Coluna especial: o elo trágico entre Ratzenberger e Senna 25 anos depois

Jornalista brasileiro que mora na Áustria, Luis Fernando Ico relembra carreira e contato com pais de Roland Ratzenberger, que morreu um dia antes de Senna em Ímola

Roland Ratzenberger, Simtek S941

Por Luis Fernando Ramos, o Ico*

 

Em 2014, um grupo de torcedores italianos organizou uma belíssima homenagem a Ayrton Senna no circuito de Ímola. O evento atraiu o interesse de torcedores e da imprensa do mundo todo, com uma exposição trazendo carros e objetos utilizados na carreira do piloto brasileiro. E com uma tocante peregrinação de milhares de pessoas até a curva Tamburello para um momento de reflexão e um minuto de silêncio justamente no horário do acidente. Foi de arrepiar.

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Mas o momento que mais me tocou num final de semana carregado de emoções ocorreu no dia anterior quando foi feita uma homenagem a Roland Ratzenberger com a presença dos pais do piloto austríaco, Rudolf e Birgit, numa sala ao lado dos boxes do circuito. Enquanto a mãe adotou uma postura mais reservada, o pai atendia a todos com extrema simpatia.

Fiquei curioso ao ver a intensidade que ele vivia o momento de uma memória certamente dolorosa. Conversamos depois, e ele me explicou o quanto lhe era importante manter viva a memória do filho. “Este meu trabalho para Roland é um trabalho triste, mas que me economizou um psiquiatra. Outras pessoas precisam de acompanhamento depois de um golpe como esse. Eu não precisei. Com minha esposa é diferente. Até hoje, ela tem dificuldades em lidar com o que aconteceu”.

Roland Ratzenberger, Simtek
Roland Ratzenberger, Simtek involved in a fatal crash
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941 Ford
Roland Ratzenberger, Simtek
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek, talks with his race engineer Humphrey Corbett
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Ayrton Senna, Williams FW16, Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek
Roland Ratzenberger, Simtek S941, David Brabham
Roland Ratzenberger, Simtek S941
Roland Ratzenberger, Simtek S941
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Rudolf Ratzenberger admitiu também que, de certa forma, o acidente fatal de Ayrton Senna no dia seguinte ao de Roland acabou sendo fundamental para que isso ocorresse. “Nosso Ayrton e nosso Roland, os lembramos com tanto carinho. Nem parece que já se passou tanto tempo”, apontou.

Não se pode negar que a sucessão de acontecimentos no trágico final de semana do GP de San Marino de 1994 tornou a memória de Roland Ratzenberger muito mais celebrada do que a de outros pilotos que atingiram resultados muito melhores que o dele na Fórmula 1 e também morreram na pista - como por exemplo Luigi Musso, Peter Collins, Lorenzo Bandini e François Cevert, apenas para citar alguns vencedores de corrida.

Já o piloto austríaco disputava apenas seu terceiro final de semana na Fórmula 1. Correndo pela equipe Simtek, um time estreante e com orçamento modestíssimo, Ratzenberger não havia conseguido se classificar para a largada do GP do Brasil e chegado apenas em 11º lugar no GP do Pacífico, no circuito japonês de Aida. Um enorme contraste com o currículo de Senna, tricampeão do mundo, correndo pela melhor equipe da época e um dos esportistas mais populares do planeta.

Acabou que a interrupção brutal de suas trajetórias no mesmo tempo e lugar unisse os dois pilotos. Mas não havia só isso em comum: Ratzenberger era apenas três meses mais novo que Senna, também canhoto e um piloto extremamente popular no Japão. Lá, somou vitórias em categorias distintas, como esporte-protótipos, turismo e Fórmula 3000. E com uma equipe japonesa venceu as 24 Horas de Le Mans de 1993 na categoria C2 - chegando de quebra na quinta posição na classificação geral, um resultado notável.

Quando se acidentou na curva Villeneuve, após perder o controle do carro por uma quebra na asa dianteira, Ratzenberger vivia a realização do sonho que alimentava desde quando era criança e corria para ver os carros passarem velozes no circuito de Salzburgring, a poucos metros de sua casa. De família modesta, o austríaco financiou a fase inicial de sua carreira atuando como instrutor em escolas de pilotagem - ralava cinco dias por semana para correr aos sábados e domingos.

Passou pelo automobilismo de base na Inglaterra e só conseguiu certa independência financeira correndo no Japão. Mas as portas da Fórmula 1 só se abriram graças ao apoio financeiro de uma empresária austríaca sediada em Mônaco, onde ele morava - assim como Ayrton Senna.

No dia da corrida, o brasileiro planejava homenagear Ratzenberger com uma vitória. “Havia uma bandeira austríaca no cockpit da Williams e sabíamos que Senna gostaria de ter homenageado Roland. Nos deixa muito tristes que ele também tenha falecido. Tornou tudo ainda mais amargo”, me disse o pai Rudolf em 2014.

*Luis Fernando Ramos, o Ico, cobre Fórmula 1 desde 1995 e mora na Áustria desde 2001, tendo coberto o calendário da F1 in loco entre 2008 e 2016.

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Fórmula 1
Roland Ratzenberger
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