Análise: por que os difusores duplos voltaram à discussão?
Ex-presidente da FIA, Max Mosley comenta declarações feitas por Christian Horner e Adrian Newey sobre momento político na F1
A breve polêmica sobre a inovação de design que provou ser um dos componentes-chave da Brawn no ano de 2009 há muito tempo passou para a história da F1.
Mas as referências deste episódio surgiram mais uma vez, com o chefe da Red Bull, Christian Horner, e o chefe de design, Adrian Newey, fazendo comentários sobre isso espontaneamente nas últimas semanas.
Horner disse: "temos uma situação no esporte. Esqueça a Red Bull um pouco. O difusor duplo foi uma batalha entre a FOTA e a FOM. Hoje, o motor é uma ferramenta muito poderosa para quem tem o controle de F1."
Newey sugeriu que o assunto de 2009 envolvia a briga política entre o então presidente da FIA, Max Mosley, e as equipe líderes da F1, McLaren e Ferrari.
"Isso se deu porque Max Mosley na época queria dar uma lição na Ferrari e na McLaren", afirmou.
Aqui olhamos a fundo as questões e porque o caso de 2009 tem relevância para hoje.
O caso do difusor duplo
Durante a pré-temporada de 2009, três equipes - Brawn, Toyota e Williams - exploraram uma brecha nos novos regulamentos aerodinâmicos para criar o difusor duplo.
O projeto ajudou estes carros a terem downforce adicional em um momento em que as novas regras aerodinâmicas haviam sido introduzidas para diminuir a pressão aerodinâmica em 50%.
Os difusores se tornaram o grande ponto de discussão nos testes de pré-temporada, mas os três times estavam confiantes de que não estavam fazendo nada ilegal.
Isso porque, como parte das novas regras originalmente introduzidas por Mosley, eles haviam procurado a opinião de Charlie Whiting quanto ao fato de sua legalidade.
Mosley explicou o processo em sua autobiografia no ano passado: "no início do processo, convidamos as equipes para começar a enviar suas ideias mais recentes de design.”
"Charlie olharia os projetos e ofereceria um parecer sobre sua legalidade. Isso seria no entendimento claro de que ele só estaria dando uma opinião, não uma decisão final. Mas era apenas uma indicação da linha que o departamento técnico da FIA iria tomar."
Ele acrescentou: "às vezes, ele discutia algumas ideias comigo. Eu nunca deixei de ficar fascinado pela genuinidade e originalidade de alguns dos conceitos."
Whiting reiterou devidamente sua opinião de que o difusor duplo estava dentro da lei, mas isso não impediu que os rivais protestassem aos comissários na primeira corrida do ano.
No GP da Austrália, a Ferrari, a Renault e a Red Bull protestaram contra os projetos. A BMW Sauber se juntou às outras na Malásia.
Suas reivindicações foram rechaçadas pelos comissários, e, no final, o assunto passou para o Tribunal da FIA, que depois de muita controvérsia considerou que os projetos estavam em conformidade com as regras.
As rivais de Brawn, Toyota e Williams tiveram de copiar a inovação.
Por que a questão foi relembrada agora?
Pode parecer difícil de vincular os assuntos atuais com o assunto difusor duplo, mas há ligações claras entre o que está acontecendo na F1 atualmente e o que aconteceu em segundo plano depois.
Por um lado, as referências da Red Bull podem muito bem ser alimentadas refletindo sobre seus sucessivos títulos entre 2010 e 2013.
Newey admitiu que o erro da Red Bull em não ter o duplo difusor em 2009 custou caro para suas ambições de título e alimentou as bases para dar tudo nos anos seguintes.
Mas também há algumas semelhanças políticas.
Como agora - onde os fabricantes Mercedes e Ferrari estão contra Bernie Ecclestone e Jean Todt - houve uma grande batalha pelo controle do esporte em 2009.
Mosley havia passado pela polêmica do “spygate” em 2007 e foi motivado pela necessidade de economizar custos para ir contra as fabricantes, que se juntaram para formar a Associação de Equipes de Fórmula 1 (FOTA).
Mas, enquanto o clima em 2009 girava em torno de custos e ameaças de separação, a situação agora envolve as unidades de potência e a necessidade de parar com o colapso da F1.
