ANÁLISE: A Netflix foi longe demais com a licença criativa na F1?
A expectativa pode estar crescendo para a F1 2022, mas nos últimos dias os fãs passaram olhando para trás, com a nova safra da série da Netflix
A quarta temporada de Drive to Survive (Dirigir para Viver em português) foi lançada na última sexta-feira (11), durante a pré-temporada no Bahrein, recapitulando uma das temporadas mais dramáticas e controversas da história recente da Fórmula 1.
Mas, mais do que nunca, os fãs ficaram de olho nas edições sutis ou nas mudanças da linha do tempo que, enquanto necessárias para ajudar no efeito dramático, deixaram muitos frustrados ou desapontados com o que estavam vendo.
Por esse mesmo motivo, Max Verstappen revelou em outubro do ano passado que não participaria da temporada atual, afirmando que rivalidades haviam sido "falsificadas". E sua ausência acaba sendo sentida na nova safra de episódios.
Naquele momento, a fala de Verstappen levantou uma discussão sobre o uso da licença criativa em Drive to Survive. Naquela mesma semana, eu escrevi que não havia nada de errado com utilizá-la um pouco, devido ao impacto positivo que a série teve sobre a F1 como um todo, levando-a ao topo das produções mais assistidas da Netflix, atingindo milhões de novos fãs.
Mas a sensação parece ter mudado um pouco com o lançamento da nova temporada. Verstappen deixou claro no Bahrein que não mudará de opinião, adicionando que ele "provavelmente assistiria para ver o quão exagerado é".
Mesmo chegando na quarta temporada, já havia um grau de ceticismo, pouco auxiliado pelos eventos de Abu Dhabi (que um piloto chegou a comentar que "havia sido feito para a TV"), sobre o quanto Drive to Survive se manteria fiel aos eventos e a linha do tempo. Memes e vídeos já haviam sido publicados zoando a série e como alguns eventos seriam lidados, inclusive tornando-os mais dramáticos do que a realidade.
Drivers are filmed on the grid
Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images
Um exemplo da terceira temporada que se destacou foi a relação entre Lando Norris e Carlos Sainz na McLaren. O bromance entre os dois foi muito bem recebido pelos fãs e o paddock, mas o episódio parecia criar uma tensão entre eles quando, na verdade, ela não existia.
"Acho que no caso de Lando e eu, levaram um pouco além", disse Sainz. "Todos os fãs que conhecem a Fórmula 1, e há muitos especialmente agora que as pessoas nos veem ao redor do mundo, percebem que a Netflix exagerou comigo e Lando".
"Mas eu acredito que a Netflix saiba disso e é capaz de corrigir e julgar seus erros, e eles adaptarão, tornando um pouco mais realista nesse sentido".
Além disso, espera-se que certas cenas sejam forjadas para ajudar no desenvolvimento da história, já que há um limite no acesso da produção da Netflix, com algumas coisas acontecendo em reuniões privadas ou mesmo fora do paddock.
Exemplos recentes disso incluem Christian Horner ligando para Sergio Pérez no final da terceira temporada e dizendo "bem-vindo à Red Bull", como se estivesse anunciando para ele naquele momento, ou a reunião entre Toto Wolff e George Russell em Zandvoort para informá-lo que ele seria piloto da Mercedes em 2022, sendo que ele já sabia disso desde antes do GP da Bélgica.
A ausência de Verstappen na temporada atual significa que a maior parte da luta pelo título na visão da Red Bull é dita por Horner, cujos "ataques" à Wolff e a Mercedes são constantes. Muitas cenas são mostram ele fazendo comentários após ver o austríaco ou Hamilton em uma tela de TV, mas naturalmente não há como saber como as coisas foram editadas.
"O ano passado foi intenso, e uma série documental como Drive to Survive é, no fim do dia, um programa de televisão", disse Horner. "Eles estão pegando pequenos trechos de uma batalha longa e transformando em um programa. Claro, o efeito disso é um aumento no número de seguidores da F1".
"Mas é preciso lembrar que isso é feito para o entretenimento. Então, claro, elementos são tirados disso, e de vez em quando sequer são da corrida em questão".
"Há obviamente alguns comentários e coisas aqui e ali que certamente foram tiradas de contexto", disse Norris. "Quando você é a pessoa envolvida, talvez não concorde muito com isso, porque parece que você disse algo em certo momento e definitivamente não é correto".
George Russell, Mercedes, is filmed
Photo by: Motorsport Images
Um exemplo citado por Norris foi a etapa do Red Bull Ring em 2020, visto na terceira temporada, em uma batalha com Sainz: "Há um pedaço meu e de Sainz lado a lado na curva um, quando sequer estamos próximos, e eu digo que ele me tirou da pista, o que veio de uma corrida completamente diferente".
"Há algumas coisas que são demais e que eu não concordo muito".
Apesar da dramatização extra passar despercebida por vários fãs causais que consomem a F1 apenas pela série, o problema seria se isso levar outros pilotos a seguirem o mesmo caminho de Verstappen. Afinal, a produção precisa dessas personalidades para ser um sucesso.
Esse temor parece não ter fundamento agora, já que a maioria ainda concorda que os benefícios que a Netflix traz para a F1 ainda superam os negativos.
"Ainda é emocionante e bom para todos", disse Norris. "Desde que não levem muito além, parecendo com que alguém tenha feito algo que na verdade não tenham feito, o que seria ir longe demais, tudo bem".
"Ainda acredito que a Netflix seja algo bom para mim e a marca da F1", acrescentou Sainz. "Ainda farei parte se eles me quiserem".
Sempre foi difícil para a Netflix encontrar um balanço, garantindo que as histórias sejam dramáticas o suficiente para serem emocionantes e cheia de entretenimento para o fã casual enquanto tenta se manter o mais próximo possível da realidade. Muito acaba dependendo de quem é o público-alvo da série que, na verdade, não é o fã mais fervoroso de F1.
Mas como segue sendo uma parte importante da imagem global da F1, e cada vez mais esses fãs casuais se tornam fervorosos, garantir que esse balanço não fuja muito precisa ser uma prioridade.
F1 2022: Saiba os PONTOS FORTES e os PECADOS da quarta temporada de DRIVE TO SURVIVE
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