Coluna do André Negrão - Recado aos fabricantes: tragam novidades, vamos testá-las na pista
Em sua coluna no Motorsport.com, piloto que representa o Brasil no WEC relata como o futuro das competições vão se entrelaçar com o dia a dia do cidadão comum
Na semana passada, participei de uma festa muito legal, promovida em Paris pela Alpine, braço esportivo da Renault que eu defendo no Mundial de Endurance (WEC). No mesmo evento, a Alpine homenageou a nossa equipe pelos resultados obtidos até agora. Também lançou um filme – chamado “Alpine, Le Mans in Héritage” – mostrando nosso desempenho em 2021. E anunciou sua entrada em 2024 na categoria LMDh, a mais importante do WEC.
Fiquei feliz com a homenagem – até fui chamado ao palco para falar. E achei bem emocionante o filme. Mas notei que chamou muito a atenção do público o fato de a Alpine projetar sua entrada na LMDh apenas para daqui dois anos – por que não agora? O período se justifica tanto pela complexidade do desafio – a Alpine vai enfrentar muitas fábricas de ponta da indústria – quanto pela importância do projeto.
E bota importância nisso: a LMDh promete ajudar a acelerar um dos fatos mais importantes da história recente – a necessidade urgente de motorizações que usem energia limpa e renovável. Algo que vai impactar na rotina de todos nós, incluindo nossos empregos e modo de vida.
Antes de seguirmos, uma explicação: o nome LMDh deriva de “Le Mans” (as letras L e M), Daytona (D) e Hypercar (os americanos da IMSA, sócios dos franceses de Le Mans nesse projeto, preferem que o H signifique Híbrido. Ambos têm razão. Mas esse é um assunto para depois).
Matthieu Vaxivière, Nicolas Lapierre e André Negrão
Photo by: Divulgacao
Um boom inédito
O que está acontecendo é que o Mundial de Endurance e o IMSA – os dois maiores campeonatos de automobilismo de resistência do mundo – estão preparando o que deve ser um boom inédito das corridas de endurance. Dessa vez ele colocaram o dedo na ferida e já estão gerando um interesse muito forte da indústria, algo que faltou nas últimas décadas.
Atualmente, já temos confirmadas para 2023 as fabricantes Audi, Acura (marca que pertence à Honda), BMW, Ferrari, Porsche, Glickenhaus e Cadillac. Alpine (Renault) e Lamborghini entrarão a partir de 2024. E esperamos a confirmação final da Toyota e Hyundai. Esse nível de participação não existe desde a década de 1980, no extinto Grupo C, que era o Mundial da época – o Brasil foi campeão com Raul Boesel em 1987, competindo pela Jaguar, com cinco vitórias na temporada.
OK, mas o que isso significa para o cidadão comum, que sequer gosta de corridas? Significa muito. Ao unificar o regulamento do WEC (que inclui a lendária Le Mans) e do IMSA (que tem supercorridas como as 24 Horas de Daytona), e introduzindo motores híbridos (gasolina e elétricos), estes dois campeonatos criaram uma fórmula irresistível e talvez revolucionária.
A partir dessa decisão, fábricas e carros envolvidos continuarão a ser testados de forma rigorosa (as provas são sempre longas e extenuantes, com velocidades superiores a 300km/h).
#36 Alpine Elf Matmut Alpine A480 - Gibson Hypercar, livery detail
Photo by: Eric Le Galliot
Somos milhões que eles precisam conquistar
Mas nós veremos cada vez mais como a tecnologia de cada marca se comporta nessas condições extremas. WEC e IMSA tornaram-se dois polos de extremo interesse para as fábricas e seus clientes (a galera que lota os autódromos e que acompanha as corridas na TV ou redes sociais. Somos centenas de milhões de clientes em potencial).
Sim, porque cada vez mais as pessoas estão considerando ter carros elétricos ou de outros tipos de fonte de energia em suas garagens. Antes, era algo altruísta, para ajudar o planeta. Agora, os clientes estão também apaixonados pelas vantagens dessas tecnologias. Na Europa, comprar carro elétrico não é mais algo visto como opção para o futuro. Hoje, um em cada doze novos veículos que saem das lojas são elétricos. Se incluir nessa conta os modelos híbridos – como os nossos carros –, essa relação sobe para um a cada três carros vendidos. E isso também chegará ao Brasil.
As implicações desse cenário dinâmico e revolucionário são imensas. Veja apenas este detalhe: um motor a combustão típico possui cerca de 200 componentes que eventualmente precisam de manutenção ou até de substituição. O motor elétrico usa apenas 20 peças. Isso significa que o foco da produção vai migrar, a indústria precisa se reinventar. Novas grandes empresas vão surgir para competir com as marcas tradicionais da ‘velha’ tecnologia. Na próxima década, teremos a extinção ou absorção de fábricas de renome por outras emergentes. E isso também vai afetar a geografia industrial, ou seja, devemos ver surgir novos centros de produção e tecnologia para motores e peças.
É um mundo em evolução e há quem diga que essa transformação equivale ao momento da transição do transporte a cavalo para o automóvel. E é também muito bom ver o automobilismo acompanhar – e até capitanear – essa tendência. Inclusive se colocando como palco para esses novos desafios. Para quem gosta de corridas, é uma ótima notícia. O recado dado aos fabricantes de todo o mundo é este: podem trazer suas novidades. Por que nós queremos testá-las na pista.
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