As fabricantes da F1 foram convidadas a pensar em soluções para resolver a crise dos motores até 15 de janeiro, caso contrário Todt e Bernie Ecclestone podem optar por dar seguimento a um mandato que lhes foi dado pela FIA para analisar alterações em processos e regras do esporte.
Se não estiverem felizes, a opção de um motor independente para 2017 – que a Red Bull espera obter – pode se tornar real.
O campo de batalha ao longo das próximas semanas será em como as agendas de Todt, Ecclestone e das equipes de ponta se alinham, com regras de motores sendo o centro da luta, tal como o difusor duplo em 2009.
Todt e Ecclestone deixam claro que são contra a F1 ser comandada por duas montadoras.
Influência de Mosley
Sendo o difusor duplo puramente uma vingança de Mosley, isso significaria que ele tinha controle direto sobre Whiting, os comissários de corrida na Austrália e na Malásia e todos os juízes do tribunal.
As acusações de que Mosley teria influenciado tais processos judiciais não são novidade, mas o ex-presidente da FIA sempre insistiu em que os controles foram criados para garantir que isso não pudesse acontecer.
De fato, em uma carta que ele enviou à FIA em meio à separação da FOTA em 2009, Mosley disse que foi contra o fato de um fabricante ter tido a última palavra no desfecho do caso do difusor duplo.
Na carta, ele dizia: "nós ouvimos muito a FOTA sobre um tribunal independente de recurso. No entanto, durante a polêmica do difusor duplo, uma equipe fabricante repetidamente me pressionou (indevidamente) para intervir no Tribunal de Apelação da FIA e ter o difusor duplo declarado ilegal.”
"O Tribunal da FIA nunca ouviria tal abordagem, mas isso mostra que para a equipe em questão que ela não está independente das outras, podendo influenciar o controle de interesses particulares."
Independência
Mosley há muito tempo deixou claro que um de seus grandes aborrecimentos foi ser regularmente acusado de ter influência sobre os processos judiciais da FIA.
Em sua autobiografia, Mosley falou sobre o Tribunal de Apelação Internacional: "os juízes foram todos eleitos pelas organizações da FIA e eram o tipo de pessoas que teria se sentido ofendidas se eu ou alguém da administração em contato com ele sugerissem o que eles devessem decidir.”
"Qualquer pessoa com conhecimento do Reino Unido, por exemplo, saberia que a ideia de sugerir para os juízes britânicos o que eles devem decidir não é nada menos do que um absurdo. Dado todo esse esforço, foi decepcionante pensar que o tribunal não era totalmente independente."
Essas palavras soam verdadeiras hoje.
Resposta de Mosley
Mosley manteve um olhar atento sobre eventos atuais da F1, tendo estado ao lado de Ecclestone no final do ano passado para uma entrevista em vídeo discutindo o futuro do esporte. Por isso, está bem posicionado para comentar sobre potenciais semelhanças entre o caso do difusor duplo e o que está acontecendo agora.
Ele está convencido de uma coisa: que não houve motivação em usar o caso difusor para ganho político.
Antes de 15 de janeiro, prazo para apresentação das propostas dos fabricantes, ele também nos oferece uma visão tipicamente oportuna.
"A verdade da questão é que eu não tinha conhecimento do difusor duplo até que a Ferrari começou a reclamar que Brawn, Williams e Toyota tinham feito isso em seus carros", disse ele nesta semana.
"Eu vi os protestos com interesse, mas nunca houve qualquer questão para intervir. Adrian Newey ter sugerido que usei isso como uma espécie de arma contra Ferrari e McLaren é simplesmente errado. Ele deveria ter lido meu livro.”
"Na verdade, a FIA foi preparada para agir de forma ilegítima. Poderíamos ter destruído a FOTA no início de 2009, proibindo o difusor duplo em troca de fazer a Ferrari abandonar as outras equipes - o oposto exato da teoria de Adrian."
Mosley também tem uma opinião interessante sobre o caminho que a F1 deve tomar em 15 de janeiro.
"O problema atual gira em torno de custos de motores", explicou. "A solução seriam regras que permitissem apenas dois motores por carro por temporada.”
"Isso faria simultaneamente reduzirmos pela metade os custos com o fornecimento. Os motores de hoje exigiriam apenas um pequeno ajuste para conseguir isso.”
"Os fornecedores de motores iriam imediatamente dizer que isso seria impossível e seria um desastre, mas na história da F1 nunca houve um caso em que tais previsões se revelassem tão precisas."
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