo atrás da bola na semifinal no Mineirão, no asfalto, temos muito a incorporar do exemplo deles: autódromos cheios, presença expressiva nas grades de programação dos canais esportivos, engajamento de montadoras e proximidade entre os competidores e os fãs.
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