Entrevista

ANÁLISE: Por que a F1 é um bom negócio para a Alfa Romeo?

Carlos Tavares, CEO do Grupo Stellantis, fala sobre os benefícios do acordo atual da montadora italiana com a Sauber, algo bem diferente da abordagem pretendida pela VW

Zhou Guanyu, Alfa Romeo C42

Enquanto o Grupo Volkswagen já inicia os preparativos para integrar o grid da Fórmula 1 em 2026, os chefes da marca alemã podem ser perdoados pelos olhares de inveja aos rivais da Alfa Romeo.

A marca italiana está presente no esporte desde 2018, primeiro como patrocinador da Sauber e, a partir do ano seguinte, assumindo as operações da equipe. Essencialmente, o arranjo é simplesmente um acordo de patrocínio que tira vantagem da relação "familiar" com a Ferrari, fornecedora de motores e caixa de câmbio.

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Sendo assim, representa um acordo ótimo para a Alfa, já que a montadora não carrega o fardo de ter que criar um programa de unidade de potência ou de ter uma equipe própria, e todos os gastos que vêm com isso. 

Isso não é inédito na F1: a Red Bull já teve o patrocínio máster da Infiniti e da Aston Martin, dando a ambas as marcas um caminho mais curto para marcarem suas presenças no pináculo do esporte.

Mas a VW abordará isso de modo bem diferente. A Porsche parece a caminho de dar seu nome ao novo motor da Red Bull Powertrains, enquanto a Audi planeja comprar uma equipe para chamar de sua, enquanto ao mesmo tempo terá um programa próprio de motores a partir da Alemanha. No geral, um exercício bem caro.

Enquanto isso, a Alfa Romeo deve anunciar a decisão sobre a renovação do acordo com a Sauber em julho, gerando um perfil de alto nível, mas com gastos bem menores.

Carlos Tavares, CEO do Grupo Stellantis, que é dono da Alfa Romeo e outras marcas, não lamenta o acordo atual, e refuta sugestões de que a Alfa deveria se envolver mais diretamente com o esporte, arriscando com a compra do time suíço.

"Hoje eu tenho uma forte parceria. Está funcionado. A equipe é chamada de Alfa Romeo. E não acho que seja justo criticar o fato de termos uma forte parceria. Por que isso deveria ser criticado. Por que devemos pensar que existe apenas um único modo de estar na F1, que seria tendo uma equipe? Qual seria o benefício disso?".

"O benefício que buscamos para os fãs do esporte são boas corridas na pista. É isso que queremos ver. Ultrapassagens, frenagens tardia, gerenciamento de pneus e mais. Então o que eu desafio, com respeito, é a visão de que existe apenas um modo para se estar na F1. E gostaria de perguntar por que seria errado ter uma parceria forte em uma equipe chamada Alfa Romeo?".

"Se funciona, se a equipe está motivada, se os funcionários estão animados com o que fazem, se os resultados estão melhorando, se os pilotos dizem que o carro está cada vez melhor, se você vê isso nos resultados e se estamos aqui para discutir sobre isso, é porque isso funciona".

Valtteri Bottas, Alfa Romeo C42

Valtteri Bottas, Alfa Romeo C42

Photo by: Carl Bingham / Motorsport Images

"Então devemos abrir nossa mente para o fato de que existe mais de um modelo de negócio para estar na F1, talvez dois, três, quatro... Não sei. Mas entendo a especulação. Mas minha resposta franca e sincera de alguém que está no esporte há mais de 40 anos é que eventualmente exista mais de uma maneira, mais de uma maneira bem-sucedida de estar presente na F1".

O envolvimento da Alfa Romeo com a Sauber vem de antes do nascimento da Stellantis, formada em 2021 com a fusão da Fiat Chrysler Automobiles e o Grupo PSA.

Ele pode ter herdado o envolvimento mas Tavares, um ex-fiscal de pista no Estoril e um piloto, tem bem claro que a F1 é o lugar certo para sua marca estar. Ele cita a presença nos EUA e na China, mercados em que o esporte segue crescendo, como fatores importantes.

"Para todas as montadoras que dão o seu melhor para se tornar a melhor, o que é o caso da Stellantis, esse é obviamente o lugar para estar. Demonstrar que, no pináculo do automobilismo, geramos bons resultados".

"A Alfa Romeo já estava envolvida na F1, no que consideramos uma parceria muito positiva. E dizermos que há mais potencial para incrementar a parceria, tentando combinar duas dinâmicas muito positivas".

"Uma dinâmica positiva é a melhora nos resultados esportivos, que vocês podem ver desde o começo do ano. E a segunda é o fato de que vimos claramente uma oportunidade de aumentar os lucros da Alfa Romeo ao redor do mundo".

