Análise

Os 'quatro pilares' do comprometimento da Mercedes com a F1

A Mercedes pode ter enfrentado especulações ao longo da temporada de que poderia deixar a Fórmula 1, mas não há dúvidas de que está encerrando 2020 mais comprometida do que nunca

Lewis Hamilton, Mercedes F1 W11

O recente vínculo da Mercedes com a INEOS, que resultou em uma reorganização acionária, criou o que o chefe da equipe, Toto Wolff, chamou de 'potência conjunta' para continuar acelerando na F1.

No entanto, as complicações em resolver o buy-in da INEOS e uma divisão de propriedade da equipe em três partes, aliada à definição de um novo contrato principal de equipe com Wolff, explica porque demorou tanto para os planos serem divulgados.

Mas o que fica claro, falando com os chefes da Mercedes agora é que, ao invés de haver qualquer debate intenso este ano sobre se a F1 se encaixaria bem com o futuro da montadora em meio à mudança dos tempos dos fabricantes de automóveis, o esporte na verdade facilmente atendeu a todos os requisitos do que precisava para a montadora alemã.

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Para o presidente da Mercedes, Ola Kallenius, quando se tratava de discussões sobre se deveria ou não se comprometer com a F1 para o novo período do Acordo Concorde, a partir de 2021, era importante que a decisão fosse baseada em razões racionais - e não apenas nas emoções de aproveitar a corrida.

E, como Kallenius explica, havia no final quatro 'pilares' fundamentais que o esporte tinha que cumprir para que a Mercedes estivesse completamente convencida de que a F1 era o lugar certo para estar.

"Eu sei que havia alguma especulação na imprensa, mas nunca pensamos seriamente em desistir porque é uma parte muito forte de nossa herança", explicou Kallenius, quando questionado pelo Motorsport.com sobre o futuro da marca na F1.

“Temos uma marca que nasceu literalmente no autódromo. Mas nos perguntamos na diretoria, quais são os pilares que compõem a Fórmula 1, além da conexão emocional com o esporte? Como você vê isso de um ponto de vista racional? Apresentamos quatro pilares aos quais você precisa responder, em nossa opinião, com sim."

Essas quatro áreas principais são: show, meio ambiente, finanças e lucratividade futura.

Aqui Kallenius explica porque cada um deles era tão importante para a Mercedes.

O show

Enquanto a Fórmula 1 ocasionalmente apresenta algumas corridas enfadonhas, a temporada 2020 da F1 mostrou como o esporte realmente oferece, na maioria das vezes, um espetáculo muito emocionante.

O esforço da Liberty Media para aumentar a exposição nas redes sociais e apoiar os Esports também contribuiu para atrair o público mais jovem - algo que deixa a Mercedes especialmente feliz.

Kallenius explicou: "O número um é: como é o show, o show é bom? E a base de fãs?”

“O que vimos particularmente no último ano, através das redes sociais, é realmente uma explosão no alcance. E a melhor notícia é que os fãs mais jovens estão chegando, de 15 a 30 anos através do Esports, através redes sociais e através de um grande show.”

"Não conheço um espetáculo de automobilismo melhor do que a Fórmula 1. Essa foi a pergunta número um. Isso foi respondido com sim."

O ambiente

Embora a mudança da F1 para motores turbo híbridos tenha sido uma mudança radical para o esporte ao atender às necessidades ambientais dos fabricantes de automóveis, ela intensificou seus esforços ambientais significativamente nos últimos dois anos.

Assim como a F1 se compromete a se tornar neutra em carbono até 2030, o esporte está olhando para um futuro onde os GPs sejam um campo de batalha para a tecnologia de combustível sustentável.

E embora o uso contínuo de híbridos possa não corresponder diretamente em linha com os fabricantes que estão se concentrando em futuros totalmente elétricos, Kallenius diz que a F1 está fazendo a coisa certa.

"Assumimos um compromisso muito claro para a Daimler e para a Mercedes irem para um futuro neutro de CO2, com a 'Ambição 2039' para automóveis de passageiros", disse ele, referindo-se à meta de CO2 de sua empresa.

“Queremos alcançar uma posição neutra de CO2 em três ciclos de vida do produto dentro de 20 anos. Também deve haver um caminho confiável para o automobilismo sustentável.”

“Também falei com Greg Maffei [presidente da Liberty] sobre isso na FOM, que concorda muito com isso. E lançamos um manifesto para a equipe no início deste ano, sobre como vamos levar a equipe Mercedes F1 em direção à neutralidade de CO2.”

"A tecnologia é uma parte importante disso. É uma fórmula híbrida já hoje e posso ver a parte elétrica dela aumentando. Posso ver que é um campo de testes para combustíveis com baixo teor de carbono ou sem carbono, que terão algum papel no mundo tornando-se eventualmente neutro em carbono.

"Então, esse segundo [pilar], você pode tornar o esporte mais sustentável com credibilidade? Acredito que sim. E certamente estamos comprometidos com isso."

Lewis Hamilton, Mercedes F1 W11, in the pit lane

Lewis Hamilton, Mercedes F1 W11, in the pit lane

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

As finanças

Os custos da F1 aumentaram dramaticamente nos últimos anos, com equipes bem-sucedidas gastando centenas de milhões de libras a cada ano em seus esforços para vencer.

A aceleração desenfreada das despesas era insustentável e arriscava até mesmo as montadoras bem-sucedidas a abandonarem a F1 se não pudessem mais justificar os gastos para os conselhos de suas empresas.

A imposição de um teto orçamentário para a F1 a partir de 2021, aliada a mudanças na forma como o esporte é financiado para torná-lo mais justo para todos, são fatores que tornaram a permanência na F1 algo óbvio para a Mercedes.

“A terceira coisa [para nós] foi a sustentabilidade financeira”, acrescentou Kallenius. “O limite de custo ajuda. Nós defendemos isso. Ele torna a proposta econômica melhor, então acho que estamos marcando essa caixa também.

Lucratividade futura

O que as mudanças nos custos da F1 também fizeram foi, talvez, mudar completamente o modelo de negócios das equipes.

Se antes não eram nada mais do que covas de dinheiro para os proprietários, agora há uma chance de tornar as finanças muito mais atraentes - e até mesmo de obter lucro.

"O quarto foi: sempre tem que ser um centro de custos, ou pode ser uma franquia de esportes, como um clube de futebol ou um time de futebol americano nos Estados Unidos?" continuou Kallenius. “E podemos ver agora que as pessoas estão começando a olhar para isso mais como franquias esportivas.”

"Ter um grande e forte parceiro profissional, que conhece o esporte profissional, como a INEOS, mostra isso. O fato de alguém como Jim [Ratcliffe, CEO da INEOS] tomar a decisão de unir forças conosco, acho que reforça esse quarto pilar. E com esses quatro pilares, para mim, a decisão é clara. Estamos dentro."

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Jonathan Noble
Fórmula 1
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