"A Alfa Romeo é uma de nossas três marcas premium. É a única delas presente nos três maiores mercados do mundo: América do Norte, Europa e China. Portanto, tem uma necessidade específica de aumentar sua visibilidade e opinião geral ao redor do mundo".

"E, claro, a F1 é um espetáculo perfeito para aumentar a consciência de uma marca global premium chamada Alfa Romeo. Então isso é algo que representa uma boa fundação, e decidimos que devemos construir em cima dessa fundação para melhorar a marca da Alfa Romeo pelo mundo".

"A marca já é muito forte, mas podemos crescer ainda mais e, claro, trazer negócios mais lucrativos para a Alfa Romeo".

Carlos Tavares, Stellantis CEO

Carlos Tavares, Stellantis CEO

Photo by: Alfa Romeo

A Alfa Romeo pode ser apenas uma patrocinadora máster e não dona de uma equipe, mas Tavares tem certeza de que o teto orçamentário continuará limitando os gastos dos times. Ele não quer um futuro em que a F1 seja regulada por alguma força de balanço de performance, como são as competições de carros esportivos, por exemplo.

"Acreditamos que a F1 deve ficar fora do que chamamos de BoP [balanço de performance]. E, portanto, devemos continuar o trabalho de forma rigorosa e correta no teto orçamentário, que é uma alternativa ao BoP. E como não queremos ver isso na F1, é bom seguirmos com o teto".

"Porque se trabalharmos no teto orçamentário, melhoramos o retorno de investimento que as montadoras podem ter com o esporte, devido ao impacto midiático que temos".

"E se temos um bom retorno de investimento, então é bom para o esporte, é bom para as montadoras. Então há um bom alinhamento de interesse no teto orçamentário melhorando o retorno de investimento das montadoras, a sustentabilidade do esporte e o fato de que estar na F1 faz sentido econômico". 

"Então acho que é do melhor interesse das pessoas apaixonadas pelo esporte a motor como vocês e eu proteger o fato de que podemos correr com um orçamento razoável. Porque se esse orçamento é razoável, com o bom impacto midiático que é criado, esse retorno de investimento é bom. E isso atrai montadoras".

Não surpreende que Tavares receba bem a presença de Audi e Porsche a partir de 2026, ambas são nomes que a Alfa Romeo tem interesse em competir contra. Porém, ele alerta que a chegada das marcas não pode ser uma saída para aumentar os gastos.

"Estou feliz em ver que teremos mais montadoras presentes na F1, acho isso ótimo. Desde que a presença dessas montadoras não estrague o show. E como isso aconteceria? Ao deixar que a inflação comande o show. Não é nosso interesse, nós como fãs do esporte, deixar a inflação dominar. Porque depois da inflação, vem outras coisas sem sentido e tudo explode".

"E depois que explode, será necessário reconstruir tudo. Então recebemos bem a chegada de outras montadoras porque isso é bom. Esse é o esporte, uma grande luta. Gostamos disso. Mas é importante que isso seja combinado com orçamentos razoáveis que protejam o retorno de investimento, porque é por isso que estamos aqui".

Zhou Guanyu, Alfa Romeo C42

Zhou Guanyu, Alfa Romeo C42

Photo by: Carl Bingham / Motorsport Images

"Então, se temos novatos e eles estragam o show porque estão prontos para gastar dinheiro a ponto de não fazer sentido, em alguns anos teremos problemas".

Tavares tem confiança de que os cabeças da F1 estão trabalhado nessa linha de pensamento.

"Temos uma longa história na F1 que deve ser protegida, mantendo as coisas sob um controle razoável. É por isso que não me preocupo com novas entradas. É tudo sobre como você gerencia o esporte. Mas acho que nossa compreensão atual e alinhamento filosófico com Stefano Domenicali é bem forte. E acho que ele está indo bem, fazendo o que é certo para o esporte".

Como dito no começo desta análise, saberemos em julho se a Alfa estenderá o acordo atual e por quantos anos mais. E para Tavares, é um cálculo simples.

"Desde que exista uma história positiva a ser dita sobre a melhora na performance da Alfa Romeo, eu tenho um impacto positivo de mídia, o que posso colocar na contribuição financeira à equipe. É como eu calculo isso. E desse ponto de vista, é um bom acordo".

Porém, ainda existem algumas questões no caminho. A Sauber é uma das equipes que estariam na lista da Audi e, com isso, existe uma possibilidade do time suíço não estar disponível para uma parceria com a Alfa para 2026 e além. E isso preocupa Tavares? Ele rapidamente descarta isso.

"É apenas especulação. Na indústria automotiva você quer ver minha lista de preocupações? Quantos dias temos? Não acho que seu caderno seja suficiente. Veremos...".

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